Combinado

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— Precisamos conversar — Caitlin desabou na cadeira ao meu lado.

Vasculhei o café do aeroporto em busca de ouvidos bisbilhoteiros. Hanna se apoiava no balcão dividindo o peso sobre o Louboutin preto de sola vermelha sofisticado, apontava para o cardápio animadamente, afinal, era hora do café da manhã. Caleb ria ao seu lado quando pensava que ela não via. Ele nunca entendeu o espaço que a comida tinha em nossa vida. Por sua vez, Maya não saíra do banheiro, gastava todo seu tempo tentando ficar longe. O único a prestar atenção em nós duas era Ryan, me encarando do outro lado da mesa redonda de madeira, implicitamente já concordando com o que ela diria.

Cruzei os braços, um mecanismo de defesa.

— Pode falar.

— Quando foi que você ficou demente? — rosnou.

Olhei séria pra ela.

— Me diga você.

— Acho que foi quando decidiu confiar em Justin Bieber de novo e trazer Maya Baker com a gente. Você está caindo na conversinha dos maiores pilantras.

— Caitlin...

— Me conte exatamente o que está acontecendo entre você e Justin.

Caitlin começou a girar o saleiro, representando uma espécie de ampulheta. Me senti num interrogatório policial hollywoodiano. De fato, eles me olhavam como uma criminosa. Para uma interferência dessa gravidade partindo dos dois, minha situação podia estar pior do que eu mensurava.

— Somos amigos — dei de ombros — Por que estão me olhando desse jeito?

Caitlin arqueou uma sobrancelha. Era uma pergunta óbvia, ela não responderia.

— Quem disse que são amigos?

— Nós dois. Ele propôs. Eu aceitei.

Suas órbitas quase pararam no cérebro quando revirou os olhos. Não pude deixar de me irritar um pouco com aquilo. Parecia que eu tinha enfiado o dedo estupidamente na tomada com os pés descalços para receber uma reprovação daquelas.

— Sabe o que é pior? Ver você se tornando dependente outra vez quando achei que melhoraria. Não achava que seria burra o bastante para cometer o mesmo erro duas vezes, mas olha onde estamos.

Ryan virou toda a cabeça em sua direção para que ela visse seus olhos repreensivos. Só que já era tarde. A onda de raiva se movimentava livremente por minha corrente sanguínea.

— Seu problema, Caitlin, é pensar que o mundo é um mais um. Na realidade, a resposta nem sempre é dois.

Névoa densa tomou conta de sua íris azul.

— O que a droga da matemática tem a ver com isso?

— É um jeito ameno de te dizer que o buraco é mais embaixo. Que não se trata apenas de aparência. E a porra do sentimento que me consome você nunca vai entender. Então não venha falar com tanta propriedade sobre o que não sabe. Se a sua forma de lidar com a volta dele é bloqueá-lo, ótimo, não vou meter o dedo. Mas o jeito que administro essa saudade que me matou não pode ser teu alvo de críticas também.

Caitlin endureceu o queixo. Não tinha argumento para me rebater, bem como não concordaria. Recostou na cadeira e elevou a cabeça, cheia de razão.

— E qual a sua brilhante argumentação em relação à Maya? — debochou.

Contive a vontade de gritar que nada daquilo lhe competia. Caitlin era linda, jovem, com uma carreira promissora de modelo, livre para fazer o que queria, possuía uma casa luxuosa em Boston e um carro, não estava diretamente obrigada a se envolver em todos os meus problemas, entrava neles por livre e espontânea vontade. Porém, eu sabia que a ausência do seu irmão lhe doía tanto que ela se agarrava ao mundo em que ele vivia, ao mesmo tempo que procurava em outras pessoas a fraternidade que tinha com ele. Me perguntei se preferia que fosse Christian de volta no lugar de Justin, e isso justificava metade da sua fúria.

One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora