— Ela está perdida dentro de seu próprio corpo. Frustração, ódio e uma tristeza profunda a consomem por inteiro. A alma dela grita por ajuda, mas ninguém pode ouvir, e sua boca não vai dizer. Seu sofrimento é sentimental, então não há quem entenda ou possa curar. Assim, essa é sua sentença, uma condenação que a aprisiona pelas mãos e a arrasta para que continue vivendo, sendo esta sua própria forma de tortura, viver.
Meus olhos estavam imersos naquela mistura de cores gritantes caótica, ou, para olhos mais desenvolvidos, naquele pedido silencioso por socorro. Por um momento, fui abduzida desse mundo, e tinha certeza de que fazia parte daquele recorte.
— Entendo agora o aumento em seu faturamento, Hazel, esta garota é sua grande descoberta! Que dom você tem para a venda, senhorita!
Fui puxada abruptamente para a realidade, não preparada o suficiente para que conseguisse dar um sorriso grato o bastante para o homem de traje esportivo. Ele tinha idade o suficiente para ser meu pai, mas era muito menos intimidador. As mãos se colocavam atrás das costas ao passo que andava pela galeria varrendo pelos olhos todos os quadros enquanto eu os explicava. Ele não era tão esnobe quanto a maioria de nossos clientes, então já tinha meu respeito.
Hazel deu uma risada forçada por trás do balcão. Qualquer coisa que não amaciasse diretamente seu ego era irrelevante.
— Depois dessa descrição tocante, eu seria estúpido se não o levasse. Vou escutar o grito de ajuda. Pode colocar esse na conta também.
O adicionei na lista de reservas com os outros três no tablet em minhas mãos.
— Tudo bem, já temos quatro.
— Já estava na hora de renovar o visual da minha casa. Vanessa estava no meu pé.
Fiz a expressão mais básica de quem ouvia e compreendida, levantando as sobrancelhas e comprimindo os lábios.
— Então acho que já deu por hoje. Pode fechar e mando alguém vir buscar para mim amanhã. Estão no fim do expediente, certo?
Conferi o relógio redondo na parede cor de gelo sem extrema necessidade, eu sabia que horas eram. Cada segundo se arrastava para que eu não fosse embora. Cinco minutos para às dez da noite.
Estava prestes a assentir quando Hazel se meteu:
— Se quiser podemos estender o horário pra você.
Contive a vontade de bufar. "Podemos". Ela iria embora e eu teria de ficar.
— Não há necessidade. Só me garanta que não irá vendê-los.
Ela riu como se fosse uma coisa idiota a se dizer. Era lógico que a reserva de Ben estaria protegida a sete chaves. Hazel fez questão de mencionar muitas vezes de que ele era seu cliente há anos para que eu fosse impecável.
Ele colocou seu cartão dourado na máquina antes de me olhar.
— Realmente estou impressionado com sua interpretação dos quadros. Já pintou ou pinta?
— Não.
— Ela trancou um curso de Artes em Harvard no quinto semestre — Hazel fez questão de mencionar. Eu me lembrava de seu olhar julgador ao ler a informação em meu currículo, o que não deveria estar lá se não fosse por Caitlin.
Ben arregalou os olhos.
— O que aconteceu? Não pode pagar mais?
Me ocupei em retirar seu cartão e as vias, lhe entregando a sua.
— Não se incomode com isso. Muito obrigada por comprar conosco e volte sempre.
Ele se limitou a sorrir, entendendo pelo meu tom de voz que eu não queria falar sobre o assunto.

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One Love
FanfictionDurante os 5 meses após a suposta morte de seu namorado, Faith Evans se agarrou a qualquer resquício da presença dele no mundo. Colocando sua própria vida em segundo plano, ela se comprometeu a terminar o que começaram juntos, sem ter total consciên...