Para ser honesta, eu daria tudo novamente, por uma chance de recomeçar, e reescrever um final ou dois para a menina que eu conhecia. — Sara Bareilles (She Used Be Mine).
A garçonete simplesmente sorriu sem se importar com minha expressão de surpresa. O que, de algum jeito, me deixou ainda mais encabulada sobre o que acontecia ao meu redor.
— Alguém me mandou te entregar, talvez devesse aceitar — aconselhou-me. Em seguida, deu uma piscadela e saiu para atender um casal de clientes.
Eu fiquei, durante eternos segundos, fitando o copo sobre a mesa, com a testa enrugada diante do meu assombro. Agoniada, Bianca sugeriu:
— É o seu preferido, Tônia. Acho que deveria aceitar, tenho certeza que o suco nem chegou nas mãos do sujeito. Então, obviamente, não está envenenado. Se não quiser, eu quero!
— Isso... Isso — introduzi, ainda absorvendo a situação. — É estranho. Mas eu vou tomar. O que não mata engorda, não é? — concluí, tentando afastar da minha mente diversas possibilidades. Não queria me iludir. Tinha que supor que, de qualquer forma, qualquer um sabia da minha predileção por esse sabor. E que, no máximo, era alguém tentando ser gentil.
Ainda há gentileza no mundo, não é?
Ao longo dos minutos, meu corpo relaxou por conta das conversas tranquilas que eu tinha com Bianca. Eram assuntos bobos, aleatórios, como a beleza do novo professor de bioquímica, mas que faziam muita falta. Apenas curtir o momento com alguém especial. Uma irmã.
Saímos do barzinho juntas, mas nos despedimos na esquina da avenida, pois o caminho da minha casa era contrário do dela. Não me importei em ter pressa, até porque não havia mais atrativos que me forçassem a voltar.
Pus meus fones de ouvido, escutando músicas aleatórias, à medida que eu respirava o ar puro e pensava em coisas sem importância. Como o belo sorriso de uma mulher empurrando um carrinho de bebê do outro lado da rua, o novo corte de cabelo da minha mãe e o fato de uma garotinha de cabelos cacheados e olhos amendoados, muito fofa, cruzar o meu caminho.
Ela trazia consigo um buquê de flores lilases, circundado por uma fita de cetim delicada. Eu sorri, mesmo consciente de que era apenas uma coincidência um pouco cruel do destino. No entanto, quanto mais eu insistia em desviar minha atenção, mais a menina sorria para mim. Ela vinha em minha direção, e por alguma razão desconhecida, meus pés estagnaram.
Lilás não era qualquer flor. Então, de certo, isso me instigou a deduzir o que já deveria estar claro. Mas eu ainda custava a acreditar, porque, quando se tem costume de viver no azar, é difícil reconhecer a sorte.
A garota se aproximou de meu corpo, e sem retirar o sorriso doce da face, revelou:
— Alguém me pediu para te entregar, moça bonita.
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Segunda Chance
RomanceAntônia nutre por Bruno, desde que se conhece por gente, uma estranha paixão. Só que ele nunca a percebeu e conta também com um péssimo histórico, conhecido apenas como um destruidor de corações. Bruno e Eduardo eram melhores amigos, no entanto, se...