Passei a noite inteira no hospital com Samia naquele quarto sem sequer colar minhas pestanas para dormir. Ela não acordou para nada, só mantive a calma porque o médico avisou ser efeito dos medicamentos.
- Surya vá para casa tomar um banho e comer algo. Eu fico aqui com ela. - Falou Celil
- Não Celil, não posso deixar ela.
- Você não deixará, mas para cuidar dela você precisa estar bem, caso não esteja não consegue. Por favor faça isso.
- Me diz uma coisa Celil. Quantos anos tem o irmão de Narim?
- 28 anos. - naquele momento eu quase enfartei. Como podem casar uma criança de 12 anos com um homem de 28. Não, não, eu não posso deixar isso acontecer. Que maldita cultura é esta? Isso é pedofilia.
Beijei a mão e a testa da minha Samia, minha mãe. Saí do hospital desesperada, minha cabeça estava estourando com a enxaqueca. Decidi ir andando para pensar sobre o que deveria fazer para ajudar minha família, ou melhor, minha pequena.
Cheguei em casa, tomei um banho e comi. Eu precisava agir naturalmente, não podia transparecer fraqueza na frente de Dilan. Ela era minha pequena irmã e eu faria de tudo para protegê-la.
No meio da tarde Celil me ligou avisando que eu não precisava voltar pois Samia teria alta hoje mesmo e Emre foi para lá. Como só podia ficar uma pessoa com ela não adiantaria de nada eu ir.
Decidi aproveitar o final da tarde para subir o ponto mais alto de Mardin. Na esperança de quem sabe o pôr do sol pudesse me ajudar clareando minhas ideias.
Sentei numa parte gramada existente por conta da pequena chuva que desceu a uns dias atrás. Toda a água contida nos meus olhos jorraram lavando o meu rosto.
- Alá, eu não posso ficar parada vendo isso acontecer. - exclamei numa tentativa de escutar uma resposta, mas nada, como sempre.
O sol se pôs, agora restava eu e aquela escuridão. Apesar de tudo valeu a pena tirar este tempo para pensar, apesar de saber que levarei broncas por andar sozinha. No entanto, finalmente cheguei a uma conclusão.
Assim que cheguei em casa liguei para meus pais em Istambul. Expliquei tudo que havia acontecido e pedi a eles um advogado para saber se há como reverter esta situação sem que haja casamento ou derrama de sangue.
Eles ficaram desesperados com tudo isso e me pediram para voltar. Eu sei que eles me amam e por isso querem me proteger, eu faria o mesmo com meu filho. Mas insisti em ficar, não podia ficar sem fazer nada.
Eles estipularam um prazo de quase um dia para obter respostas do advogado.
Minha mãe, Samia, teve alta do hospital. O médico relatou estar tudo bem com ela, só precisaria ficar longe de emoções fortes.
- Mãe! -Chamei Samia na porta do quarto, que estava na cama olhando para o teto.
- Surya... Você... Você me chamou de mãe?
- É o que a senhora é. Minha mãe. - puxei uma cadeira e sentei ao lado da cama que ela estava.
- Está melhor? - coloquei minha mão sobre a sua.
- Estou. Só preocupada. - Vi uma lágrima descendo aquele rosto que nos últimos dias estava tão feliz.
- Mãe, olha eu... Eu juro de dedinho que nada de ruim vai acontecer. - Beijei sua mão na tentativa de confortá-la.
- Como sabe Surya?
- Promete que não vai falar a ninguém? - sussurrei me aproximando de seu rosto para que só ela pudesse escutar.
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ATA-ME
RandomUm romance mesclado ao realismo. Nessa história você vai sonhar com pés fincados no chão. Surya é uma jovem que quando pequena foi vendida pelo pai a uma rica família de Istambul, sendo criada com todo conforto pelos pais adotivos. Quando seu pai...