Dia 32 - (BÔNUS) Isso não me faz bem

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06/12, madrugada

Diário,

O plano de Bran contra Daphné deu errado e o meu plano de ter visto o plano também deu errado, tudo porque Peter Dalmechior me tirou da festa antes que os acontecimentos se desenrolassem.

“Vai me deixar sozinho?” perguntei assim que Petra e Lorien haviam ido implantar o laxante para Daphné beber, e Delancy havia já iniciado a missão infiltrar, “E se o Peter vier?”

“Ele nem vai saber quem é...” começa Bran, mas é tarde demais.

“Kyle?” Peter se aproxima pelo nosso lado, usa uma máscara que lembra muito o estilo de mosaico de um caleidoscópio que no final forma a figura de um urso.

“Como você...?” começo, mas paro balançando a cabeça, não importa, “Esquece. O que você quer?”

“Podemos conversar?” pergunta ele e sua voz sai... de uma forma que não consigo identificar.

Antes que tenha chance de responder, Bran se mete entre nós dois e olha na direção de Peter, dizendo:

“Com licença... Peter... você só vai poder conversar com o meu amigo quando resolver o problema de nome ‘Lavinia’, tudo bem?”

“Eu... eu já resolvi” Peter responde de uma maneira um tanto triste.

“Oh... já?” Bran pergunta em um choque parecido com o meu, “Bem... hum... vou atrás de refrigerante. Qualquer coisa soca ele e me grita, Kyle.”

Balanço a cabeça concordando e Bran se afasta em direção a mesa de bebidas. Olho para Peter.

“Então?” pergunto, vou ser forte e não vou chorar na frente dele.

“Podemos conversar em um lugar mais reservado?” pergunta ele olhando ao redor.

Suspiro e concordo. Ele me leva para fora do salão de festas. Algumas pessoas nos olham, mas apenas sigo Peter para longe do barulho da festa.

“Onde nós vamos?” pergunto, talvez eu ainda consiga ver o plano de Bran em ação.

“Para a quadra” diz ele, “Ninguém vai estar lá.”

O sigo em silêncio e lembro do treinamento básico de defesa pessoal que aprendi em casa antes de vir para a Academia alguns meses... nossa... parece que fazem séculos que eu saí de casa. Não demoramos para chegar no ginásio, ele está vazio - obviamente -, a luz azulada da lua entra pelas vidraças que ficam perto do teto e dá uma atmosfera fria para o local. Peter para e se senta em uma parte da arquibancada e me olha. Com a mão ele bate no lugar na frente dele.

Engulo em seco e me aproximo me sentando onde ele indicou.

“Você queria conversar” lembro, “Então... qual o assunto?”

Ele suspira.

“Eu tenho um monte pra te falar”, o observo enquanto ele fala... ele apoia a cabeça nas mãos e depois ergue o olhar, me olha fundo nos olhos e diz: “Eu só posso começar pedindo desculpas, Kyle... eu... eu não queria estragar os momentos que a gente tinha com...”

“Com o fato de você ter uma namorada em tratamento?” pergunto usando o máximo de ironia na minha fala.

“Ex” ele diz e minha cara de quem estava com todas as cartas em cima do jogo se quebra. Ex? Ok, ok... não é tão difícil de entender. “Er...” ele continua, “Eu já ia terminar com a Lavinia ano passado, mas quando voltamos do recesso de fim de ano, ela não esperou a conversa que eu tinha pedido e chegou contando que ia se afastar para o tratamento da doença dela, eu... eu não sou desse tipo de homem que termina com alguém enfermo. Eu nem sabia se a Lavinia iria sair viva das sessões de quimioterapia... eu não ia fazer ela sofrer mais ainda do que já estava sofrendo no hospital em Petrovich.”

Ele suspira e balança a cabeça, continua:

“Mas ela se curou... e eu nem sabia, porque ela estava me mandando poucas mensagens em tantos meses... eu até achava que era a mãe dela que pegava o celular e me respondia algumas vezes..., mas eu dei o ponto final, Kyle... dei porque eu sinto que não era aquela a história que eu queria traçar. A minha história Kyle... é com você... é com você que eu quero ter os momentos que ficarão na minha memória pelo resto da minha vida. Você já é meu primeiro e último pensamento do dia e ficar longe de você... isso não me faz bem.”

“Peter...” engulo em seco, “Você sabe o peso de todas essas palavras que você está dizendo?”

“Eu sei... elas ficam martelando dentro de mim o dia inteiro, Kyle... eu quero te amar... eu quero que você me deixe te amar!”

Sinto meus olhos marejando. Droga, eu tinha falado que não ia chorar na frente dele.

“Se você me der mais uma chance, Kyle... é tudo que eu te peço, e amanhã de manhã eu estarei pelos quatro cantos daquela Academia gritando o quanto eu gosto de você, porra!” ele sorri e vejo que ele também está com os olhos marejados, “Só me diz que não é só eu que sinto isso...”

“Se eu dissesse que não é, eu estaria mentindo, Peter” digo, estendo a minha mão e pego na dele. Ele olha para as nossas mãos juntas. “Não sabia e ainda não sei reagir direito a tudo isso... eu nunca... nunca passei por isso na minha vida, sabe? Eu só não queria me afundar em uma poça de tristeza e não conseguisse sair dela.”

“Me desculpa...” diz ele, “Eu fiz você sentir isso, eu sou um idiota!”

“Ei...” digo fazendo ele olhar nos meus olhos enquanto ele busca um ponto distante na quadra, “Tem coisas que não temos controle, Peter, e está tudo bem.”

“Então... você não gosta mais de mim?” pergunta ele.

“Eu gosto, gosto muito” digo.

“Mas?” pergunta ele com os olhos cheios de lágrima.

“No momento é muita coisa...” coloco um sorriso, “Podemos tentar de novo depois do recesso de fim de ano, com mais calma. Vamos ter duas semanas para pensar fundo sobre tudo. Pode ser?”

Vejo o queixo dele tremer enquanto ele tenta segurar o choro, e isso parte o meu coração. Peter assente, e eu abro os meus braços.

“Por enquanto podemos ser ótimos amigos, o que acha?” pergunto enquanto o envolvo no meu braço.

Ele fica em silêncio e logo depois suas costas tremem enquanto ele chora no meu braço. Me seguro para não ser nós dois chorando nesse momento e o aperto mais ainda contra os meus braços.

“Podemos ficar aqui...” sugiro, “Pelo tempo que for.”

Ele assente. E ficamos... ficamos em silêncio... depois ele deita no meu colo enquanto faço carinho em seus cabelos e ficamos num silêncio que não precisa de conversa, um silêncio que se completa sozinho. E isso é a única coisa que precisamos no momento. Silêncio.

Depois de um tempo, as mensagens chegam dizendo que o plano de Bran deu errado no salão de festa. Mando uma emoji de merda e olho para Peter.

“Você precisa ir?” ele pergunta.

“Não” respondo baixinho e continuamos assim.

Minutos mais tarde mando outra mensagem para Bran, no particular, dizendo que não vou tão cedo para o quarto. Ele diz que me entende. E Peter e eu acabamos dormindo assim...

Kyle Langford

P.S.: Dezenove dias para o Natal...

[Me envolvi com paredão e a parte 2 do cap vem amanhã kkkk, beijinhos e até amanhã!]

Diário de um jovem (príncipe) gay - 01 | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora