Teorias

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Devolvi o sorriso como se fosse apenas o cumprimento de duas estranhas que se reencontraram acidentalmente. Não pude deixar de fazer uma análise agora minuciosa do seu rosto. As bochechas eram altas no rosto rechonchudo, levemente avermelhadas, os cílios longos faziam sombras para os olhos grandes de piscina; um batom vermelho sangue pintava seus lábios de Angelina Jolie; como um véu, os cabelos de ouro caíam imperceptivelmente ondulados em seu rosto. Ela exalava sedução e uma ingenuidade perigosa.

Senti certo desconforto na boca do estômago nada relacionado à náusea da ressaca. Estava totalmente nítida a razão pela qual Guilherme guardara tanta mágoa de Justin. Aquela não era uma beleza com a qual eu pudesse competir. Talvez Hanna e Caitlin conseguissem entrar na disputa. Consegui me sentir ameaçada, embora soubesse que não havia como estar num polo alternativo com ela pela atenção de Justin. Não mais.

Um garçom baixou meu prato à minha frente, me tirando do transe. Ryan esperou que ele saísse para falar de novo.

— Nós temos que sair daqui. Ela está olhando?

Remexi a salada no prato, tentando agir naturalmente. Caitlin olhou de esguelha.

— Está — respondeu com aflição — Aliás, ela é muito bonita.

Então não era só eu que me incomodava com a aparência física de Annelise. Ryan a havia descrito como "loira de corpo violão". Mais sem noção que isso, impossível.

Eu podia esperar que esse encontro fosse mero acaso, uma coincidência não tão grande por supostamente morarmos na mesma cidade, mas alguma coisa no meu ouvido me dizia o contrário. Talvez fosse apenas pessimismo.

Quis investigar. No passado, eu podia fugir de ameaças, mas agora, me jogava na direção delas para provar que não me deixaria ser abatida tão facilmente. No fundo, também tinha outra motivação para querer bisbilhotar Annelise. Queria descobrir o que Justin vira de tão interessante nela e o que o fizera mudar de ideia depois. Por que escolheria alguém como eu tendo conquistado alguém como ela? Além do mais, era estranhamente bom ter contato com mais alguém que o conhecia. Ela podia conhecer alguma parte dele que não cheguei a conhecer.

— Tive uma ideia — contei, inspirada subitamente — Eu vou ao banheiro, se ela me seguir, deixem o restaurante imediatamente. Não se preocupem com a conta — alguém ficaria no vermelho esse mês.

— Por que acha que ela vai te seguir? — Caitlin perguntou cética.

— Intuição. O jeito que ela está me olhando.

— Ela não está atrás de você, Faith. É atrás de mim. Eles descobriram que estou vivo. Eu tô fudido — Ryan agonizou.

— Vocês só estão paranoicos. Ela deve ter vindo apenas almoçar — Cait argumentou, não parecendo totalmente confiante no que dizia.

— Tá. Mas se me ver, acabou pra mim. Isso se já não viu. Eles vão me culpar totalmente pela explosão. George vai comer minhas tripas no café da manhã.

— Concentrem-se! — exigi — Até pensarmos em outra coisa, vou colocar em prática o meu plano. Não temos nada a perder.

Já estava me levando, Ryan agarrou meu tornozelo por baixo da mesa.

— Continua sendo uma ideia ruim. Se estiver certa, você não pode encará-la, Faith.

Chacoalhei meu pé, me livrando da sua mão.

— Atenção — disse a Caitlin, me distanciando dos dois.

Escutei Ryan me chamar entredentes uma última vez, então passei pela porta sem olhar na mesa de Annelise, seguindo a placa com o desenho da bonequinha de vestido para a esquerda. Entrei sem pestanejar, notando que o banheiro de quatro reservatórios estava vazio. Me apoiei na pia de mármore e olhei para o espelho enorme, reparando na minha aparência destruída. Como complemento das olheiras profundas, cara amassada, olhos vermelhos, e roupas que não combinavam; meu cabelo apontava para todas as direções. Não era um bom dia para encontrar Afrodite em pessoa. Minha autoestima já no chão seria enterrada e cuspida por ela.

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