Aqui jaz Faith Evans

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Vesti o colete, luvas, joelheiras, o macacão camuflado e a máscara separados em cima da mesa de equipamentos. O atendente me dissera que os jogadores ainda estavam se posicionando e só por isso eu poderia entrar. Caitlin me esperaria sair para vir logo atrás de mim.

Daniels, o atendente, me mostrou onde ficaria guardada a munição em meu colete e colocou a arma gigante em minhas mãos. Um pingo de suor escorreu em minha testa.

— Vocês vistoriam todas as armas e todos os participantes antes de liberarem a entrada, certo? — perguntei à ele enquanto corria meus olhos pelo campo extenso preenchido de barricadas, túneis e árvores. Parecia-se muito com um campo de treinamento do exército.

— Claro — garantiu-me, mas seu sorriso tendia muito para um deboche — Primeira vez?

Assenti. Em minha defesa quis dizer que meu nervosismo se relacionava mais ao fato de ter uma desvairada me ameaçando para estar ali, só que eu duvidava da capacidade de empatia daquele sujeito despojado.

Ele jogou os cabelos longos e lisos para trás, seus olhos verdes cinzentos riam de mim.

— Se tiver sorte, depois de uma semana os hematomas somem. Vai ser melhor se conseguir não levar nenhum tiro; o que, aliás, vai fazer seu time vencer. Quando for atingida, abaixe-se e levante as mãos paras anunciar aos outros jogadores a sua saída, assim, você se retira do campo. Só consideramos que foi atingida se a bola de tinta realmente explodir em você. Você está no time amarelo, por isso, sua munição é amarela. Respire apenas pelo nariz para não embaçar a máscara.

De dez coisas aprendi menos uma. Eu já estava me sentindo sufocada com aquela máscara patética de motoboy, os furos para o nariz não pareciam ser grandes o suficiente.

— Sabe segurar o marcador?

Neguei, eu nem sabia o que era um marcador.

Daniels segurou uma risada, com certeza ele pensava que eu seria a primeira a sair, carregada por paramédicos. Eu não duvidava disso, e questionei a estratégia de Maya. O jogo era aberto para outras pessoas, eu estaria fora antes mesmo que ela tivesse a chance de me reconhecer com todo esse figurino de segunda guerra mundial.

— Segure nas duas extremidades, mas com cuidado pra não apertar o gatilho antes da hora. Vê? — ele demonstrou com a outra arma que estava em cima da mesa. Ok, então a arma era um marcador — Como se estivesse caçando; e, na verdade, você estará.

Maya queria me caçar. Eu a deixara ainda mais furiosa com o golpe do dia anterior.

— Ah, sua amiga mandou te avisar que está no time contrário, o vermelho. Eles estão ao lado direito do campo. Boa sorte.

Sorte era para principiantes. Eu precisava mesmo de um milagre.

— Obrigada. Coloque minha amiga Caitlin no time amarelo também, por favor, ela já está vindo para cá.

Daniels resmungou alguma coisa sobre equilíbrio de participantes, mas eu já estava me direcionando ao campo de batalha. A adrenalina pulsando em meu sangue e a arma inofensiva em minhas mãos me faziam sentir como a exterminadora do futuro. Só se fosse do meu próprio futuro.

A medida que eu avançava, conseguia ver algumas cabeças escondidas nos obstáculos em meu lado esquerdo, e presumi ser meu time. Rezei para Rafael estar no time amarelo e me encontrar depressa para irmos embora. Eu não tinha motivos para confiar em Daniels, Maya podia mesmo estar com uma arma de fogo. E, embora não pudesse me ferir de morte, não havia impedimentos com Rafael. Ou em me deixar aleijada, por exemplo.

Eu via o vento balançando com delicadeza as árvores, mas não podia senti-lo, coberta como estava da cabeça aos pés. Por outro lado, o sol, bem posicionado no céu, ainda emanava seus efeitos sobre mim, tornando ainda mais asfixiante respirar pelos três riscos finos demais na máscara aparentando debochar do meu esforço para conseguir oxigênio suficiente.

One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora