CAPÍTULO 4

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										Datas comemorativas nem fazem mais tanto sentido, não sei se devo comemorar algo, não nessas circunstâncias

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Datas comemorativas nem fazem mais tanto sentido, não sei se devo comemorar algo, não nessas circunstâncias.

Caminho pelas ruas de luzes piscantes, relembrando momentos felizes que vivi aqui em Daley Hill, de como tudo parecia fácil e de como era bom me reunir com meu pai e Dylan para ouvir suas histórias a respeito de nossa mãe. Lembro-me de montarmos árvores juntos, e das guerras de bola de neve que Dylan e eu sempre provocávamos, e no fim, estava meu pai, feito criança, brincando no nosso meio.

Paro em frente à casa silenciosa, deixo duas batidas na porta, ainda ajeitando o capuz, com medo de ser visto por mais alguém. Embora não tenha do que fugir, gosto de não chamar a atenção, e mesmo depois de tantos anos, ainda sou julgado por ter partido daquela maneira. Fico pensando o que aconteceria se soubessem meus reais motivos. No mínimo seria expulso da cidade, e quem sabe do estado.

Ouço meu pai se aproximar da porta e dou alguns passos para trás, enfiando as mãos dentro dos bolsos, sem saber como reagir. Não nos vemos com frequência, só acontece durante no máximo quatro vezes no ano, é difícil estar aqui, mas faço isso porque sei o quanto precisamos um do outro.

— Boa noite, filho! Entre! —  Michael sorri de forma tranquila e emocionada ao mesmo tempo. Deixo um sorriso escapar enquanto ele abre espaço para que eu possa entrar.

Não há decoração, e a mesa, como sempre, está posta para três. Encaro os pratos e os talheres devidamente organizados, onde muitas vezes fazíamos nossas refeições com risadas e brigas entre Dylan e eu. Deixávamos nosso pai maluco com tanto alvoroço.

—  Não sabia se viria mais alguém. — Tratou de se explicar, depois de ficarmos um bom tempo em silêncio. —  Vou pegar o Peru. Pode pegar o vinho na adega?

—  Claro! —  respondo apressadamente, tentando fugir de minhas memórias.

Sentamos juntos, e como sempre, o silêncio paira no ar. Conseguimos trocar algumas palavras. Ele tem uma rotina exaustiva no trabalho, e é tudo o que se limita a dizer. Vez ou outra percebo seu olhar curioso em mim, e mesmo não dizendo nada, sei o que está pensando.

— Como estão as coisas em Green Hill? Muito frio por lá? — pergunta, tentando criar caminhos para chegar onde deseja.

— Está tudo normal, pelo menos por enquanto. E sim, muito frio. Não é diferente daqui! — Ele assente enquanto bebe um gole do vinho.

—  Entendo.

Michael mal parece ter ânimo para se arrumar, não como antes. As linhas de expressão marcam seu rosto com força. Suas feições cansadas sempre me deixam assustado, sei que se dedica muito ao trabalho para não passar tanto tempo fechado no vazio desta casa. Por mais que me machuque vê-lo assim, não posso ajudar. Não quero simplesmente voltar aqui e viver em uma cidade onde grande parte da população não me acolheria.

— E como — Limpa a garganta, provavelmente tentando camuflar a vontade imensa de me encher de perguntas. —, como está seu irmão?

Não existe uma forma mais leve de dizer que Dylan não pensa em voltar a vê-lo tão cedo. Nunca imaginei que meu irmão poderia ser tão rancoroso. Não dizer a verdade foi um erro tremendo, porém entendo os motivos do nosso pai, sei que não é fácil para ele toda essa situação, mas não sei o que fazer.

—  Ele está bem, ainda é o mesmo garoto birrento ... — Vejo um sorriso triste nascer em seus lábios. — Estou cuidando dele, fazendo o que posso. —  Afasto o prato já vazio, sem ter mais o que dizer sobre o assunto. — O jantar estava muito bom. Antes de ir, quero ajudar com a louça!! — Faço menção de levantar, mas sua mão toca a minha, fazendo-me parar.

—  Deixe como está, não se preocupe com isso. Só ... Queria lhe pedir que diga ao seu irmão que o amo ... — Sinto a sua dor sem precisar de muito esforço. — E que sempre será bem-vindo nesta casa.

— Digo sim, pai! — respondo ao levantar, e sou acompanhado por ele até a porta.

A rua está silenciosa, nosso bairro sempre foi assim, a maioria das pessoas nessa redondeza já beiram a meia idade, não há muitos jovens e diversão. Antes isso parecia ruim, mas agora vejo como um ponto positivo de morar aqui.

—  Feliz Natal, filho! —  Viro-me para ele, após colocar meus pés do lado de fora. —  Quando puder venha me visitar. Não precisa esperar o próximo natal, por favor! — Não é uma sugestão ou um convite, mas sim uma súplica do fundo da alma.

—  Pode deixar, pai! Voltarei em breve ... — Aceno para ele, deixando um sorriso no ar, antes de colocar o capuz e encarar a rua fria outra vez.

Não olho para trás, apenas volto a enfiar as mãos no bolso e caminhar nos cantos da calçada para não chamar muita atenção. Eu me limito a olhar para o chão esbranquiçado e diminuir meus passos, contemplando o silêncio antes de voltar para casa e encarar os caras que, provavelmente, estão altamente embriagados.

Durante anos passando por aqui, vi-me sendo levado pela direção oposta, só para poder passar em frente à casa de Eliza. Tento me convencer de que é apenas curiosidade, mas no fundo entendo que de alguma forma, dentro do meu coração ainda carrego a esperança de contemplar os olhos viciantes de Alice outra vez.

Minha vida após sua partida acabou perdendo o sentido. Passei meses tentando afastá-la de mim, do que sou e do mundo pesado que me cerca, para estar agora me lamentando por não a ter ao meu lado. Sei que seria egoísmo da minha parte ir atrás dela depois do que aconteceu naquela noite. Não consigo imaginar formas de privar qualquer mulher dos possíveis perigos que poderíamos encarar. E de certa forma, não consigo imaginar como poderia ser feliz depois de amar tão profundamente alguém que jamais posso ter comigo.

Finquei meus pés no chão quando me dei conta de onde estava. Ajeito o capuz, puxando-o em meu rosto. Fecho meus olhos e tento focar na casa amarela a minha frente. Ouço alguns barulhos de pratos, um som baixo ecoando pelo ambiente e algumas vozes misturadas. Deixo de focar nos ruídos, para tentar decifrar a música. Sinto a pele aquecer, e um sorriso espontâneo nasce em meus lábios.

'Westlife.'

Não é preciso mais esforços para saber que Alice está lá dentro. Acho que nunca vou entender o fascínio que ela tem por esse grupo, embora saiba que as músicas são boas. Lembro de várias vezes ouvi-la cantar baixinho, enquanto se distraía pelos cantos ou quando mergulhava em seu mundo literário sentada na grama do grande pátio do colégio, com os fones de ouvido em suas orelhas.

Estou tão perto dela, e ao mesmo tempo imensamente longe. Poderia passar a noite toda me escondendo entre as árvores para tentar vê-la, mesmo que não me enxergue. Continuo tentando prestar atenção no que acontece lá dentro, e sou surpreendido por passos no andar de cima. Logo a luz acende, é o quarto dela. O mesmo quarto que algumas vezes escalei, o mesmo quarto onde a beijei e pude senti-la adormecer em meu peito.

Sinto um grande aperto em meu interior, e um nó se forma em minha garganta. Alice abre a porta da sacada, e eu me apresso em se esconder atrás do tronco em meio às plantações. Ainda consigo enxergá-la, e quase não posso acreditar no quão linda ela está.

Ainda existe aquele rosto angelical que enganava qualquer um por camuflar toda a sua personalidade forte. E o seu cheiro continua o mesmo, como nos tempos de colégio. Alice está perfeitamente encantadora dentro do seu vestido azul de alças finas.

Cada segundo que admiro sua presença é o suficiente para causar reações em mim das quais havia esquecido. Sinto a pele esquentar, e anseio por tê-la comigo dividindo o mesmo espaço. Tenho um desejo quase incontrolável de tomar seus lábios em um beijo para poder exprimir toda a minha saudade.

Meu coração não economiza nas batidas, meu sangue pulsa rápido e tenho a sensação de que posso perder completamente os sentidos se ficar olhando-a por mais tempo.

Tudo ao meu redor é esquecido no momento em que seus olhos alcançam a minha direção. Sinto o ar faltar dos meus pulmões, Alice está com os olhos fixos e inexpressivos olhando em minha direção. Eu sei que ela não me enxerga, mas de qualquer forma prefiro pensar que ela me sente, assim como sinto o calor de sua presença colar em mim.

Alice Clark deixa um suspiro escapar, dá dois passos para trás, mordiscando os lábios, e no momento seguinte, a porta de vidro é fechada outra vez.

Volto a respirar calmamente, e me perco em meio a um sorriso bobo. Aquela mulher tem o poder de me transformar no adolescente que já fui um dia. Não o baderneiro e idiota que ela costumava mencionar, mas sim o Harry loucamente apaixonado que se escondia atrás de provocações sem sentido porque queria de alguma forma estar por perto da garota que amava.

Alice está na cidade, e Daley Hill agora volta a se tornar o único lugar onde eu sei que preciso estar.

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Amo isso😍
Volto quarta-feira com mais um capítulo.
Não esqueçam de deixar os votos. Até mais 💛

ACEITE-ME - OS LOBOS (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora