Incapaz

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Abri os olhos, tendo visão de um campo extremamente verde. O sol estava alto no céu, brilhando determinado, atingindo a relva, fazendo subir aquele cheiro fresco da grama. Eu me sentei, passando as mãos naquele chão vivo, sentindo cócegas pelo contato pontiagudo em minhas palmas. Estava tão absorta que esqueci até mesmo de me questionar como parara ali. Um vestido rosa bebê florido de alças cobria meu corpo, e não havia calçado algum em meus pés. Senti-me extremamente leve, respirando a brisa natural que batia levemente sobre meus cabelos ondulados.

Algumas copas de árvores interrompiam a extensão do campo a alguns metros de distância, convidando para a floresta que as seguia. E foi de lá que vi surgir um cavalo branco e musculoso montado por alguém. Tive que apertar a vista e cobrir os olhos para distinguir quem era, investigando se representava perigo. Ele chegou rápido demais à minha frente, desafiando a lógica com as trotadas lentas. O observei descer do cavalo, que se afastou ao se encontrar livre — algo que entendi mais tarde como uma forma de nos dar privacidade —, e só reconheci seu rosto assim que se colocou na frente do sol.

— Então ela é uma assassina? — Sua voz confortante veio acompanhada de um sorriso significativo. Um sorriso de expectativa, reencontro e júbilo.

Eu pulei imediatamente sobre os calcanhares, meus batimentos cardíacos ultrapassando os limites do aceitável. Joguei-me em seus braços mesmo sabendo da possibilidade de atravessar o ar e cair de cara no chão. Para o meu regozijo, ele me segurou.

— Olá, Evans — me cumprimentou risonho, encaixando a cabeça em meu pescoço, como eu fazia com o seu. Desta vez, não usava a colônia que, por incrível que pareça, eu me lembrava. Seu cheiro estava levemente amadeirado e fresco, assemelhando-se a essência de algum sabonete.

O apertei forte contra mim, sentindo o jorro de emoções desabar em cima da minha cabeça. Eu tinha tanto a lhe dizer! E realmente tentei, mas só conseguia balbuciar coisas sem sentido. Meus ombros tremiam.

— Ei, você não está chorando, está? — A reprovação delicada veio acompanhada da sensação de suas mãos em meu rosto. Ele afastava a cabeça para me olhar nos olhos. Não permiti que se distanciasse mais do que o necessário, os braços rígidos o cercando com um aperto de urso.

A ponta de seus dedos passava levemente nas maçãs do meu rosto, deixando minhas bochechas úmidas.

— Eu estou? — Gaguejei. Na verdade, pouco me preocupava comigo mesma.

Olhei cada parte do seu rosto, memorizando outra vez os detalhes, me atentando à sua ruga de preocupação no meio da testa. Levei minha mão até ali, não satisfeita em contemplá-lo com os olhos. Acariciei seu cabelo macio milimetricamente arrumado para trás, e desci para a nuca. Ele entrelaçou os braços na minha cintura, facilitando meu percurso. Fiz um caminho até seus ombros, reparando que estava com uma regata branca, o que era uma coisa nova pra mim; nova e maravilhosa. Quisera eu ter o visto vestido daquela forma mais vezes. Afaguei seus braços musculosos e tatuados, reconhecendo as linhas perfeitas de sua pele. Então joguei os meus próprios ao redor do seu pescoço, o esmagando outra vez.

Sua risada foi melodiosa perto do meu ouvido.

— Você está bem? — Perguntou bem humorado e ao mesmo tempo ansioso.

Eu neguei com a cabeça, indecisa entre esmaga-lo junto a mim com todas as forças ou encará-lo infinitamente.

— Você... — Comecei a dizer e engasguei com o bolo na minha garganta, fitando seus olhos.

— Eu...?

Mordi a boca, minha mente bloqueando a informação. Não ainda, se recusava.

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