Dia 15 - E soltam-se as vozes

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25 de outubro

Querido Diário,

Era para eu ter escrito ontem depois do simulado, porém, entretanto, todavia e em suma, eu estava cansado, triste e com raiva, então esperei os sentimentos passarem. Vamos aos fatos, do dia 17 ao 23? Nada interessante, a não ser que queiram que eu recite as 25 maneiras de sorrir para uma duquesa ou um duque. Enfim... vamos começar por ontem de manhã...

― Hoje é o dia do simulado, hoje é o dia do simulado, ai meu Deus, ai meu Deus...

― Kyle eu vou ficar mais nervoso se você continuar falando sem parar. ― digo respirando fundo e tirando a gravata do meu pescoço, porque hoje eu tô vendo que isso vai me deixar com mais agonia do que eu imagino.

Kyle para de andar de um lado para o outro no quarto e se senta na cama dele.

― Eu tô com medo de ir muito mal, Bran. ― ele diz num jeitinho tão triste.

― Oh meu Deus, Kyle... ― digo me virando e encarando ele frente a frente, ao invés de pelo espelho. ― Pensa positivo assim como eu. Nós estudamos juntos, a Delancy é uma gênia e também nos ajudou. Pensa que vai dar tudo certo. Posso ouvir um “amém” aí?

Ele sorri e diz:

― Amém.

No café da manhã sentamos em frente a Delancy que está com o croissant perto, mas não deu nenhuma mordida. Ela está encarando papeis pequenos cor de rosa, onde tem várias anotações.

― Delancy está tudo bem? ― pergunta Kyle.

― Eu odeio essas figuras de linguagens. ― diz ela olhando para gente, vemos umas pequenas olheiras. Meu Deus. ― Mano, porque são 35 figuras de linguagem?!

Sorrio, mas tô fodido igual. Mais uma vez, chocando um total de zero pessoas, Zachary se senta com o time de basquete. Ele ri bastante, e sei lá, parece que a risada dele ganha uma potência gigante pelo refeitório. Quando está perto do horário, nos levantamos em silêncio, como se soubéssemos que íamos nos dar mal e vamos para a sala de aula Nº 001.

O simulado não é aplicado pelos professores, e sim pelos secretários. Hoje, é uma mulher magra, alta e de cabelos grisalhos, ela usa ternos e óculos com correntinha de bolinhas rosadas pelo pescoço. Ela se apresenta como Sra. Smythe e entrega para todo mundo um bloco de 15 páginas e pede para virarmos quanto ela autorizar. Já sinto o frio na minha barriga quando ela coloca o macete em cima da minha carteira.

― Desculpa o atraso... ― Zach e o amigo dele chegam atrasados e a Sra. Smythe diz:

― Como é a primeira vez de vocês comigo, eu vou deixar, mas na próxima vez, será direto para a sala da LeGrand e sem segunda chance nesse simulado.

Eles pedem desculpas e me surpreendo com Zach sentando atrás de mim. Não falo nada e ele também não fala. Não estamos nos falando muito, mesmo que ele tenha reagido ao meme do TikTok que eu postei. Depois de entregar todos os macetes, a Sra. Smythe para em frente a turma e sorri puxando um apito metálico de dentro da blusinha florida. Ela apita com força, assustando algumas pessoas e sorri dizendo:

― Que os jogos comecem, meus jovens. Podem virar as provas.

E todos os viramos e choro do começo ao final. No meio da prova enquanto estou vendo a figura de linguagem estampada na minha cara sinto um cutucão disfarçado nas minhas costas. Paraliso na hora, sei que é Zach ― porque né, obviamente é ele, porque ele está sentado atrás de mim.

― Qual a resposta da 36? ― ele sussurra muito baixo.

Ergo meu olhar e vejo a Sra. Smythe tricotando na cadeira do professor. Nesse momento parece que ar nenhum entra pelo meu pulmão. Viro um pouco minha cabeça e sussurro a resposta.

Diário de um jovem (príncipe) gay - 01 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora