Tensão

276 17 13
                                    

Recobrando a consciência, a primeira coisa que senti foi a rigidez do meu corpo, a ponto de provocar uma dorzinha constante e chata, principalmente em meus ombros. Tentei me mexer antes de notar que o espaço era extremamente limitado, e depois, a textura, contraditoriamente macia e lisa sob meus dedos, me obrigou a abrir os olhos.

Tive, então, a visão mais gloriosa que poderia ter nesta terra. Eu não sabia como aquilo acontecera, mas, minha cabeça repousava na curva do pescoço de um Justin vivo — o que explicava o aroma masculino quente e levemente suado que meu nariz acusava —. Eu espalmava seu peito desnudo com a mão direita, a esquerda fechada em punho entre nós dois. Ele me abraçava com o braço esquerdo enquanto o outro pendia do sofá onde nos encaixávamos.

Subi meu olhar para seu rosto, ali tão perto do meu e extremamente sereno, as feições limpas de quem tinha um sono tranquilo. Prestei atenção no levantar mínimo de seu peito conforme inspirava e expirava. Ouvi mais uma vez o som do seu coração e me policiei severamente para que não iniciasse uma série de carinhos e beijos. Daquela forma, era muito fácil imaginar que ele era meu, que nada entre nós havia mudado — mesmo com seu novo corte de cabelo.

Praticamente, senti minhas pupilas se dilatando. O coração batendo forte e saudável. A conversa de Justin e Rafael parecia ecoar em minha mente de poucos em poucos segundos, mas, naquele momento, se dissipou. Consegui subir mais alto nas nuvens do que um avião. Devido a este fato, percebi quando a vozinha no fundo da minha cabeça me avisou que não se passava de um sonho ou mera alucinação.

Não me importava. Ignorei os protestos da minha musculatura cansada e me aconcheguei nele, notando que, mesmo naquela posição desconfortável, aquela havia sido a melhor noite de sono que eu tivera em meses, sem sonhos perturbadores e inquietações.

Quando dei por mim, analisava os detalhes de sua boca rosada e pequena. A noite de inércia deixara que se enrugasse um pouco. Uma coisa muito bonita de se ver, diga-se de passagem. Muito convidativa. Me afastei da tentação, e ali estavam, seus olhos bem abertos me encarando.

Paralisei. Não era nada estranho acordar com alguém secando seus lábios, claro. Mas Justin não pareceu perturbado. Pelo contrário, seu mel se derreteu diante de mim, e pensei ter visto ele dando uma leve espiada na minha boca também depois de dar um sorriso mínimo. Foi tão rápido que eu podia estar inventando tudo aquilo — o que era mais provável. Sentia-se a intensão numa linha imaginaria onde nosso olhar se encontrava. Não precisou de dois segundos para que eu começasse a tremer, e depois me perder, dentro do universo vasto de estrelas caramelizadas e bem guardadas de todo o restante do mundo que eram seus olhos.

Um pigarro desconfortável atrás de mim nos tirou do transe. Rafael pareceu querer desaparecer da entrada da sala, não sabendo onde colocar o olhar.

Sem planejar muito bem, me sentei, empurrando o peito de Justin como apoio. Ele soltou o ar com um pouco mais de força. Uma gemida rouca e inoportuna.

— Rafael... Bom dia — falei desajeitada, a sensação de estar sendo pega fazendo algo errado.

Não consegui me levantar, me enrolando nas pernas de Justin. Senti o olhar dos dois sobre mim. Não me ajudava com a coordenação motora.

— Desculpa, eu não queria... atrapalhar.

Justin finalmente resolver me ajudar, se sentou, depois estendeu uma mão de apoio para mim. Ele ficou muito perto de novo, e eu posso ter ficado mais lenta por isso. Assim, aceitei a oferta, passando a perna esquerda primeiro para o chão. O movimento despreparado me deixou quase sentada em seu colo, frente a frente com seu rosto amassado de sono.

Vai tomar no cu dessa beleza.

Tive a impressão de que ele queria rir da minha desordem. Quase chutei a cara dele quando passei a perna direita para o chão, me levantando como uma minhoca. Por pouco não parei de cara no chão até me firmar sobre os pés.

One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora