Corpo e Alma

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JUSTIN.

Eu tinha conhecimento de que ela ficaria furiosa. Podia deliberadamente visualizar as rugas de desaprovação afundarem-se nos cantos de sua boca sem dificuldade. Elencara todos os motivos possíveis pelos quais não deveria voltar à sua vida, e ainda assim, ali eu estava. Observando-a adormecer em meus braços, não me culpei. Faith dormia tranquilamente em meu peito em contraste com as circunstâncias que nos encontrávamos, serena e fascinante. Com cuidado, delineei os traços de seu rosto, não me preocupando com a desculpa que deveria inventar por ainda estar acordado, fixado em seu rosto, caso ela despertasse.

Honestamente, o motivo que gritara tão ardentemente a ponto de submergir minha consciência estava diante de mim. Argumentei comigo mesmo que não podia abandoná-la a própria sorte, tomando-a como minha responsabilidade. No fim, Faith realmente precisava de minha ajuda, então a próxima mentira que contei a mim mesmo foi me limitar a cuidar de sua segurança sem me deixar envolver outra vez, e assim, retornaria imediatamente ao Canadá. Deveria saber, envolver-me à sua presença era um modo de dizer que subestimava o que aquele ser franzino podia fazer comigo.

Em um mundo idealizado utopicamente, viver com meus irmãos e minha mãe era suficiente, não precisava de mais nada. Mas surpreendi-me ao sentir-me incompleto, o pedaço faltante possuía nome e personalidade certa. Sem escrúpulos, podia afirmar que a beijaria no segundo em que seus olhos alcançaram os meus, despertando centelhas adormecida em meu cérebro. Então é assim que nos sentimentos vivos? Pensara. Preocupei-me com sua dor durante todos aqueles meses, a qual durava mais do que o esperado, e ignorei completamente quão fria era a sensação de ser invisível aos seus olhos. Não havia como negar, Faith Angel Evans detinha monopólio de todas as minhas decisões.

Para mim, voltar temporariamente a sua vida não danificaria o cerne do meu ato altruísta, podia ver que ela finalmente estava seguindo em frente, então não me quereria de qualquer forma. Se eu achava que conhecia emoções contrastantes antes, me enganara bem como é feito para induzir criancinhas a acreditar em Papai Noel. Imaginar Faith nos braços de outro homem amarrava minhas tripas uma a uma e as puxava para fora pela minha garganta ao mesmo tempo em que me reconfortava saber que ela ficaria bem. Estar ao lado dela ampliava essa noção, rompendo com uma navalha gasta todas as minhas articulações.

Então, a noite passada aconteceu. Experimentei seu corpo inteiro reagir a mim inebriadamente, tateando às cegas os prazeres exclusivos que nós dois juntos produzíamos, como uma nota musical fora da escala melodiosamente mais intensa e envolvente que todas as outras. O caos se formara, quase a possuí ali mesmo, ansioso para desvendar todos seus cantos ainda desconhecidos por mim. Eu a queria por inteiro. Não podia idealizar nada mais arrebatador do que me afogar em seu cheiro.

Cobicei seus lábios rosados e carnudos entreabertos e prendi a respiração. Todos os planos se realinhavam discricionariamente em minha mente. Decidi que a névoa exalada de seu corpo não me permitiria pensar direito, forcei meu autocontrole ao máximo e pulei para fora da cama cuidadosamente, temendo acordá-la. Vesti a camisa de Caleb que deixara dobrada perto de mim e flagrei as pálpebras ligeiramente trêmulas de Maya. Instantaneamente, meu olhar desceu para seu pescoço moreno indefeso, as veias cheias de sangue abrigavam o veneno existente por trás de sua couraça atraente. Flexionei meus dedos, medindo a força e tempo necessários para privá-la do oxigênio que a mantinha injustamente respirando. Minha visão periférica ainda recebia a imagem de uma Faith desacordada e enrolada aos lençóis a apenas alguns centímetros de mim, tornando mais concretos os berros e tapas que ela me daria se deparasse com aquele verme jazendo em seu sofá. Por algum motivo totalmente incompreensível, Faith se importava com a vida de Maya.

Provavelmente resultado da força de ódio que eu lhe lançava, a assistente pessoal de George não conseguiu prosseguir com seu papel de bela adormecida, direcionando seu olhar de animal em extinção para mim. Caminhei tranquilamente para perto dela e agachei à sua frente de modo que sentisse sua respiração bater em meu rosto devido à proximidade. Se houvesse respiração, já que ela paralisou todos os membros do corpo em alerta.

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