Estaca zero

250 18 13
                                    

As paredes se revestiam de um tom claro de amarelo, e até onde eu podia ver, o piso exibia mármore. Logo de cara, fui recebida por 13 quadros de moldura dourada distribuídos em um esquema hierárquico pela parede da entrada. Um deles se posicionava acima do restante, uma pintura muito bem-feita de George. Eu sabia que o restante das pessoas eram parte de sua família, embora não pudesse especificar a relação parental, exceto por reconhecer a fisionomia de Jeremy Bieber da fotografia que eu vira ano passado e de seu honrado filho, o mais bonito de todos os que ali estavam. Sua postura se compunha presidencialmente naquele terno cinzento, como a dos restantes, mas havia mais vida nele. Seus olhos castanho claros derreteriam qualquer geleira imaginável, confiantes e astutos. Ultrapassando a fachada de poder, a essência de sua expressão facial atraia para algum tipo de mistério. Cheguei à conclusão de que o pintor ou pintora do quadro estivesse apaixonado (a) por ele. Ou toda aquela exaltação ilusória vinha dos olhos de quem via.

Escutei Maya rir baixo com sarcasmo.

— Justin Bieber — me contou, seguindo meus olhos. Ela devia achar que eu possuía retardo mental e não conseguia ler o letreiro de ouro transcrevendo o nome de cada um deles acima dos quadros — Uma lenda. Você tinha que ficar perto dele para ver, o cara tinha poder de nos deixar sem palavras. Absurdamente fascinante. Infelizmente não poderei te apresentar, faleceu ano passado em uma explosão juntamente com mais quatro desses.

Eu ainda não havia pensado nessa parte. Justin não só cometera suicídio, como levara parte de sua família com ele. Além de Brad, me questionei quem mais havia sido vítima do plano idiota. Mais tios? Primos? Tentei correr os olhos pelas pinturas para tentar adivinhar. E eu sabia, esse era o mais perto que eu teria de conhecer sua família inteira. Justin nunca havia entrado em detalhes sobre seu berço, apenas referências vagas de pura rigidez e ausência de amor. Não tive pressa para que dissesse também, esperava que tivéssemos todo o tempo do mundo para conhecermos cada mísera parte um da vida do outro. Queria que nos entrelaçássemos de tal forma que fosse impossível separar depois. Mesmo tendo muito menos tempo do que eu idealizava, o objetivo fora alcançado. Eu estava quebrada para sempre.

No fim, não consegui desviar meus olhos dele. A pintura era tão real que eu quase podia vê-lo saindo da moldura e me apresentando seu sorriso pretensioso, como se soubesse exatamente o tipo de reação que me dava por causa dele. Aquele que nunca saia do seu rosto e me irritara desde quando coloquei meus olhos nele. Mais tarde descobri que me tirava do sério porque eu sabia de sua capacidade potencial de mexer comigo. Desde que me entendo por gente tenho uma obsessão em ter controle sobre as coisas. E ali estava uma coisa que eu não poderia controlar, meus sentimentos por Justin.

Desviei o rosto da realeza de Minnesota, sentindo a dor aguda enrijecer meus órgãos a ponto de me tirar o ar.

— Vamos seguir — Maya apontou para o corredor a direita, me conduzindo e fazendo um aceno de cabeça para os dois guardiões nas pontas dos quadros.

Eu ainda não decidira se classificava como cômico ou doentio reservar dois seguranças para proteger pinturas. Por outro lado, pelo modo que me olhavam, o adjetivo "louca" ocupava o topo em minha descrição.

— Como hoje é sábado, não tem muita gente aqui, então não vamos ter tantos problemas assim — ela segredou, parecia querer convencer a si mesma daquele fato.

O toc toc dos seus saltos reverberavam pelo espaço mais parecido com um labirinto sem fim, os caminhos se igualavam demais para que eu não me perdesse es estivesse sozinha. Fiz o melhor que pude para diferenciá-los, tentando gravar detalhes importantes. Viramos a esquerda depois de passar por um cacto e adentramos a porta dupla. A decoração toda se baseava em ouro e eu não duvidava de que fosse legítimo.

One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora