CINCO ANOS ATRÁS.
Ajeito o capuz de forma em que nem mesmo meus olhos, sejam vistos por outras pessoas. Apresso meus passos ao ouvir o aviso que ecoa pelas caixas de som. Ouço choro, sinto cheiro de tristeza e dor, tudo ao mesmo tempo. Sentidos e reações de outras pessoas sempre me atormentam, ainda não sei lidar com todas as mudanças que acontecem dentro de mim, às vezes é como se nunca pudesse me acostumar com a transformação. Apresso ainda mais meus passos, com o cuidado de não correr mais do que o necessário, ao menos a velocidade tem sido fácil de domar no meio de tantas complicações.
Tudo em volta é silenciado quando sinto seu cheiro doce, carregado de ansiedade e preocupação. Eu me escondo atrás da pilastra de frente ao balcão, Alice não nota minha presença, e mesmo que este seja o plano, isso me entristece. Eliza a abraça com força enquanto não economiza nas lágrimas, Alice não vacila enquanto tenta transparecer confiança, e de fato, essa é ela. Mesmo que tenha receios, nunca deixa transparecer, a garota confiante cheia de personalidade e determinação, é muito mais forte do que qualquer um possa imaginar.
Vejo Alice dar às costas para sua tia, que ainda permanece envolvida em lágrimas. Cada passo que dá até o portão de embarque, atinge meu coração, sua respiração pesada e o cheiro da tristeza que surge, deixa-me em alerta. Eu sei o que causei em sua vida, e se pudesse mudar tudo, faria. Nem mesmo pensaria duas vezes antes de poupá-la de tantos problemas, mas ainda não consigo imaginar como teria sido meus dias sem saber que Alice Clark estava a minha procura e que, de certa forma, carregou-me em seu coração, assim como a carrego até hoje.
Contenho o desejo absurdo e desesperador dentro de mim que insiste em correr e envolvê-la em meus braços, depois afagar seus cabelos castanhos que cheiram a flores, assim como o aroma da sua pele. Aperto meus olhos com força, respirando profundamente, assim como Bruce me ensinou nestes últimos dias.
O avião decola, leva junto com ele uma grande parte do meu coração, que até mesmo inconscientemente, entreguei para Alice Clark.
[...]
ATUALMENTE
Os dias frios e congelantes são os melhores, definitivamente. O nome da cidade nem faz tanto sentido agora diante da neve esbranquiçada que cobre boa parte das folhagens. Pessoas se limitam em se aconchegar no aquecido ambiente dos seus lares, enquanto predadores se limitam a aceitar que precisarão engolir seus anseios por ceifar vidas inocentes em busca de vingança.
Daley Hill tem sofrido ataques severos que logo ganharam atenção da cidade toda, e até mesmo do estado. Oficiais da justiça têm trabalhado arduamente na tentativa de encobrir todos os detalhes sórdidos e sanguinários encontrados nas matas. O lugar onde nasci, estava longe de ser o mesmo outra vez, e me assombra a ideia de pensar que talvez nem mesmo possamos proteger os nossos.
Ouço passos cautelosos se aproximarem do alto da montanha, depois de poucos segundos sinto o cheiro de Dylan, contenho a vontade de rir, ele tem se esforçado durante estes anos, mas ainda possui uma grande falta de técnica na caçada. Permaneço calado, não me movo, e me limito a colocar as mãos nos bolsos, deixando o lobo dentro de mim silenciado.
Dylan para, ouço sua respiração ofegante mesmo que um tanto controlada, dá até orgulho de tanta dedicação. No momento seguinte, sinto o chão tremer anunciando que meu pequeno lobinho está pronto para atacar. Permaneço parado, fingindo inconsciência dos seus atos, até que no último segundo liberto o animal dentro de mim, para logo depois sentir o impacto do Dylan, em sua melhor versão acinzentada.
Fomos juntos ao chão, Dylan se afastou retornando sua forma humana, com o semblante de garoto birrento que até agora não sabe esconder.
— Que droga!! O que eu fiz de errado dessa vez? — Ainda impaciente, chuta uma boa quantidade da neve.
— Primeiro de tudo: deveria se acalmar. Segundo: controlar essa sua respiração de elefante. — Dylan volta a me olhar, mas desta vez imita um riso forçado. — Veio até aqui só para me "atacar"? — Faço aspas com os dedos.
— Não, vim aqui porque queria fugir do Christian e suas regras chatas de conduta. Sinto falta de casa, confesso. E olha que o Michael também não é nada pacífico. — Dylan encara o horizonte enquanto deixa um alto suspiro escapar.
— Eu entendo, Dylan! Também sinto falta de casa, da minha vida e de várias outras coisas. — Caminho ao seu lado para descansar meu braço em seus ombros. — Mas essa é a nossa realidade.
— Pois é, mas o Michael não escolheu o mesmo caminho, e parece que foi fácil pra ele! — Sua frase é carregada de rancor. Ouço as batidas do seu coração cada vez mais rápidas, indicando seu nervosismo.
— Não foi fácil, Dylan, custou a vida dela. Ele se arrependeu por tudo, e ainda se culpa, mas continuou lutando por nós. — Dylan se afasta, esfregando as mãos em seu rosto.
— Não entendo como consegue defendê-lo tanto, Harry!! Por culpa dele crescemos sem a nossa mãe... Se não fosse por ele, ela estaria aqui, tudo teria sido menos doloroso...
— Sim, não tenho dúvidas. E sinto falta dela todos os dias da minha vida. Nosso pai só achou que poderia protegê-la, ele também sentia medo de encarar esse mundo. Agora nós estamos tendo a oportunidade de fazer o certo.
— Não tenho certeza se isso é certo, Harry. — Suas íris amareladas se tornam evidentes, e sei que é hora de me calar. Dylan não aprendeu a lidar com o controle emocional, não em relação a este assunto. — Não temos nada a perder, nem eu e nem você!
— Dylan, acho melhor voltarmos... Bruce deve estar esperando por nós.
Dylan apenas assente, suas expressões se suavizam um bocado depois do seu esforço.
— Que tal apostar uma corrida? — Seus olhos se erguem até mim, com um misto de ansiedade e confiança após ouvir minha sugestão.
— Se eu ganhar, quero dois dias de folga. Não aguento mais esses treinos chatos do Christian. — Tento responder, mas sou interrompido. — E não venha me dizer que não pode, porque ele gosta de você e sempre considera seus pedidos.
— Como quiser! — Ergo os ombros e percebo sua desconfiança. — No três?
Antes mesmo de começar a contar, Dylan já está pronto exibindo seus pelos, que recebem agora alguns flocos de neve que se perdem ali. Seus olhos me analisam fazer o mesmo até que me posiciono ao seu lado. Deixo Dylan tomar vantagem por um tempo, gosto de deixá-lo pensar pelo menos por um segundo, que pode me vencer.
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Um capítulo curtinho de início, só para preparar vocês para tudo o que está por vir.
Volto na quarta-feira, no mesmo horário (19h) Vou esperar por vocês, tem muita coisa pra rolar ainda.
Não esqueçam dos votos❤️
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ACEITE-ME - OS LOBOS (LIVRO 2)
WerewolfCinco anos se passaram e Daley Hill enfrenta agora novas ondas de casos de morte e desaparecimento. Uma grande guerra no mundo sobrenatural está prestes a chegar, Harry precisará lidar com a volta do seu tão amado passado junto da nova obscura reali...