Eu sei que você estará partindo quando acordar de manhã, me deixe com algum tipo de prova de que isso não é um sonho. — Paramore (The Only Excepcion).
Eu dizia para todos que eu estava bem, porque falar sobre como me sentia não ia mudar o fato de que eu não estava.
Às vezes meus amigos me obrigavam a acompanhá-los em lugares como o boliche e o shopping popular, de onde saíamos cheio de bugigangas e turbantes coloridos. Tomávamos sorvete com mais frequência e ríamos das palhaçadas do Gabs. E eu me esforçava para agradá-los, para mostrar que estava tudo bem e que, aos poucos, eu melhorava e que tudo não havia passado de uma paixonite boba.
Mas era só entrar no meu quarto, e finalmente sozinha, permitir que as lágrimas levassem embora um pouco da saudade que me abastecia.
Eduardo não havia sido a minha ponte. Ele havia sido meu ponto de chegada.
Eu sabia que deveria acordar novamente, sair da monotonia, só que eu não conseguia. Embora devesse esquecê-lo, eu não queria. Recordava-me de quando andávamos em silêncio e ele pegava a mão, só para ter certeza que eu estava ali. Com ele. Ninguém mais. À medida que o tempo passava, notava que tinha um pouco dele em toda parte, mesmo que tentasse fingir que não.
A cada nova situação, mesmo em instantes avulsos, como quando lavava a louça ou estava fazendo uma prova importante, vibrava em minha mente o som da voz de Eduardo. Outras vezes, somente seus olhos verdes vinham como lapsos, e eu me perdia da realidade por fração de segundos. Mas aí alguém estalava os dedos a minha frente e, sem graça, eu dizia que apenas me distraí.
Teve um dia em que, azarada, acabei entornando café da minha roupa e a manchando. Minha mãe estranhou quando sorri, sendo que a quentura do líquido deveria me incomodar. Como ela podia saber que um simples ato poderia me afundar em lembranças? Então eu subi e encontrei a camisa que ele havia me emprestado, e a vesti.
No começo foi mais difícil controlar a vontade de ligar ou enviar uma mensagem. Porém, com um esforço sobre-humano, consegui. Não era orgulho ou coisa parecida, só não queria mesmo impedi-lo de viver sua vida. Talvez Edu já tivesse esquecido ou, quem sabe, superado. Eu desejava que sim. Ao menos alguém tinha que se sair bem dessa história.
As fotografias encontradas no escritório do Dr. Marcos permaneciam comigo. De vez em quando, eu as retirava da gaveta e só as observava, geralmente à noite, enquanto as luzes das casas vizinhas traziam ao meu quarto uma aura iluminada. Notava o sorriso feliz que aparecia em meus lábios, bem como o semblante contente de Eduardo. Nas fotos parecíamos sempre serenos e tranquilos, como se nada no mundo pudesse nos abalar.
O que me doía não era simplesmente perdê-lo, e sim não ter tido a chance de lhe dizer como eu me sentia diante disso.
Um ano depois de tudo o que havia acontecido, minha mãe, cansada de me ver abatida sem razão, decidiu que estava na hora de eu voltar ao psicólogo.
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Segunda Chance
RomanceAntônia nutre por Bruno, desde que se conhece por gente, uma estranha paixão. Só que ele nunca a percebeu e conta também com um péssimo histórico, conhecido apenas como um destruidor de corações. Bruno e Eduardo eram melhores amigos, no entanto, se...