Nós

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— Oi, galera, essa é a minha amiga Maya. Acho que Ryan, Caitlin e Rafael se lembram dela — decidi ser a primeira a falar, aproveitando-me do choque deles. Eu não queria que Caleb e Hanna soubessem da historia trágica que envolvia minha ligação com Maya. Para isso, eu teria que contar o motivo de estar em Minneapolis, depois, que ela me ameaçara — meu abdômen ainda se ressentia pelo golpe que levei. Seria muita reprovação para um encontro só.

Ryan, Caitlin e Rafael se entreolharam. Passei direto por eles, abandonando Maya para trás e abrindo meus braços para Hanna.

— Han! — forcei um pouco mais animação do que eu sentia, no intuito de amenizar a possível raiva que a dominava.

Hanna sempre foi bem maleável, ela era mais coração do que cérebro. Então, se inicialmente foi como abraçar uma pedra, gradualmente foi amolecendo e envolvendo os braços ao meu redor, quase me esmagando contra ela.

— Sua jumenta! Te odeio! — sua voz já estava trêmula.

Naquele abraço, percebi o quanto sentia falta dela mesmo que não pensasse nisso. Convivi com Hanna diariamente durante três anos. Antigamente, ninguém me conhecia como ela. Chegamos a um nível de intimidade que tínhamos praticamente uma conversa inteira só com o olhar. Éramos Yin-yang, Chris e Greg, ou simplesmente, Faith e Hanna.

Emotiva como estava, senti o impulso de abrir minha alma pra ela como sempre. Desde que Justin aparecera, eu tinha vontade de gritar para o mundo inteiro que ele existia não apenas na minha mente. Entretanto, com Hanna era diferente. Contar-lhe uma coisa dessas parecia mesmo fazer toda a diferença no meu mundo.

Hanna me afastou pelos ombros para me fitar, o rosto levemente corado e os olhos úmidos. A expressão chorosa adquiriu um traço de curiosidade conforme me encarava. Subestimei sua capacidade de ver através de mim, então, com medo de que visse demais, me desvencilhei dela, partindo para Caleb.

Ele me envolveu protetoramente. Às vezes, eu odiava os abraços de Caleb. Fazia-me sentir extremamente frágil, vulnerável, como se ele fosse minha casa, onde eu podia deixar aflorar os mais profundos sentimentos. Foi pior o fato de ele não ter dito nada, apenas me dando um beijo na testa, provando que sempre seria meu ponto de apoio.

Barrei a nova onda de sentimentalismo, evitando que o aperto na garganta expulsasse as lágrimas não desejadas.

— Senti falta de vocês — admiti, me afastando antes que me desmanchasse.

Eles deram meio sorrisos, se entreolhando. Entendi a mensagem que trocavam como "Como podemos jogar bronca agora?".

— Acho que precisamos conversar — Caleb disse com hesitação.

Como eu poderia lhe contar uma coisa daquelas?

— Claro. Eu só vou... — procurei por Maya ainda estagnada para fora da porta feito um animal sob ameaça. Caitlin não lhe dava espaço para passar. Estendi minha mão a ela — Vamos, Maya. Só preciso acomodá-la — dei o aviso geral — Já volto.

Puxei-a comigo, e só assim ela conseguiu passar pela barreira. Eu escapara de uma bronca inicial, mas a tensão se solidificava a minha volta, um aviso sútil de que a tempestade só se fortalecia.

Apressei o passo pelo corredor e abri o quarto, trancando quando já estávamos dentro. A partir daí, me esqueci da presença de Maya, correndo para a janela ao lado da cama. Destravei a tranca e empurrei o vidro para cima. Esperava pelo menos um guincho como alerta de que eu a abrira, mas só se ouvia minha respiração.

Coloquei metade do meu corpo para fora e chamei num sussurro:

— Justin!

O carro ainda estava ali, pelo menos. Apertei os olhos para procurá-lo dentro da lataria. O lado do motorista estava vazio.

One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora