Cinco anos se passaram e Daley Hill enfrenta agora novas ondas de casos de morte e desaparecimento. Uma grande guerra no mundo sobrenatural está prestes a chegar, Harry precisará lidar com a volta do seu tão amado passado junto da nova obscura reali...
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Foi preciso inventar um motivo convincente sem levantar suspeitas. Chris decidiu dizer à polícia que seu pai havia sido assaltado na estrada entre Daley Hill e Green Hill. Levamos ele até o hospital, e foi realmente difícil toda a encenação.
Ajeito o casaco preto no corpo, retiro meu capuz em sinal de respeito e nem me importo com os olhares desnecessários, não hoje. Abro essa exceção pelo segundo pai que tive, Bruce foi muito importante.
Acolheu-me no momento que mais precisei, ensinou-me a lutar contra meus instintos animalesco, e me ajudou a superar barreiras. Sempre foi um bom conselheiro. Dói no peito a sua ausência, dói ver o caixão preto no meio de tantas pessoas que prestam suas condolências. Chris não deixa evidente suas lágrimas. Mesmo tentando demonstrar firmeza, qualquer um pode notar o quanto está devastado.
Naomi engancha o braço no meu, Dylan se posiciona ao meu lado, o restante dos garotos vai atrás, todos calados. Não há nenhuma palavra no momento, só tristeza.
Ao longe, enxergo meu pai, as mãos enfiadas no bolso do casaco preto, os olhos caídos, ele também sofria. Dylan olha para a mesma direção, mas se apressa em desviar seus olhos com medo de ser pego.
" Sinto muito por sua perda"
São sempre essas palavras, metade das pessoas daqui nem mesmo se importam. Todos sabemos o quanto somos julgados por aparentemente sermos tão misteriosos. Mal sabem que se preocupam com as pessoas erradas.
Do outro lado, enxergo um homem de casaco branco. Está distante e quase não pode ser visto, mas me atento ao seu olhar, concentrei-me em seu cheiro. Lembro da sua presença no alto da montanha naquela noite. Na noite em que Jason declarou guerra. Dylan o conhece, foram amigos no colegial, demorou para que Dylan se acalmasse ao descobrir as origens do rapaz. A amizade que criou com meu irmão foi minimamente planejada desde o primeiro segundo. Hunter queria que alguém estivesse por perto no momento de sua transição para arrastá-lo ao lado errado da força. Hunter o queria, ele nos queria.
Percebo Dylan se incomodar, e sei que enxergou o mesmo que eu. Vejo os punhos cerrados e toco seu ombro no intuito de demonstrar que precisa se acalmar. Seus nervos às vezes resultam em uma transformação indesejada, é sempre preocupante quando alguém se altera em público.
O garoto some, e Dylan se acalma. Mas meu peito se agita a cada terra jogada na cova. É totalmente devastador lidar com a saudade que já sinto, com o vazio que foi criado em meu coração. Naomi encosta o rosto em meu peito e abracei-a em sinal de consolo. Bruce sempre será lembrado entre nós, uma marca em nossas vidas que nunca irá se apagar.
O caminho de volta foi em silêncio completo, nós nos ocupamos apenas com as lembranças e o medo de como serão nossos próximos dias. Bruce era mais do que um pai, mais do que acolhedor, era o nosso Alfa. Estou diante de mais uma perda insuperável.
— Por que o Chris não voltou com a gente? — Caleb se pronuncia, quebrando o silêncio.
— Ele me disse que tinha que resolver alguma coisa, mas não parecia ser nada preocupante. — Vince responde, não parecendo se importar muito com o assunto.
Christian saiu ao lado da mulher que vi na comemoração de Natal. Percebi o quanto o abraço dela era importante para ele. No final das contas, Christian já encontrou o próprio refúgio, aquilo me parecia amor. Nunca o vi tão íntimo de alguém, e sinto que ela pode ajudá-lo a passar por este momento tão difícil.
— Christian combinou de nos encontrar às vinte horas na montanha, vamos prestar nossa homenagem ao Bruce ... Nem acredito que estamos passando por isso. — Nathan não consegue esconder a dor em sua voz.
Ver seu corpo caído ao chão, em meio a uma poça de sangue que havia se formado, foi, e ainda é, devastador. É impossível não me culpar por não estar lá antes de tudo acontecer. Jason o matou, usou suas próprias mãos para isso, e jamais, de forma alguma, isso será perdoado.
(...)
Como combinado, subimos a montanha, sentia o vento balançar os pelos grudados em minha pele, a lua cheia se torna evidente, ela nos fortalece e ao mesmo tempo nos domina. É árdua a luta até possuir autocontrole. Chegamos ao pico da montanha, Chris estava lá, observando o céu, posso sentir sua emoção e sofrimento.
Nós nos posicionamos lado a lado, Christian com seus pelos acinzentados, recebendo o vento gélido e inabalável, virou-se para nós. Seu olhar nos atingiu, demonstrando sua força e superioridade.
Não existem razões para não o aceitar como nosso Alfa. Christian é bom, leal, sábio e luta por nós como seu pai ensinou. Não espero por troca de olhares, e nem por pedidos, tudo o que faço, é demonstrar meu total respeito e obediência. Julian logo me acompanha, abaixando sua cabeça também. Em seguida, Naomi repete nosso mesmo ato e logo todos nos curvamos.
Sinto o cheiro de sua emoção. Christian sem mais demora, ergue a cabeça para o alto do céu, no seu mais potente e profundo amor, fazendo-nos acompanhá-lo em alto e bom som, evidenciando a eterna gratidão e devoção ao nosso eterno pai.
[...]
A realidade nos atinge de forma dura, mas sabemos que não existe outra forma, que precisamos seguir.
