Dia 23 - Que palhaçada é essa?

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20 de novembro

Querido Diário,

Talvez eu tenha subestimado demais os meus digníssimos colegas. Eu já senti a diferença na segunda-feira de manhã quando me levantei da cama cedo e fui tomar um banho frio. Na sala de banhos os poucos que estavam se arrumando para o primeiro dia na semana do segundo simulado se calaram assim que entrei, e ficou evidente que ou eu era o assunto, ou estava envolvido nele. Em suma, eles falavam de mim. Agi naturalmente, não encarei ninguém e só entrei no box. E assim que fechei a tranca, os sussurros explodiram do outro lado.

Depois, no refeitório, caminhei em direção a mesa onde Petra e Delancy estavam. Kyle ao meu lado também notou os olhares em nós. Parecia que eu estava pelado ou de qualquer outra forma que chamasse a atenção deles. Me sentei na mesa suspirando. Não queria uma atenção dessa se eu não soubesse realmente da onde vem. Não vou fingir de bobo, sei que tem a ver com o estopim na festa de Lorien na madrugada de sábado para domingo. O show de Daphné e eu deve ser a notícia mais quente desde que tudo foi adiado por conta da Rebelião.

― Parece que você fez história. ― comenta Delancy enquanto sentamos.

― Não queria ter feito história, não dessa maneira. ― respondo.

Delancy concorda comigo, me entende.

― O que está acontecendo? ― pergunta Kyle. ― Tipo... eles estão encarando o Bran por conta da briga na festa?

― Parece que sim. ― diz Delancy e nesse momento outro silêncio fica no local, me viro para olhar para a entrada e vejo Daphné entrando no refeitório. Ela está usando um óculos escuro e caminha devagar ao lado de Beatrice que tem o braço envolvido nela. ― Se eu não tivesse ido na festa acreditaria que ela apanhou de alguém...

Merda... encolho um pouco na cadeira e vejo alguns colegas indo na mesa de Daphné e sendo empáticos com ela e ela sorri dizendo que está tudo bem.

― Gente, que palhaçada é essa? ― pergunta Delancy. ― A bebida estava estragada que eles não lembram o que aconteceu?

― Talarico! ― eu nem sei quem era o cidadão, mas o chá frio escorre do meu cabelo pelo meu uniforme.

No mesmo instante o silêncio fúnebre fica.

― Ei, seu idiota, porque fez isso? ― pergunta Petra em pé enquanto Delancy e Kyle me ajudam com guardanapos.

Olho para trás e lembro desse rapaz no teste do lacrosse, ele já fazia parte do time, o que significa que deve ser do segundo ou terceiro ano. Ele ri e vai se afastando.

― Panaca! ― grita Petra bufando e se sentando na cadeira de volta.

― Eu... eu vou me trocar... ― digo ficando de pé.

― Quer falar com a LeGrand? ― pergunta Kyle.

― E contar da festa ilegal e de como tudo começou e estragar a barra do Lorien? ― pergunto. ― Acho melhor deixar em paz... eles vão esquecer.

Dou um leve sorriso, arrasto minha cadeira pegando uma maçã em cima da mesa, porque sei que não vai dar tempo de voltar aqui e caminho para fora do refeitório sem olhar para qualquer rosto que esteja me encarando dentro desse refeitório. Tem mais coisa que eu devo me preocupar além desses olhares. O simulado. Quando paro em frente ao quarto 4A, vejo uma folha sulfite pregada na porta com grampo e digitado a palavra “Branstardo”. Porque eles estão distorcendo a história num nível horrível? Arranco a folha a amassando e entro no quarto para me trocar. Que se fodam ele. Vou focar no meu estudo. É isso.

Quando abro a porta da sala, atrasado, a Sra. Waterston me olha feio enquanto peço desculpas e me sento no meu lugar. Olho para frente, mesmo que eu sinta meus amigos querendo contato visual para perguntarem se eu estou bem. A aula parece demorar uma eternidade para passar. E assim que acaba, eu e meus amigos saímos juntos da sala e um Lorien com olheiras espera na porta da sala.

Diário de um jovem (príncipe) gay - 01 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora