Filme de terror

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— "Se você me trouxer um atestado posso pensar em não descontar do seu pagamento" — Caitlin leu a mensagem de Hazel em meu celular, imitando sua voz estridente com deboche — Eu não sei por que você já não pediu demissão de uma vez.

Dei de ombros, tamborilando meus dedos na madeira da mesa. O cheiro do waffle com mel e morango de Caitlin tomava conta de praticamente toda a cozinha pequena.

— É uma forma de me prevenir. Ryan disse que vai resolver isso logo, mas ele não pode ter tanta certeza assim de tudo.

Caitlin deslizou o dedo em meu celular, e ao parar, deu um sorrisinho satisfeito.

— "Não se preocupe, Faith, eu compreendo. — ela engrossou a voz, lendo a mensagem de Rafael — Posso ajudar de alguma forma? "

Revirei os olhos para suas sobrancelhas arqueadas.

— Cara, ele tá tãão na sua!

Dessa vez eu ri, me lembrando de uma das minhas séries favoritas, Todo Mundo Odeia O Chris.

— Se vamos falar de outros assuntos, me conte sobre você e Ryan — reverti o rumo da conversa.

Caitlin arqueou a boca para baixo numa expressão de "não é grande coisa".

— Está tudo bem. Acho que eu gosto dele e ele de mim, combinamos, essas coisas. Vamos ver no que dá.

Comparei Caitlin e Hanna. No início, eu e Hanna éramos inseparáveis, agora, Caitlin substituíra sua presença física; não emocional, cada uma tinha seu próprio quarto na pensão do meu coração. As diferenças eram notáveis, Hanna é muito romântica, afobada, boba alegre; já Caitlin é mais na dela, durona, orgulhosa, mas embora não admita, tem um coração de marshmallow. Ambas possuem um amor em comum comigo, comida.

Com a menção mental de Hanna, ponderei se já era hora de ligar.

— Fico feliz por você — disse eu, esboçando um sorrisinho sincero.

Caitlin estreitou os olhos. Sabíamos muito bem da minha reação egoísta ao descobrir que os dois estavam juntos na madrugada de domingo; uma explosão causada por inveja, ciúmes, influencia alcoólica e amargura. Essas emoções não haviam simplesmente evaporado — tirando a influencia alcoólica, no momento —, me dava náuseas só de pensar em ver os dois juntos. Entretanto, eu podia guardar aquilo pra mim. Caitlin estava certa, o mundo não precisava ser infeliz comigo.

— Preciso contar para a Hanna — falei, pegando meu celular de suas mãos.

— Tem certeza de que não quer comer nada? — ela apontou para o mini banquete servido à nossa frente, cética. Havia muffin de ovo e bacon, cookies, waffles e panquecas.

Ryan saíra para comprar café da manhã bem quando eu comecei a apertá-lo com minhas perguntas. Me dissera que quanto menos eu soubesse melhor seria, caso a Companhia conseguisse colocar as mãos em mim precisavam acreditar que eu não sabia de nada para me deixarem em paz. Não era tão reconfortante que ele considerasse essa possibilidade, mas eu apreciava sua sinceridade. Parti, então, para o questionamento de sua ligação estranha. Sua expressão imediatamente se fechara.

— Sei que odeia que te escondam as coisas, mas confia em mim — pediu, se levantando do degrau em que estávamos sentados — Essa também é uma coisa que é melhor você não saber. Talvez quando chegar a hora, eu te conte.

E assim entrou no carro com a desculpa de estar morto por um cookie, me aconselhando, em seguida, a entrar de volta na cabana. Eu voltei frustrada para o caos do quarto, sem um pingo de vontade de arrumá-lo, me identificava com ele assim. Quando decidi sair outra vez, Ryan já trouxera o café e saíra para "resolver nosso problema"; Caitlin estava acordada, fosse por mania matinal ou para ser minha babá.

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