Dança Mortal

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— Tem certeza disso? — sussurrei angustiada, tropeçando em meus próprios pés atrás de Justin. Ele me firmava com a mão forte na minha, parecendo não sofrer pela ausência de luz. Era muito fácil me esquecer de que fora ensinado desde o nascimento a andar nas sombras como se fosse parte delas.

Justin argumentara que Maya deveria ficar no quarto, afirmando que seria mais seguro para ela. Resolveríamos nosso problema com Annelise e voltaríamos para buscá-la no máximo em uma hora, previu. Suspeitei de que sua verdadeira motivação fosse nos livrar do atraso que ela representaria a nossa fuga, mas surpreendentemente, Maya concordou com ele, e assim meus protestos foram interrompidos ao meio. Todos nós sabíamos que Maya também era considerada uma traidora da Companhia agora, mesmo que não tivesse mencionado palavra alguma sobre os segredos de George, portanto, facilmente se enquadrava na lista de alvos da loura sanguinária.

— Depois que nos encontrar, Annelise não terá oportunidade de procurar mais coisa alguma — respondeu no tom mais baixo possível, o qual me esforcei para ouvir.

— Ela vai nos encontrar? — a surpresa me fez esquecer de falar baixo. Justin paralisou instantaneamente e eu me choquei contra suas costas, um arfar surpreso escapando dos meus lábios. Ele me segurou pelos braços para me equilibrar.

— Shh — repreendeu, próximo ao meu ouvido. Quis dizer que eu não tinha culpa de ser uma criatura diurna, mas mordi a língua.

— Confia em mim, já te explico.

Continuamos o caminho em silêncio absoluto, nos tornando parte do murmúrio de um hotel adormecido, o ronronar suave dos hospedes em mais uma noite de sono, alheios ao demônio que circulava pelos corredores, envoltos em lençóis acalentadores; uma respiração mais forte aqui e ali e... ah meu Deus. Apressei meus passos para sair da frente daquela porta, instigando Justin a também fazê-lo. Tive a impressão de que seus ombros se sacudiam numa risadinha enquanto eu corava. Encontramos a escada e ele diminuiu o ritmo de suas passadas, era melhor que nos atrasássemos devido ao meu progresso lento e eficaz do que se saísse rolando degrau a baixo.

Ainda subíamos quando o visor do meu celular acendeu em decorrência de outra mensagem. Parecia impossível que Annelise já conseguira meu novo chip, mas sua segunda ameaça era prova da capacidade assombrosa.

"Estou quente ou fria?"

Paramos para varrer os olhos a nossa volta e constatar seu estado mais frio possível. Para mim não adiantava muita coisa, mal podia enxergar os contornos do corpo de Justin bem a minha frente, por mais que a essa altura meus olhos já se acostumassem a escuridão, Annelise podia muito bem estar atrás de mim e eu não veria. Mais e mais degraus e ficou complicado de respirar sem produzir som algum, o coração acelerado de adrenalina dobrou seu ritmo por esforço correspondendo a transpiração que deslizava minha mão na de Justin. O prédio tinha uns quinze andares, presumi, e pelo que me constava, Justin planejava nos levar até o telhado. Levando em conta que nos hospedamos no terceiro andar, ainda me restavam muitos lances de escadas para subir. Provavelmente teríamos que lidar com um desmaio de exaustão dali alguns segundos. Repudiei Annelise e sua disposição para fazer joguinhos. Arrumara homens mal-humorados para guardar as saídas enquanto brincava de gato e rato conosco. Aquela mentezinha diabólica inconveniente.

— Ok — expirei — apoiando-me nos joelhos com a língua de fora — Preciso de um tempo. A respiração de Justin estava levemente alterada, mas, a minha, uma pessoa sedentária de vinte e dois anos, assemelhava-se a um conjunto constante de últimos suspiros.

Tateei para sentar no degrau, sentindo a ardência muscular latejante em minhas coxas e panturrilhas. Passei a mão no rosto, limpando a umidade e segui para uma organização superficial dos meus cabelos.

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