Assim que o médico sai imagino cautelosamente cada passo que devo tomar, cada movimento e cada erro que posso cometer ou armadilha que possa montar ou cair, como em um tabuleiro onde preciso derrotar o imperador em seu próprio jogo.
Olho pela janela vendo a estranha movimentação de generais que se tornou mais frequente nas últimas semanas, preciso tomar cuidado e pensar três vezes antes de cada movimento pensando sempre dois passos a frente pois não tenho tempo para dar um passo a trás e se cometer um erro ou for descoberta isso não custará apenas minha vida.
Suspiro e olho para minha barriga, se Yang Shun conseguir o levar para longe como planeja temo por sua vida e meu coração se enche de tristeza ao saber que nunca mais o verei, não escutarei suas primeiras palavras. Se o imperador decidir mantê-lo-lo afastado de mim não suportarei saber que o chama de pai imperial.
- Sinto muito meu pequeno... quero que seja livre como o vento que ninguém consegue enjaular.
Livre como seu pai, penso voltando ao silêncio, observo o céu alaranjado que já revela as primeiras estrelas da noite, brilhando dentre as nuvens, o vento úmido bate contra meu rosto e fecho os olhos sentindo o pequeno prazer de poder ainda sentir alguma coisa.
- Não deveria ficar exposta ao tempo... está fragil pode pegar um resfriado.
A voz me faz arrepiar porém respiro e me viro.
- Nós fugiamos para correr na chuva, apenas o vento não me fará adoecer... Você voltou.
Digo olhando em seus olhos tentando soar calma e não expressar nada em meu rosto, algumas servas entram carregando bandejas e as colocam sobre a mesa logo depois se retirando. O homem apenas me observa e então caminha até a mesa fazendo um gesto para que o acompanhe. Cerro uma de minhas mãos tentando controlar meus impulsos enquanto caminho em sua direção, ele me observa como um predador, não consigo ler sua mente mas tenho certeza de apesar do esforço ele também não o consegue.
- Lembro que eu que a arrastava para chuva comigo.
Ele fala assim que me sento a sua frente, sinto meu peito doer ao ver os pratos acima da mesa, todos típicos de Líang, uma mistura de tristeza e raiva lutam para assumir o controle, então sinto seus olhos sobre mim, como que a espera de que algo dentro de mim transbordasse.
- Sei que sente falta de casa assim como eu sentia quando estava em Líang, não tenho a tratado como merece, a pressionei de mais e não a protegi como o marido deveria.. isso quase lhe custou a vida, não é o bastante mas devo compensá-la.
Ele fala e coloca um pedaço de porco agridoce em meu prato, ele está quebrando as regras de seu próprio palácio ao me servir, me apresso em o servir disfançando sua ação.
- Não precisa me conpensar.
Digo tentando não transparecer na voz porém ela sai carregada de tristeza. Ele fica em silêncio pelo tempo de um incenso e então volta a olhar para mim.
- O médico disse que o veneno não afetou a criança e que seu corpo se livrou de qualquer resquicio que tenha engolido...
Apenas aceno com a cabeça e o vejo se levantar, estico minha mão e o seguro pela manga.
- Quando morava em Líang nunca tive permissão para sair do palácio e quando tentávamos sair ou criar confusão eu ficava presa em meu quarto.... por favor não me deixe presa aqui também..
Arrisco pedir o segurando firme, tento fazer uma expressão carregada de magoas mas que parecesse que estou lutando para a esconder, deixar que ele pense que está vendo o que quero esconder quando na verdade vê apenas o que deixo a frente de seus olhos.
- Certo... pode caminhar pelo jardim e ir a biblioteca a apartir de amanhã e em troca jantaremos juntos todos os dias apartir de hoje.
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A Ascensão de Líang
Romance"...ninguém nunca está preparado mas eu já morri quando o vi ser engolido pela escuridão..." A promessa foi quebrada, dois apaixonados que juraram a lua ficar juntos por toda vida foram separados, naquele dia Líang Mei sentiu seu coração ser tragad...