A Ascensão de Líang

Capítulo 7

Sinto seus dedos passarem em meu rosto o acariciando e fecho os olhos tentando resistir ao medo e repulsa que seu toque me proporciona, sinto meu corpo ser erguido em seus braços e sou colocada novamente na cama.

- O médico imperial disse para descansar... Pelo bem do bebê.

Ele fala pausadamente, sua voz é suave como veludo, sinto ele me cobrir e então abro os olhos.

- O rapaz vai poder a acompanhar e poderá conversar com ele sempre que quiser.

Semicerro os olhos tentando ver o que há por trás de suas palavras.

- Que tipo de plano cruel consiste em me deixar ter contato com meus aliados? Diga Yáng Shun o que está tramando?

Digo mantendo meus olhos nos seus, ele baixa a cabeça e afasta sua mão do meu rosto.

- Entendo porque pensa assim de mim mas não tenho nenhum plano contra você... E ele é apenas um garoto assustado... Sei que ele servia a Shang Lín e achei que fosse se sentir avontade com ele, mas se é assim que agradece eu o mandarei de volta ao calabouço.

O escuto falar e sinto minha garganta secar, ele se levanta e passa ao meu lado em direção a porta, meu coração bate forte e mil diferentes pensamentos rodeiam minha mente, o seguro rápido antes que saia, ele se vira para mim olhando para minha mão que o segura pela manga.

- Espere.... Obrigada, peço desculpas por minhas duras palavras.

Abaixo minha cabeça levemente como se estivesse fazendo uma reverência, me sinto fraca.

- Alguém!

Ele chama voltando a se sentar a minha frente, ele sorri para mim, desvio meus olhos dele e vejo uma serva entrar rápido trazendo uma bandeja, ele a pega de suas mãos.

- Saia!

Ela faz uma reverência antes de o obedecer e passa seus olhos por mim antes de se virar e sair.

- Eu espero que entenda que não desejo o seu mal.. nem da criança.

Noto algo diferente em sua voz quando ele cita meu filho e imediatamente cubro minha barriga com as mãos como se assim pudesse o proteger, sua voz soa suave mas cada palavra que sai de sua boca soa para mim como uma ameaça.

Ele sopra sobre uma tigela fumegante e então leva uma colher de seu conteúdo até meus lábios fechados.

- Coma!

Ergo meus olhos até os dele, sua expressão está suave e há um pequeno sorriso em seus lábios.

- Por que sempre foi tão teimosa? Quando éramos pequenos eu sempre sofria as consequências no seu lugar, eu me entregava porque tinha medo que pegassem você... Eu não entendia ainda que eles jamais a machucariam afinal era a filha favorita do imperador, não o príncipe refém de um estado subjulgado sem forças pra lutar.

Ele empurra mais a colher forçando meus lábios, sinto o gosto do ensopado invadir minha boca e o engulo.

- Éramos crianças, eu não entendia o porque nos tratavam de forma tão diferente, você era meu gēge... Éramos inocentes e inseparáveis... Naquela época eu jamais imaginaria que minha vida seria assim... Que nós seríamos assim.

Falo sentindo uma lágrima escorrer por meu rosto ao lembrar de nossa infância, correndo juntos, brincando e estudando, sempre um ao lado do outro, eu jamais imaginaria que ele seria o responsável por tamanha dor em meu coração.

Ele enxuga a lágrima que escorre em meu rosto e larga a tigela.

- Podemos voltar a ser como antes, eu a faria minha imperatriz e todos a respeitariam, eu a levaria para cavalgar e faria poemas todos os dias apenas pensando no amor que tenho por você.

Ele se aproxima de mim e sinto um leve riso escapar por minha garganta.

- Você fala de amor... Fala de poesia e respeito, para alguém que promete poesias todos os dias falta entender que amar rima com renunciar, libertar e... Fingir que está tudo bem mesmo quando não está.... Entenda que nunca vamos poder voltar a ser como antes pois éramos inocentes... Ainda se considera inocente? Se tem mesmo algum sentimento por mim apenas garanta a segurança de meu filho e do que resta de meu povo, não os escravize e liberte os poucos homens que ainda estão vivos em seu calabouço...

Antes que eu termine de falar ele se levanta rápido derrubando a tigela de ensopado e sai batendo a porta atrás de si e me deixando novamente sozinha.