Negociações

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Caitlin estava praticamente feliz, apesar do começo desastroso de seu aniversário. Levando em conta ainda que quase tivemos que enterrar Ryan devido a sua teimosia em não me deixar sozinha com Annelise. Ele ficara o tempo todo atrás da porta, ouvindo, prestes a interferir caso fosse necessário.

Como se eu já não tivesse coisa demais para pensar, fora mesmo obrigada a ir ao Park Stable. Com a desculpa bem aceita de que eu vomitaria no cavalo se subisse em um, me limitei a tirar fotos, correr atrás deles e provocá-los. Pelo menos hoje, não podia demonstrar a Caitlin que estava morrendo fisicamente e mentalmente. E tentei muito não pensar no desastre acumulado que o destino me preparava.

Se a companhia possuísse mesmo meu contrato, poderia pedir a Maya para descobrir para mim? Depois de um segundo, concluí ser burrice. Ela com certeza era mais leal ao emprego do que a alguém que acabara de conhecer. A dúvida se prendeu à parede do meu cérebro. E se sua receptividade com a minha aproximação fosse mais uma estratégia dos Biebers?

Ryan me pedira para deixar toda a influência da conversa com Annelise para o dia seguinte, mas era minha cabeça na bandeja. Era ele o despreocupado com a vida, não eu.

Abrimos a porta do apartamento escutando Ryan dizer alguma besteira. Caitlin se encontrava sob o efeito do riso frouxo, então gargalhava jogando a cabeça para trás. Eu entrei primeiro, e mesmo no escuro podia distinguir as silhuetas paradas no meio da sala, me deixando estagnada onde estava. Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, um clarão invadiu o ambiente.

— SURPRESA! — gritaram em uníssono.

Caitlin deu um gritinho assustado, em posição de ataque, e aos risos, seus parentes e amigos começaram a cantar o hinário Parabéns. Eu me juntei a eles, reparando na faixa colada em nossa janela dizendo "Feliz aniversário, Cailtin" e balões verdes espalhados por todo canto cheios de gás hélio. Pelo canto do olho, vi um sorriso presunçoso e satisfeito nos lábios de Ryan. Dava para notar em sua testa, um pouco maior do que o tamanho convencional, que ele organizara. Não fiquei chateada por ter me deixado de fora, mas ainda assim era estranho.

A maioria das amigas de Caitlin dali eram modelos, colegas de trabalho da agência em que ela trabalhava. Então, como um ato de piedade com minha autoestima já abalada o suficiente por um dia, me enfiei em meu quarto, extremamente grata por ter limpado mais cedo. Tomando por base a roupa dos convidados, eu não podia ficar totalmente desleixada. Sendo assim, depois de um banho minucioso, estudei meu guarda roupa, mas, repentinamente, observei toda intenção de me arrumar se dissipar. A quem eu queria impressionar? E por que?

Vesti um short jeans e uma camiseta manga longa de lã folgada na cor bege estampada com uma cruz preta. Saí de cabelo ainda molhado nas costas e chinelo. Não estava tão ruim quanto antes, esperava que não envergonhasse minha amiga.

De volta à sala, eles não pareciam ter sentido minha falta. Caitlin conversava com seus pais, e Ryan com as modelos. Exclusivamente por minha situação de anfitriã, não recuei em passadas ligeiras para meu quarto, montando um sorriso hospitaleiro no rosto.

Notei o indivíduo tão deslocado no espaço quanto eu antes que se dirigisse a mim. Em situações de desconforto, o primeiro passo para uma válvula de escape é encontrar pessoas na mesma situação, assim um elo de segurança se cria. De qualquer modo, tinha quase certeza de que essa não era a razão primordial de Rafael.

— Por um momento pensei que estava fugindo pela janela — ele disse bem-humorado, tomando um gole do que parecia ser refrigerante.

Usufruindo de um autocontrole escasso, não lhe perguntei diretamente o que fazia ali. Segunda visita surpresa no meu apartamento, sendo que eu não lhe dera meu endereço, em dois dias. Inicialmente, culpei Caitlin por convidá-lo, até perceber ser uma tarefa meio impossível já que a festa fora surpresa. Assim, concentrei meu olhar acusador em Ryan. Quem mais poderia ser? Logicamente Caitlin havia lhe dito alguma coisa, e aqui estavam os resultados. No exato momento, Butler captou a energia negativa, arqueando suas sobrancelhas sugestivamente para mim. Completamente culpado e nada arrependido.

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