Nosso dia tinha realmente sido incrível, a gente tinha conseguido ficar juntinhos, os três. Fomos pro shopping mas pra ir na área de brinquedos, ficou os três brincando em tudo, parecia três crianças. Eu valoriza MUITO esses momentos com a Antonella, minha filha precisa ser criança e a presença dos pais é a coisa mais importante do mundo, digo isso porque meus pais sempre foram muito presentes, até na minha fase mais rebelde da vida. Depois de muito brincar, minha pipoca finalmente cansou e arregou pra fome, fomos numa pizzaria, jantamos juntos até voltarmos pra casa.
- Cuidado pra não cair filha. - Falei quando o Bernardo tirou ela do carro e ela já foi correndo garagem a dentro de casa. -
Bernardo me abraçou, me agarrando e me escorando no carro, se enfiando entre as minhas pernas.
- Nem acredito que a gente já vai viajar amanhã. - falou cheirando meu pescoço. -
- Idiota. - eu mordi o queixo dele. - Se comporta.
- Prometo que a gente não vai ficar mais um dia longe. Confia em mim?
- Claro que eu confio em você. - passei minha mãos pelos seus cabelos entrelaçando meus dedos nos seus cabelos. - Eu amo você, confio em você e confio na gente.
- É isso. - ele disse sorrindo e entrelaçando e segurando minha nuca. - Eu só preciso de nós, da nossa família. - dei um selinho nele e sorri enquanto entrávamos em casa. Meu pedaço de gente tava deitado no tapete da sala, com toda certeza fazendo preguiça pra ir tomar banho, Bernardo ligou a TV e tava passando jornal. -
E como sempre o soco de realidade que é quem não tem privilégio nenhum nessa cidade vem na nossa cara, basta um instante assistindo noticiário.
- Mamãe, porque a moça tá chorando? - ela falou apontando pra TV e veio mais pra perto de mim. -
- Ela perdeu a neném dela, filha. Infelizmente.
- Tadinha, né mamãe?
- É meu amor. Você não entende muito agora, mas um dia a mãe promete que vai explicar tudo sobre isso - dei um beijo na cabeça dela e acariciei seus cabelos. - Agora vai subindo que já já a mamãe sobe pra ajudar você, tá?
Na TV passava uma reportagem sobre uma criança morta de bala perdida, no Complexo da Penha. Na TV o depoimento da mãe que não conseguia dar uma palavra sem chorar. 10 anos de idade e a menina estava morta, já. Estatística. Era massacrante sempre que eu parava pra ver notícias assim, você precisa sair da bolha, você não pode só não ser racista, você tem que ser anti racista. Minha filha não entende ainda, mas um dia ela vai entender sobre os privilégios que ela tem e no que depender de mim, ela em hipótese alguma, vai viver numa bolha.
Observei ela subindo as escadas e olhei de soslaio pro Bernardo, eu conhecia o maxilar travado dele, ele estava puto. E não era pra menos, é muito difícil ser a exceção. E olha que ele não trabalha na rua direto, a função é completamente diferente. Mas eu lembro que eu tava com ele quando ele foi aprovado no concurso e ele ficou TÃO feliz e com o tempo e todas essas situações, ele foi aos poucos ficando cada vez mais infeliz nesse trabalho. Ou você tem sangue de barata ou você surta. E eu preferia meu marido do jeito que ele era, surtado em ver notícias como essas.
- Fica calmo. - falei segurando a sua mão. -
- Isso tudo é uma merda.
- Eu sei, mas tá acabando, né? - ele assentiu e eu dei um beijo nele subindo pra ver como a Anto tava. -
Gatinha? - falei da porta do quarto e recebi um oi como resposta.Ajudei ela a terminar de banhar e a se vestir e fiquei com ela no quarto até dormir. Era angustiante saber que enquanto tenho a oportunidade de ter a casa que tenho, a família, o dinheiro, enquanto eu to tendo a oportunidade de ninar minha filha pra dormir, muitas mães seguem tendo medo de apenas serem mães, da incerteza de saber se o filho vai voltar pra casa e como vai voltar. Viver fora da bolha com a realidade que a gente encontra dói, machuca. Mas nunca da mesma forma de quem sempre viveu a margem.
- Dorme com Deus, meu amor. Mamãe te ama muito.
Fui pro quarto e o Bernardo tava tomando banho, aproveitei pra entrar no banho com ele e apesar de várias mãos aqui e ali, não rolou nada, tava me resguardando pra nossa viagem.
- Você vai acabar me matando assim. Ainda tem tantas horas pra chegar lá. - ele disse me observando me vestir no closet. -
- Então fica quieto.
- Amor, não tem como ficar quieto com você. - Ele me pegou pelo braço e me puxou mais pra ele, alisando e apertando minha cintura. - Chupa, vai. - falou mordendo meu pescoço, me arrepiei. -
- Você... - fomos interrompidos pela batida na porta. - Oi! - Sai do closet e quando cheguei no quarto vi aquele pingo de gente com o paninho que ela sempre usa pra dormir na mão.
- Quero dormir com a mamãe e com o papai.
- Por que filha? - Antonella sempre foi acostumada a dormir sozinha, até mesmo quando era bebê, era raro ela querer dormir com a gente - Você teve pesadelo?
- Não, mamãe. - observei o Bernardo passar por nós e sentar na cama. - Mas a mamãe e o papai vão viajar e eu vou ficar com saudade, então quero dormir com os dois.
Eu quis morrer, meus olhos já brilharam de lágrima na hora. Se eu pudesse eu cancelava a passagem no mesmo instante e não deixava meu bebê aqui.
- Coisa rica da mãe, vem cá dormir com a mamãe e o papai então. - peguei ela no colo e fui pra cama com ela.
- Pai te ama, vai ficar morrendo de saudade também.
Coloquei ela no nosso meio e me deitei no meu lado da cama, Bernardo me olhou e sorriu, enquanto ela de aninhava mais nele mas jogava uma perna em mim.
- Amo você. - ele sussurrou e eu sorri. -
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VNCS - Flashs ✨
Fanfiction💛 não é minha primeira web. 💛 isso NÃO é uma segunda temporada, apenas um especial, com alguns flashs. 💛 pretendo ser rápida, mas não deixar pontas soltas e atropelar a história. 💛 plágio é crime, se for repostar, fale comigo antes. 💛 up são ma...