95.

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08.

KAIO.

Por muito tempo na minha vida, desde quando minha mãe faleceu, eu recebi cartas, alguns vídeos, arquivo de áudio. Todas essas paradas! Tudo feito por ela, parece que ela passou os dois anos que ela escondeu a doença de mim, arranjando um jeito de se despedir de mim.

E na verdade, acabava que nunca se despedia. Minha mãe nunca tinha se despedido de mim. Porque eu sempre fiquei com aquilo de esperar a próxima, um: será que tem mais? Sempre presente no meu peito. As cartas e tudo que ela deixou pra mim, me afetavam muito, mexiam comigo.

E apesar de achar que sempre faltou uma despedida, dessa vez, veio! Tinha muito tempo que eu não recebia nada, muito mesmo e agora, finalmente eu recebi a nossa despedida.

- Era você o tempo todo? - eu perguntei olhando pra Isadora, que tinha algumas lágrimas nos olhos e acaricia meus ombros. -

- Sim!

Na última mensagem, minha mãe mais agradeceu a Isadora do que falou comigo, agradeceu por ter enfrentado tudo pra gente ficar junto, inclusive ela. E principalmente, agradeceu por mudar minha vida e ter ajudado tanto no final da vida dela.

(...)

- Pai! PAAAAI! - escutei a Júlia me gritar. -

- Já vai, cara. - desci as escadas e fui até ela que tava na cozinha. - Quê que foi?

- Pai, você pode me levar na casa do João. Todo mundo vai pra lá.

- Ih! Que João é esse?

- Ele estuda comigo né pai, olha. A mãe dele mandou recado na minha agenda. - pegou a agenda que tava em cima da mesa e me mostrou, falando que era aniversário desse moleque, coé. -

- Você falou com sua mãe? Oh, Júlia... ela não me disse nada disso não.

- Ela deve ter esquecido, pai. Mas preciso do senhor pra poder me levar lá, einnn! Vamos, não quero chegar atrasada.

Porra! Era só o que faltava, Isadora também não me diz nada. Mas vou né, bom que vejo qual é disso aí. Liguei pra Isadora enquanto me trocava e ela disse que realmente tinha esquecido de me avisar, mas o presente do garoto tava no nosso guarda roupa.

Levei a Júlia até lá, entrei com ela. Tenho que tá de olho em tudo, não importa se só tem 10 anos. Ela entregou o presente e já foi abraçando o molequinho, saindo correndo pra lá. A mãe do menino me cumprimentou e disse o horário que acabaria.

Garota nem do pai se despediu, perdi até de vista, ver se pode uma porra dessas. Eu ein! Cheguei em casa e a bonitona já tava lá, com o Vinícius dormindo no tapete da sala.

- Que lindo, meu Deus. Que homem cheiroso o meu marido. - disse quando me aproximei dela no sofá e me deu um beijo. -

- Olha só o que eu achei! - falou e me mostrou uma foto nossa na nossa primeira viagem juntos só nós dois. Júlia tinha ficado com a mãe dela e a gente tinha partido pro Maranhão, viagem top, cada pico massa e ainda mais com minha gata do lado. Não tem erro, né? -

- Po, né por mal não, mas teu homem é gostoso, que isso, olha ai! Tenho que voltar a treinar.

- Gostoso e meu. Só meu. - dei um beijo nela e me deitei em seu colo. -

Mais tarde, tinha ido com o Vinícius e a Isadora pegar a Júlia na casa do menor, buscamos ela e fomos da um rolê família no shopping. Papo de cinema e tudo mais, minhas crianças se amarram e eu gosto pra caralho também.

Enquanto andava com a Isadora de mãos dadas e os dois iam um pouco mais na frente, lembrei do que minha mãe me disse na última vez.

"Não sabia como estaria sua vida um pouco antes dos 30 meu filho, até conhecer e ver o que você era pra Isadora e o que a Isadora era pra você. Quando mamãe não tiver mais aqui, o que não vai demorar muito pra acontecer, eu vou saber que estou indo mas deixando você capaz de segurar o mundo nos seus braços. Você merece tanto."

E tudo que ela falou era verdade, eu nunca fui um cara que precisou de muitas coisas pra aproveitar avisa, não... longe disso. Mas, quando você cria a família que eu criei e tem um amor tão grande, você realmente percebe que nunca precisou de nada além disso.

- Sabe o que eu pensei a semana inteira. - falei enquanto abraçava a Isadora na fila da pipoca. -

- O quê? - ela disse alisando meu rosto. -

- Que você nunca me explicou toda a história das mensagens, eu jamais iria pensar que tinha sido você.

- Eu tenho meus mistérios né... - ela disse sorrindo. - Mas sério, eu não tenho o que explicar. Eu sou mãe também, acredito que faria o mesmo pelo meu filho. Sua mãe te amava loucamente, amor. Ela fez questão de deixar isso claro. E, eu te amo! Faria tudo novamente por você, pra você ter os seus momentos.

- Linda! Amo você, minha noiva. - sorri e lhe dei um selinho. -

- Aí eu não aguento, depois de anos casada, sou noiva do meu maridinho. - ela disse rindo. - Ainda nem me acostumei tá? - me deu um beijo. - Amo você.

Não demorou pro sossego acabar porque a Júlia veio tagarelando que o Vinicius tinha feito alguma coisa e ele reclamando dela ter reclamado e por aí vai, mas porra, não troco isso por nada!

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