EPÍLOGO

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   E o amor é tudo o que preciso, e eu achei isso em seu coração. Não é tão difícil de enxergar, estamos no paraíso. — Bryan Adams (Heaven). 


NARRADOR DESCONHECIDO: 

      Ao longe, entre camadas de um extenso jardim e de um riacho, cujas águas límpidas serpenteavam algumas pedras sobre montanhas e planícies, era possível visualizar a silhueta de duas pessoas. Elas estavam lado a lado, como em um quadro que cintila milhões de cores distintas e dispersas. A sensação que transmitiam era terna e genuína, quase como escutar o barulho do oceano e sentir leves cócegas quando as águas do mar alcançam pés descalços.

      Tratava-se uma figura masculina, alta,  que contornava seu braço ao redor da cintura de uma mulher mais baixa. Os cabelos dela, escuros e ondulados, esvoaçavam em contraste ao azul celeste do horizonte, em razão da pequena e constante ventania. Seu vestido solto e reluzente também flutuava. 

      As mãos do rapaz subiram pelos braços da garota, e seus lábios, ansiosos, beijaram o topo de sua cabeça, como se a estivesse esperando por toda uma vida. À medida que o olhar dela subia para encará-lo, seu peito parecia se agitar como nunca antes, pois finalmente se sentia em paz e feliz por notar que estava errada.

       Afinal, a parte impossível de ser preenchida novamente, aos poucos, estava sendo.

       — Quero que leia uma carta que fiz para você há muitos anos. — ela pediu, entregando-lhe uma folha simples. Algo que escreveu logo após a notícia, ainda sentada numa cadeira de plástico, na lanchonete do hospital. 

       '' Caro garoto dos olhos verdes,

        Neste momento, imagino o seu abraço. Eu me perco em seus lábios imaginários e quase posso senti-los roçando os meus. Se eu abrir meus olhos, é possível que, em minha vertigem, eu encontre o seu sorriso provocador e seus olhos profundos me encarando.

       Por que não posso te escutar me chamando de garota da blusa manchada mais uma vez? Por que, enquanto escrevo, você não vem por de trás de mim, assustando-me e, em consequência, me faz te bater? Por quê? Talvez agora a minha vida saía das certezas e se torne perguntas incessantes que, provavelmente, jamais serão respondidas.

      Recordo-me de sempre chamá-lo de lar. Você era a minha casa, mas, agora, eu estou sem moradia. A verdade é que, mesmo sendo loucura, eu ainda acredito que você está aqui. Talvez nos pequenos detalhes. Nas cores alegres do arco-íris após uma noite intensa de tempestade, como quando nos envolvemos entre tecidos brancos e o relinchar dos cavalos expôs que você era especial. No pequeno barulho de quando pego uma pedrinha na rua e arremesso, sem direção ou pretensões, para algum lugar perdido no asfalto, como quando você fez para me chamar pela janela do meu antigo quarto.

       Não consigo evitar de ainda continuar te procurando e esperando, ansiosa, que você surja magicamente em minha frente e segure minha mão, ajudando-me em meu equilíbrio enquanto me arrisco a andar na borda da calçada. Eu ouço até o som da sua gargalhada quando, sem querer, caio. Mas você sempre me segura em seus braços, impedindo minha queda.

       Mas aprendi com você, também, que a vida pode ser bonita e boa mesmo na adversidade. E que, mesmo quando nos sentimos quebrados e insuficientes, podemos transbordar amor. A dor se transforma em saudade, e a saudade se transforma em memórias felizes. As memórias felizes, então, se tornam parte de nós. E isso significa que eu me tornei um pouco de você e, para ser sincera, essa parte sempre será a minha preferida, porque é a promessa que estará entrelaçado a mim até que a minha alma evapore e vire cinzas.

        Há infinitas possibilidades de amarmos, e mesmo que o futuro seja incerto, o meu amor por você foi único. É algo incapaz de ser reproduzido ou repetido. Se em algum dia alguém decidir nos transformar em páginas de livros ou cenas de um filme despretensioso, eu terei sido o seu começo, meio e seu fim. E eu sou, ontem, hoje e para sempre, eternamente grata por isso.

         Obrigada, e de todo coração,

         Sua eterna garota da blusa manchada''

        Ele sorriu ao finalizar a leitura e a beijou, insaciável. 

        Era difícil definir o lugar em que estavam, principalmente se tratando de algo tão utópico dos territórios vistos habitualmente. Mas, o que importava de verdade, é que estavam juntos novamente. E nunca mais se separariam. 

          E isso bastava.

         Sempre bastou para os dois.


F I M 

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora