Fodida

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— Eu não sei do que você está falando — aleguei imediatamente, desenroscando minha bolsa e me colando em pé devagar, sem tirar os olhos de sua postura.

Maya esticou o lábio num sorriso de deboche acusatório.

— Por isso está fugindo de mim?

Coloquei a bolsa atravessada na frente do meu corpo. Seria patético usá-la como arma, mas eu o faria se precisasse. Eu não conseguira lutar contra Annelise, e não planejava deixar o fato se repetir com Maya. Invoquei todo o meu conhecimento — raso — de Krav Maga, premeditando os primeiros golpes. Sua arma de fogo não estava à vista, assim, ela levaria alguns segundos para conseguir pegá-la, o que já me deixava em vantagem.

— Você também fugiria de você mesma se pudesse se ver agora. Sei que não vai me ouvir, já está convencida dessas besteiras que está pensando — menti descaradamente.

Dessa vez ela não caiu, os olhos fervendo de ódio a motivando em dar um passo na minha direção. Recuei, separando os pés, posicionando a perna esquerda à frente.

— Para de mentir pra mim! As crianças desapareceram depois que te levei em um tour idiota pela Companhia. George quis saber se alguém diferente havia passado por lá. Eu tive que cobrir nossos rastros com alguns favores, acabei descobrindo que perguntou para Max sobre uma ala infantil. Sabe o que ele me cobrou para esquecer isso?! E depois George estava falando de você com uma das funcionárias, mandando que ela investigasse se você tinha algum envolvimento nisso. Aquilo está um inferno! E não é uma terrível coincidência! — ela fechou as mãos em punho, elevando a voz — Agora me diga, aonde eles estão?

Minha morte estava terrivelmente próxima, todas as cordas imagináveis se enrolavam em meu pescoço. A única coisa que eu podia fazer era adiar o evento. Os resultados seriam os mesmos. Hoje, amanhã, ou semana que vem.

— Maya, você não está pensando direito — levantei minhas mãos em rendição, persuasiva.

— Se você não me disser por bem, será por mal.

Maya avançou. Talvez pela aula de Krav Maga ter sido no mesmo dia, ou Maya não ter treinado especificamente para lutas corporais, tive facilidade em lhe dar um dos golpes que memorizei. Mantive os joelhos flexionados para ter mobilidade, fechei os punhos e trouxe o cotovelo direito para perto do corpo, o qual virei levemente para a direita; girei o torso até ficar de frente para ela, enrijeci o corpo e respirei regularmente, potencializando o soco. Mirei no meio da mandíbula, utilizando a forma sideswipe, atingindo-a pela lateral, forçando sua cabeça para o lado para que seu cérebro quicasse nas paredes do crânio, provocando a inconsciência. Ela caiu como um saco de batatas no chão. Simples assim. Fiquei ainda em posição de ataque por alguns segundos para garantir de que não acordaria. Depois, num impulso incontrolável, corri em direção à saída, não pensando o suficiente para procurar alguma arma nela que a colocasse em vantagem quando acordasse.

Embora minhas pernas estivessem trêmulas, fosse por esforço ou medo, encontrei um instante breve para me sentir orgulhosa de mim mesma. Tive vontade de voltar e tirar uma foto para apresentar ao meu professor, Caitlin e Ryan, o meu feito. Frágil é uma ova.

Passei atrás da máquina de validação do estacionamento ofegando. Maya não ficaria desacordada para sempre, então redobrei minhas forças, me impelindo pela rampa em direção ao fenômeno do sol largando seu turno no dia para ceder espaço à lua. Havia um ponto em frente ao shopping, e mesmo sem saber qual o destino do ônibus prestes a sair — ou se tinha dinheiro suficiente na bolsa para pagar a passagem — agitei os braços acima da cabeça, tentando dar sinal ao motorista para que parasse.

No meio da minha corrida desesperada, me sobressaltei com a manobra de um porshe preto estacionando muito próximo ao meio fio sem que desligasse o motor. A porta do carona se abriu e a voz ordenou:

One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora