VNCS - Flashs ✨

69.

Alguns anos atrás...
VALENTINA.

- Porra de novo isso, já falei que você não vai caralho! - Bernardo falou enquanto tirava a roupa da farda e jogava no cesto de roupa suja, eu só queria chorar, chorar e chorar. A gente já tinha brigado sobre isso, eu tava grávida, tava frágil e tudo que eu menos queria era passar minha gravidez sozinha porque meu marido tá na puta que pariu. -

Não era nada disso que eu esperava pra minha gravidez, sabe?! Ele tinha tomado um tiro semanas atrás, ele não precisava voltar agora, eu sabia disso porque eu mesma tinha ido no hospital e o chefe dele tinha falado comigo. Mas mesmo assim ele quis voltar, ele tava se viciando nessa porra de trabalho.

- Vai pro caralho! Você não me manda, você não me da ordem. Não fode. - falei secando algumas lágrimas e mexendo no meu celular. - Eu não vou ficar trancada nessa casa sozinha, porque você não tá presente.

- E eu não to presente porque? An? Fala aí... - ele disse vindo até mim. - Já te falei, nossas coisas a gente resolve entre a gente. Sem lógica você querer ir pra casa da sua mãe, você é casada agora, tem casa, não tá na rua não. Se eu não to aqui é porque eu to trabalhando pra caralho, trabalhando pra poder ficar mais tempo com você quando a criança nascer. Tu não entende as coisas de propósito só pode.

- Não sei do que vai adiantar esse tempo quando a criança nascer se você vai morrer de trabalhar agora, aí quando ela nascer nem aqui vai tá. - ele segurou meu rosto levantando pra ele. -

- Cala a boca, cara! Olha a porra que você tá falando. Tá maluca?

- Você tá me machucando! - Na verdade não tava, mas não fode. Não encosta em mim! Ele me soltou e ficou de braços cruzados me olhando. - Você tá mudando e você nem percebe, deixa eu te falar uma coisa: do mesmo jeito que filho não segura homem, filho também não segura mulher. Não pense que vou aceitar todo tipo de coisa só porque eu to grávida, porque eu não vou.

- Nada tá bom pra ti, já percebeu? Eu me viro pra caralho pra ser presente, mas nada tá bom. Nunca te disse que era fácil, porra. E você aceitou. Aceitou sabendo de tudo. Agora não vem encher o saco falando do meu trabalho, toda vida é isso. Já tem tempo já, você já tá bem grandinha, tá na hora de perceber que nem tudo é do jeito que você quer. Eu não fico falando merda da porra do seu trabalho, podia ficar reclamando que você grávida vira a noite em festa, mas não reclamo, te conheci assim. Coube a mim aceitar o seu jeito e eu sempre aceitei. Não fode! Chego em casa e tem mais estresse do que se eu tivesse no caralho da fronteira.

- Sim, eu aceitei. Do mesmo jeito que você aceitou. Acontece que a pessoa que me fez aceitar parece que tá querendo ir embora. Eu já te disse mil vezes, Bernardo... eu te amo mais do que tudo. Te amo tanto que dói. Mas não pense, não pense mesmo que eu to aqui pra aceitar tudo. Acho que o tempo que a gente passou separado deveria ser o suficiente pra nós dois aprendermos.

- Namoral. - ele riu pelo nariz. - Não vou te dar ideia. Não é possível que eu não tenha direito de chegar nessa casa e tomar nem que seja um banho em paz. - Ele disse e foi pro banheiro e eu chorei, chorei e chorei. Tinha muito tempo que eu não brigava com o Bernardo daquele jeito, muitas coisas ele nunca nem tinha falado comigo como falou agora. Eu me sentia mal por tudo... -

- Vai ficar tudo bem. - falei pra mim e pra minha bebê, alisando a sua barriga. -

Atualmente...

- Hm e você quer que eu faça o que? - ele disse enquanto tirava a gravata. - Já fiz o que tu me pediu, tem tempos. O problema era a polícia? Sai. E aí? O que é o problema agora? - Eu juro que não queria começar uma discussão com o Bernardo, eu tava cansada e eu imaginava que ele também. Agora ele só tá trabalhando como advogado mesmo, não que eu me incomode, na verdade acho até ótimo. O problema é que já tinha quatro noites seguidas que era só chegava em casa pra dormir, eu sentia a falta dele, a Antonella então nem se fala, ainda mais que no começo eles ficaram mais do que grudados. -

Quando ele não trazia um milhão de trabalhos pra casa, ele ficava no trabalho por horas intermináveis e eu sabia bem o porque dele tá fazendo isso, ele não era acostumado com essa rotina calma e queria deixar a mesma rotina de sempre. Eu só tava tentando convencer ele, que talvez, ele precisava de terapia, que eu tinha alguém pra indicar, já que é a melhor coisa do mundo você fazer sessões com psicóloga...

- Bernardo...

- Não, po. Me diz! Qual o seu problema agora? O que é que tá pegando?! Me diz porque aí eu vejo se tem como eu abrir mão pela rainha também. - falou estressado. -

- Você tá me magoando, não fala isso. To tentando conversar direito com você. Eu disse quando você me falou que ia sair pra não fazer isso, não por mim, eu sabia que isso ia acontecer e você ia jogar na minha cara. Se era tão importante pra você ao ponto de você surtar por tá longe daquela merda, nem que eu me virasse, como eu venho me virando em todos esses anos, eu ia aceitar.

- Porra, nada é bom o suficiente pra você. Eu me
viro pra caralho, pra caralho mesmo, mas não é o bastante. Tu acha que to trabalhando lá que nem
corno porque quero? Não, filha. To trabalhando porque sempre tinha deixado tudo pro meu sócio, porque eu tinha outro emprego, mas agora é só esse, vai ter muito trabalho igual. Não quero me estressar contigo, se é que tem como, já que você já conseguiu me estressar. Vou tomar um banho e depois a gente conversa. - Ele saiu em direção ao banheiro resmungando e parecia até que eu tava vivendo a mesma cena de quando tava grávida da Antonella. Respirei fundo umas mil vezes e fui até o quarto da minha bebê, ela tava deitada na cama, provavelmente já tava dormindo, me abaixei alisando seu cabelo e me surpreendi quando ela virou pra mim. -

- Oi amor, porque você tá acordada? - falei alisando seu rosto. -

- A mamãe e o papai estavam brigando? - ela disse me olhando com aqueles olhões curiosos. -

- Não, filha...

- Pareceu.

- Mas nem tudo que parece, é. A gente não tava brigando, tá bom? - ela assentiu. - E você deveria ta dormindo, mocinha. Vem cá com a mãe, vou colocar você pra dormir. - falei me deitando na cama com ela e fazendo carinho, até sentir a sua respiração pesar e perceber que ela finalmente tinha dormido. -