MUDANÇAS

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Acordei já era noite. Olhei para meu corpo que estava no centro da cama com apenas a lingerie e uma coberta por cima. Lembro-me muito bem de ter caído na cama de tanto sono com roupão sem pegar coberta. Talvez Ipek tenha visto e me ajeitou.

Pensando bem aquilo não pode ter sido só um chá, Osman pediu para colocar algo a mais, pois além de sentir aquele sono absurdo, estou um pouco zonza e sonolenta.

Sinceramente, não consigo ficar brava por isso, na verdade ele fez bem, dormir foi o melhor diante das circunstâncias.

As lembranças de tudo que aconteceu vieram a tona junto com minhas lágrimas.

Pensar que era traída o tempo todo. Que casaria com um homem que dorme com outras fora da minha presença, eu amava aquele cretino desgraçado.

Estou vendo um outro lado do mundo, das pessoas. Ele dormiu comigo antes do casamento, me fez arriscar tudo por ele, eu me entreguei porque amava e confiava e ele usou meus sentimentos para satisfazer seus caprichos.

- Já é tarde da noite e você não comeu nada. - Foram as únicas palavras que escutei. Ele já estava falando a um tempo, mas não consegui me concentrar, estava pensando em coisas desconexas.

Continuei na mesma posição sem olhar para sua direção. Não tinha ânimo para responder.

- Venha comigo. - Quis exitar, mas fazer isso significa levar outro castigo. Levantei e acompanhei seus passos até a mesa.

Fiquei olhando sem entender nada do que ele pretendia fazer.

- Sente- se e me espere aqui. - Ele ordenou apontando para uma cadeira da mesa.

Osman veio da cozinha com uma tigela e uma colher em mãos. Com certeza tinha algo dentro daquele recipiente para me fazer dormir.

Esta atitude dele tem algo por trás, algo que eu não sei ao certo.

- Você tem que comer. - Falou colocando as coisas em minha frente.

Fiquei olhando aquela sopa, parecia boa... Depois de longos segundos tomando coragem, resolvi fazer o que pedia. Ele saiu me deixando sozinha naquela tortura, pensei em jogar no lixo longe de seus olhos. No entanto, meu medo travou minhas pernas.

Me senti uma idiota por sentir tanto medo, mas as lembranças daquela noite ainda me tortura muito, a surra e principalmente o fato de a qualquer momento ele tentar algo novamente.

Cada gole era uma tortura, qualquer comida fica ruim quando não se está com vontade, minha garganta chegou a doer de tanto forçar a comida a descer.

Agora sentada alí esperando ele voltar, lembrei de Azime e Kamal. Não os vi nestes últimos três dias que saí do outro quarto.

Ele voltou pegando as coisas da mesa e levando a cozinha. Agora só resta esperar o que ele colocou dentro da sopa fazer efeito em meu corpo.

Continuei sentada esperando ele retornar da cozinha, fiquei olhando os quadros lembrando de quando pintava telas e percebi uma sombra ao meu lado, Osman ficou a me olhar sem expressão por longos segundos.

- Eu posso voltar? - Perguntei, já não aguentava mais a tensão do meu corpo.

- Vamos. - Falou indo saindo na minha frente.

- Onde estão Azime e Kamal? - Perguntei.

- Viajando. Voltam semana que vem.

Fiquei feliz em saber, Azime é muito chata, consegue ser pior que Kamal. A ausência deles de qualquer forma não modifica minha rotina amarga.

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