Eles dizem que o não é a resposta para as tentações, mas quando aqueles demônios vêm correndo, não há para onde fugir. — James Arthur (Fall).
E lá estava eu, sendo agraciado pelo sorriso emocionado de dona Mariana e sentindo mais uma vez o aroma e o clima do lugar que, há muito tempo, havia deixado de ser a minha casa. A raiva se dissipou por um momento, um instante, e tudo o que fiz depois de ter enfrentado uma viagem de avião e mais uma de trem, ainda na estação, foi erguer minha mãe no ar e rodá-la, extasiado por revê-la. Seus cabelos dourados brilhavam de acordo com a luz do sol e ela parecia ainda mais iluminada que antes.
A verdade era que eu me sentia culpado por ser tão fraco e ter me afastado. E o pior era saber que, apesar de anos terem se passado, eu não havia superado completamente. Aquilo tinha me marcado a ponto de, desde então, eu ter me tornado aquela tragédia. Eu ainda respirava a saudade e o rancor daquela fatalidade.
— Eu sei, meu filho, o quanto você sofreu — ela começou assim que saí do banho, pois já havíamos chegado em casa há meia hora —, mas você esteve fugindo esse tempo todo, e isso não te faz bem. Não faz! — apesar da fala da minha mãe ser sempre firme, dessa vez aparentava uma fragilidade surpreendente — Aqui você poderá enfrentar tudo, mesmo que machuque, revire o passado e remexa nas cicatrizes. Mas é preciso para que você siga em frente de verdade— ela deu ênfase em sua última palavra.
O silêncio se instaurou no ambiente. Não queria iludi-la de que, talvez, houvesse conserto para mim. Não era que eu não quisesse simplesmente seguir em frente, mas eu era suficientemente fraco e incompetente para lidar com a frustração e a perda de algo que eu sequer tive.
— Quando minhas aulas irão começar? — perguntei no intuito de deslocar a conversa para um assunto mais confortável para nós dois.
— Essa semana ainda. — Mariana seguiu até mim e beijou minha testa. — Seja bem-vindo de novo, meu filho, a seu lar. Agora eu preciso me arrumar, porque hoje ainda tenho plantão.
E então, cinco minutos depois, minha mãe já estava se despedindo de mim para mais um dia de trabalho. Ela era enfermeira. Enquanto se afastava, deixou-me ali, encarando as paredes que permaneciam as mesmas de quando eu fui feliz naquele lugar, verdes e desgastadas.
A mesa de centro da sala de vidro ainda possuía uma pequena rachadura, de quando ainda era criança, quando caí de cabeça nela devido a minha agitação e mania de correr por todo canto. Na porta do meu quarto havia algumas marcas de caneta vermelha, pois era ali que meus pais mediam o meu crescimento. No quarto da minha mãe, preso na tomada, havia um pequeno objeto em formato de lua, que servia como luminária. Era meu, pois em meus quatro anos, tinha medo de dormir na completa escuridão.
Tudo parecia incrivelmente igual a antes, mas eu não era mais o mesmo, e imaginava que nunca mais seria também.
Sete dias depois, quem estava saindo de casa era eu, para o meu primeiro dia de aula na única universidade da cidade. Era perto da minha casa, por isso, fui andando. A surpresa do destino, ou ironia, foi encontrar alguém que precisou da minha ajuda. Eu normalmente não iria fingir ser atencioso, no entanto, a garota parecia tão azarada que um pouco de dó surgiu em mim.
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Segunda Chance
RomanceAntônia nutre por Bruno, desde que se conhece por gente, uma estranha paixão. Só que ele nunca a percebeu e conta também com um péssimo histórico, conhecido apenas como um destruidor de corações. Bruno e Eduardo eram melhores amigos, no entanto, se...