Confronto

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FAITH.

Me vi descendo as escadas antes mesmo que pudesse inventar uma desculpa para ficar refugiada em meu quarto mais um pouco. Com um senso de oportunidade ímpar, meu irmão batera a minha porta para conferir meu estado emocional logo após as palavras súbitas e paralisantes de Justin. Com certeza minha expressão chorosa e perplexa não ajudara a colocar Caleb para fora, então não tive oportunidade de me dirigir a Justin novamente.

No intervalo entre a liberdade adquirida de Caleb quando chegamos à sala de jantar e uma tentativa de conversa desconexa com Hanna, enviei uma mensagem sucinta a Justin pedindo para que não saísse do quarto a menos que eu chamasse. Superestimei minha capacidade de ordenar coisas, eu sei, mas não custava tentar. Sua falta de resposta devia ser um péssimo indicativo de receptividade. Ou não receptividade.

Em meio a agitação da sala de jantar, minha mente me mantinha prisioneira de um caos interno. Por algum motivo que eu cansara de tentar entender, a voz mais forte alertava-me para o perigo que Justin corria bancando de meu guarda costas. Até onde eu sabia, Annelise podia estar infiltrada em minha casa esperando para dar o bote. Isso se seu terrível avô estupido não tivesse resolvido dar um fim no assunto ele mesmo. Seguindo a pauta caótica, as bifurcações já se distinguiam a minha vista das opções que Justin me apresentara, enfeitadas com sua oferta de corpo e alma a minha pessoa e uma afirmação de que me amava. Como se eu já não tivesse muito a assimilar, precisava confiar em minha habilidade de interpretação para o tipo de amor a que ele se referia. Da forma como disse, e levando em conta o dia anterior, não podia ser muito diferente do que eu sentia, podia? E para finalizar a roda de confusão, em questão de minutos receberíamos os Peters para esclarecimentos tão banais quanto atentar contra minha vida.

Ryan passou o braço em meus ombros, despertando-me do meu transe torturante.

— Seu sorriso é fascinante, Faith, mas hoje está extraordinário — segredou perto do meu ouvido com um bom humor contagiante.

Franzi a testa pra ele.

— Onde está vendo um sorriso?

Seus dentes ficaram todos a mostra ao atingir seu objetivo. Ele cutucou a minha bochecha levemente acumulada.

— Bem aqui. Se Caitlin tirasse uma foto sua agora certamente conseguiria um lugar pra você na agência com ela.

Revirei os olhos e dei um tapinha em sua mão.

— Prefiro me esconder para sempre numa galeria.

Ryan segurou meu queixo entre o polegar e o indicador balançando meu rosto.

— Um rostinho desse não pode ser escondido em lugar algum.

O empurrei para longe com uma cara de tédio forçada. Ryan dizia as maiores baboseiras para me distrair das minhas merdas, e sempre teria minha gratidão por isso.

— Minha mão vai esconder o seu rosto se não parar de graça.

Ele riu, levantando um ombro com indiferença.

— Se isso te servir como treino para esfolar a cara do Justin serei grato em poder ajudar — abaixou a cabeça para falar em direção ao peito — Se prepare, garanhão.

Mesmo estando certa de que ele não ficaria em meu quarto, Justin não poderia marcar presença na sala, portanto, Ryan usar uma escuta fora mais uma exigência sua do que um pedido. Não percebi os olhares avaliadores até que ouvisse as palavras.

— O que ele aprontou dessa vez? — semicerrou os olhos, desvendando-me pela expressão, a qual nem sabia estar denunciando minha inquietação diante do nome de seu melhor amigo.

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