4 ▹ DE VOLTA À CIDADE NATAL

655 116 1K
                                    


Todas as memórias me assombram, e eu me recuso a deixar você ir. Eu tenho dançado com o seu fantasma. — Sasha Sloan (Dancing With Your Ghost).

     Eu já rodei o mundo e pude vivenciar o que há de pior no ser humano

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

     Eu já rodei o mundo e pude vivenciar o que há de pior no ser humano. Assim que completei os dezoito anos,  me infiltrei nas diferentes culturas, nos diferentes modos de vida, e só compreendi ainda mais o que eu já começara a afirmar. Nada é justo. Nada é puro. Nada é gentil. Até mesmo nas ações mais delicadas há motivos ocultos, há subterfúgios maquiavélicos que você sequer pode prever.

       Porque sua mente é muito inocente para supor. Porque você quer acreditar na bondade humana. Porque é preciso ter esperança para acreditar num futuro melhor. Para acreditar que vale a pena ter vida.

       Mas até que realmente vale a pena, sim, quando é possível se silenciar e se calar para a realidade. Quando, na verdade, você se limita a seu próprio umbigo e considera apenas seu próprio bem-estar.

       Veja bem, não estou julgando esse tipo de pessoa. Eu fui assim por muito tempo. Eu me preocupei com o meu próprio mundo e vivi nele intenso e cegamente por um longo período. Mas, no final, você sempre acorda. Por bem e por mal.

      Infelizmente, no meu caso, foi a segunda opção.

      E bastou para eu viver assim, era suficiente. Já havia um bom tempo que não ligava para a opinião alheia. 

       Mas aquela tarde foi diferente das outras. Primeiro, porque meu pai estava em casa. Segundo, porque ele pediu que eu me retirasse de perto quando seu telefone tocou – considerando que não poderia haver nada de novidade além de seus negócios. Terceiro, porque eu escutei o som da voz da minha mãe na função de viva voz de seu celular assim que fechei a porta de seu quarto.

       Desde que eles se divorciaram, nunca haviam trocado uma palavra.

       E não era sobre saudade de relacionamento o assunto. Era sobre mim. O único filho do casal.

        — Acho difícil ele querer voltar para aí depois de tudo o que aconteceu, Mariana — meu pai avisava a ela. Sua voz era impassível como sempre. 

         Ele havia nos deixado e ido para Londres quando eu tinha quatorze anos.

          Depois de tudo o que aconteceu, eu decidi ir morar com ele assim que completei a maior idade no Brasil.

           — Já estou há cinco anos longe dele. Preciso vê-lo, Edgar. Sou a mãe dele e quero tê-lo por perto, aqui, nem que seja por pouco tempo. Você não pode tirá-lo de mim para sempre. Já se passaram muitos anos desde o que aconteceu. Ele já deve ter superado — minha mãe estava calma, mas a firmeza no seu jeito de falar demonstrava que ela jamais aceitaria receber um não como resposta.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora