GATO

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- Usarei as roupas. - Tive que concordar com isso, não suportaria ficar sem vê-los, seria demais. - Sua expressão suavizou.

Vi que ele estava mais calmo, eu poderia falar sobre Kipo naquele momento.

- Eu... Eu. - Abri e fechei a boca várias vezes mas eu sentia que era melhor deixar para outra hora.

- Você o quê? - Agora estava com uma sombrancelha arqueada.

- Nada demais, eu só estou cansada. - Menti. Precisava aprender a mentir melhor. Era muito boa nos cursos de teatro que fiz em Istambul, mas aquele homem me deixa muito nervosa.

Seus olhos ficaram estreitos, com certeza desconfiando das minhas palavras.

Kipo dormia como anjinho na caixinha. Coloquei ele dentro de um gabinete pequeno do banheiro. Agora só preciso rezar para ele não miar.

Osman estava deitado. Confesso que já estava acostumada a dormir com ele ao meu lado. Todas as noites sonhava acordada imaginando Asad no lugar de Osman. Apesar de me esquivar e ficar bem na pontinha para não encostar nele, já teve vezes que me peguei deitada com a cabeça em seu peito.

Ele já havia dormido e meus pensamentos ferviam. Osman estava dormindo igual pedra. Levantei devagar da cama e saí de ponta de pé. Sentei  num sofá na varanda do primeiro andar. Fiquei lá observando a lua cheia , que clareava Mardin.

Se não fosse este casamento maldito, eu estaria em Istambul preparando tudo para o casamento, estava prestes a trabalhar com meu pai na VIAT e o mais importante, estava sendo feliz.

Eu tinha uma rotina, fazia várias coisas durante o dia. Podia nadar, o que eu amava... Eu era feliz.

Entrei e tomei uma água na cozinha. Na volta vi uma porta que me chamou atenção. Estava entreaberta.

Em passos lentos fui até a abertura e olhei para dentro, não havia ninguém. Peguei na maçaneta e empurrei devagar, estava escuro mas dava para ver uma foto na mesinha, era Osman e uma mulher, ele estava sorrindo, algo que nunca vi ele fazer, quando o fazia era de sarcasmo.

Estiquei a mão para ligar a luz e descobrir o que era aquilo tudo.

-AAAAAAH-  Gritei. Uma mão por trás no meu ombro me fez pular igual pipoca.

Fui presa contra a parede fora do quarto. Era Kamal, pai de Osman.

- Shiiihh- Colocando a mão na minha boca.

- Nunca mais ouse encostar nessa porta. Escute bem. Nunca mais. Agora vá!- Seu tom foi como várias chicotadas, como o filho, ele é grosso e ameaçador.

Sem pestanejar sair dali. Não queria mais confusão. Me deitei ao lado de Osman, fiquei de lado apoiando a cabeça na mão, com o cotovelo apoiado na cama. Fiquei olhando para Osman, lembrando da foto ao lado daquela mulher de cabelo moreno, pena que não pude enxergar direito.

Será que este homem tem algum milímetro de bondade? Será que ele é feliz? Já foi feliz algum dia?

Talvez ele tenha alguma coisinha boa. Me atrevi a tocar em seu rosto, queria tanto que este homem fosse diferente. Eu poderia tentar ser amiga dele, tentar descobrir quem é Osman.

 Eu poderia tentar ser amiga dele, tentar descobrir quem é Osman

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{...}

Acordei com um peso em meu peito. Olhei para o meu corpo e me surpreendi com a cabeça de Osman afogada em meus seios, ele estava de bruços com uma perna sobre a minha e um braço sobre minha barriga.

Senti o ar fugir dos meus pulmões. Queria sair correndo imediatamente.

- Alá por favor me ajude. - Sussurrei desesperada. O que poderia fazer diante daquela cena deprimente, correr? Bom é isso. Mas como?

Tirei um braço devagar de cima da minha barriga e comecei puxar  minha perna devagar, para ser mais precisa um centímetro a cada cinco minutos.

Algo me incomodava mais inda. Seu membro estava sobre minha coxa. Que Alá e Asad me perdoe.

Seu corpo se mexeu e logo fiquei estatística, tão tensa que parecia pedra. Seus olhos abriram e assim que percebeu onde sua cabeça estava enfiada se pôs sentando na cama rapidamente.

Por um tempo seus olhos ficaram observando minha expressão, que ainda estava paralisada. Pelo muito que me conheço eu estava com um olho de pipoca e pálida feito papel.

Levantei- me parecendo estar atrasada para algo e entrei no banheiro como um vento.

Estava sentada na cama nervosa esperando ele sair do banheiro. Por sorte Kipo dormia igual pedra ainda na caixinha.  Assim que saiu do banheiro, já  vestido, comecei.

- Ontem eu encontrei Kipo aqui no portão. Então decidi adotá-lo. - Disparei antes que me arrependesse.

- Como assim Kipo? - ele estava confuso.

- Sim, um gatinho. Acho que tem um mês de vida. Estava tão sujinh... - Fui interrompida.

- Chega!! Não quero gatos por aqui.

- Osman é só um gatinho. Eu cuidarei dele, não precisará fazer nada, eu mesma dou comida e água para ele. - Acompanhava ele tentando explicar, estava caçando o gato como um louco por todos os cantos.

- CADÊ A PORRA DO GATO SURYA?! - Estremeci com seu tom de voz. Corri para o banheiro e segurei Kipo nos braços tentando protegê-lo de Osman.

- Me dar este gato!

- NÃO!

- SURYA ME DÁ O GATO AGORA!!

- Não. Você não vai tirar ele de mim também. Não acha que já tirou tudo? Você tirou tudo de mim Osman, tudo.

- Vou te pedir mais uma vez, se você não me der eu arranco ele da sua mão! - Avançou dois paços a minha direção.

Não vou entregar, não vou. O medo está me corroendo mas não vou entregar meu Kipo.
Não respondi nada, fiquei apenas segurando Kipo que não parava de miar nos meus braços. Ele sentia o quão ruim era Osman, tenho certeza que sentia.

Sem se importar se estava me  machucando, ele tomou Kipo e me jogou contra o chão. Saiu porta fora carregando pelo pescoço.

- Vou matar este bicho nojento!

- NÃAAAO POR FAVOR OSMAN!!! - Gritei desesperada em prantos.

Corri para tomá-lo de suas mãos, mas ele fechou a porta do quarto quase que na minha cara e passou a chave, me deixando trancada.

Eu achava que eu pudesse ter algo de bom. Mas infelizmente me enganei feio. Ele é um monstro.

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