Dia 12 - O não jogo de Kyle

2.7K 372 258
                                    

5 de outubro

Querido Diário,

Não aguentei disfarçar o meu coração (levemente) partido e fui ladeira abaixo... quase não conversava e não queria tanto convívio social. Eu me sentia um lixo, completamente. Então, ontem à noite, depois de dois dias em silêncio, em nosso quarto, enquanto Kyle fazia a tarefa e eu escutava música no fone de ouvido. Tirei os fones, e ainda encarando o teto, disse:

― Kyle?

Uns segundos.

― Hum?

― Eu... ― me viro e olho para ele, Kyle me encara de volta da sua cama.

― O que foi? ― pergunta ele.

― Eu fiz merda esses dias. ― digo.

― Como assim? É natural, você sa...

― Não é esse tipo de merda, Kyle. ― digo rindo fraco e ele sorri aliviado, aonde ele achava que essa conversa chegaria?

― Então, foi qual tipo de merda? ― pergunta ele.

E eu conto da caminhada noturna que tive com Zach, do beijo que eu roubei e da reação dele e de tudo o que ele me disse em seguida. No final, Kyle se levanta da cama dele.

― Oh, Bran... porque você não contou para mim antes? ― diz ele se sentando na minha cama e me envolvendo em um abraço.

O abraço de volta, e quando vejo já estou chorando em seus ombros.

― Eu estou aqui, Brandon, você sabe disso, não é? ― pergunta ele e eu apenas concordo, porque eu sei se abrir a minha boca para dizer qualquer coisa, minha voz vai ser quebrada. ― Eu... não sei muito bem sobre essas coisas, mas... saiba que se não deu certo, é porque não era o momento, sabe? Ele não era o seu príncipe ou algo parecido, entende? E esse negócio de príncipe ou princesa, ou seja lá o que for, não existe. Você vai encontrar a pessoa certa no momento certo. Está me ouvindo?

― Uhum. ― murmuro.

E ele me deixa chorar mais um pouco em seu ombro. Nessa noite eu sonho com os meus pais... não lembro sobre o que era o sonho, mas lembro dos rostos da minha mãe e do meu pai. Na manhã seguinte acordo cedo e tomo um banho frio demorado. Me arrumo e caminho até a porta do quarto de Zachary e assim que abre ele se assusta ao me ver.

― Bran?! ― ele sorri nervoso. ― Está tudo bem?

― Sim. ― digo, mas sai muito baixo e até eu duvido da minha resposta. ― Eu queria... conversar com você.

― Eu estava indo tomar um banho, mas... eu tenho um tempinho sim. ― diz ele. ― Sobre o que você quer conversar?

― Sobre o nosso beijo... ou sobre o beijo que eu te dei, tanto faz. ― respondo, e as palavras saem uma atropelando a outra.

― Estou ouvindo. ― diz ele.

Olho para o corredor vazio.

― Podemos nos sentar primeiro? ― pergunto e logo estamos nos sentando em um banco do corredor. Ele me olha, parece querer me ouvir mesmo, então não perco tempo e já vou logo dizendo as coisas, porque se eu enrolar vou acabar nem dizendo o que eu planejei. Spoiler: eu me embananei. ― Eu queria... quero... hã... pedir desculpas sobre o beijo que eu roubei... acontece que... hã... eu não estou... ― respiro fundo e começo de novo, porque é bem melhor assim. ― Zachary, ― digo seu nome inteiro ― eu sei que entendi tudo errado. Confundi sua boa amizade com algo a mais e eu não quero estragar isso sabe? Mesmo que achasse que fosse algo a mais, agora eu percebo que se eu não pedir desculpas vou estar perdendo esse ótimo amigo e cara genial que você é. E eu não quero isso. Desculpa ter confundido tudo, desculpa ter te beijado daquela forma, desculpa por ter te dado um gelo de mais de um dia. Desculpa.

Diário de um jovem (príncipe) gay - 01 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora