Acordei sentindo um frio enorme parecia estar no Polo Norte, não havia cobertor para me embrulhar, então peguei alguns vestidos e joguei sobre meu corpo numa tentativa de amenizar.
Não sei a quantos dias estou nesse buraco, mas parece um século. Olhei para as paredes e me desesperei com a possibilidade de nunca mais sair. Osman não apareceu mais depois da noite que me prendeu, isso está sendo muito bom, por mim não olhava mais na cara dele.
Minhas costas estavam doendo muito, chegava a ser insuportável, a dor estava multiplicando com o passar dos minutos e não há nenhum remédio que eu possa tomar.
Escutei algo arranhar a porta do banheiro, que estava fechada, fiquei sentada observando a sombra por baixo que ia e vinha.
Meu coração estava quase saltando pela boca, se for Osman, se ele voltou para me fazer mal novamente... Era muito "se" que se passava por minha cabeça.
Mas não pode ser Osman, não vi ele entrando. Pode ser a cobra,mas cobras não conhece fazer aquele barulho.
Enfrentei a dor e consegui me abaixar para olhar debaixo da porta,Mas antes que pudesse ver algo a porta levou uma pancada forte por dentro.
Fui para a cama e esperei o pior acontecer. Não aconteceu nada, tudo estava quieto demais. O frio estava me consumindo e o medo não cessava, só queria ajuda de alguém, qualquer pessoa.
- Por favor me tirei daqui.- Tudo que saiu da minha boca foi um susurro, não tinha mais forças para gritar. Sequer com força a lágrima que desceu em meu rosto e fui até a porta do banheiro, abri e fiquei estática.
Era Kipo, meu Kipo estava de volta. Peguei em meu colo e afundei meu nariz em seu pêlo, que estava muito cheiroso.
Você não morreu, você está aqui comigo. Ele miava sem parar, esfregava o bigode nas minhas mãos e me olhava com ternura.
- Como você véi até aqui seu danadinho? - Perguntei ao pequeno que estava muito maior agora, quando o vi ainda era um miúdo bebê.
- Você está com fome? - Perguntei olhando para aquele tudo de pelos. Coloquei algumas coisas da bandeja no chão para ele comer.
Peguei o prato com o caldo que tomei mais cedo e fiquei observando, o conteúdo começou se mexer por si só, aos poucos várias minhocas foram saindo do fundo até a borda, antes que tocassem nos meus dedos imediatamente soltei da minha mão.
Ecoou no quarto os meus gritos, me afastei do prato quebrado e senti uma dor no pé. Estava cortado do vidro que acabei pisando sem ver.
O que me surpreendeu foi ver que não havia minhocas junto com o caldo que estava derramado no chão. Olhei para um lado e para o outro a procura de Kipo, mas ele sumiu, talvez o barulho tenha o assustado.
- Porque você me separou da minha mãe? - Olhei para trás e era Cenk.
- Meu homeninho, saudades de você. - Chorei ao ver meu menininho novamente, o abracei com força, mas fui empurrada.
- Você é mau igual o seu marido! - Gritou ele. Eu não podia acreditar que ele estava falando isso. Estava com ódio de mim e ele tinha razão.
- Desculpa meu amor eu fiz isso para te proteger, mas eu não sou mau. - Deixei os soluços saírem, eu não sou mau.
- Você é mau sim, muito mau, muito mau, muito mau, muito mau... - Ele repetia aquelas palavras sem parar, meu coração estava quebrado. Me encolhi num canto tapando meus ouvidos. Com o desespero comecei gritar sem parar.
- Para por favor, para! - Gritei e ele parou. O quarto estava em total silêncio, abri meus olhos e ele não estava mais lá.
O quarto estava estava mais iluminado que o normal, olhei para porta e estava aberta com Osman parado me olhando. Ele veio para me fazer mau novamente, ele quer terminar o que começou.
Comecei a rastejar o corpo trêmulo para trás, ficando o mais distante dele, que fechou a porta e começou a descer as escadas.
- Por favor não faz nada comigo, por favor, eu imploro. Eu juro que não vou mais fazer nada, só não me machuca. - Implorei, já não me importava com meu orgulho, só queria que ele não me ferisse.
Me encolhi num cantinho e abracei minhas pernas, assim ele não me machucaria tanto. Estava com os olhos fechados esperando um golpe ou uma palavra rude, mas não aconteceu nada. Olhei para cima e vi a pessoa que eu mais desejo nesse momento, Asad.
Sorri e levantei com dificuldade, fui o mais rápido que pude para os seus braços.
- Eu estava com tanta saudade! - meu corpo doía, mas não me importei, só queria que ele estivesse alí pertinho me protegendo.
Lembrei que aquilo era perigoso para ele, eu não podia deixar que Osman o fizesse mal.
- Você está queimando de febre Surya. - Ele falou, mas o adverti colocando meu dedo sobre sua boca.
- Shiiih. Não fale nada. Ele pode escutar e vim aqui. - O abracei e deixei que as lágrimas e soluços estourassem.
- Eu não aguento mais Asad. Ele é muito mau, muito mau. Por favor me tira daqui. Eu juro de dedinho que nunca mais vamos brigar para escolher a comida, eu comerei o que você pedir. - Ela estava alí, meu Asad, eu precisava desabafar com ele.
- Que bagunça, esses vidros, você cortou o pé. - Ele estava olhando o chão, analisando o quarto inteiro.
- Vá embora, ele...ele pode te machucar também. - Falei para ele e senti um arrepio percorrer a minha espinha, me fazendo a voltar a tremer, o frio voltou novamente com tudo.
- Vamos vou te levar ao banheiro. - Ignorou minhas palavras e me puxou.
Entramos no banheiro e ele começou a tirar minha roupa com delicadeza. Assim que tirou o meu vestido me encolhi em seus braços.
- Asad, está muito frio e a cobra pode aparecer novamente. - Falei tremendo igual vara verde. Até tinha medo da cobra mas não tanto porque ele estava comigo.
- Ela não vai aparecer. Venha. - Falou me levanto para dentro do box.
Minhas pernas estavam fracas e o corte no pé estava me empatando ficar em pé. Sentei no chão embaixo do chuveiro e logo ele ligou, fazendo a água correr por todo o meu corpo. Estava insuportável a dor e o frio misturados.
- Fica aqui comigo. - Alcancei sua mão e o puxei para sentar ao meu lado em baixo da água, antes que me deixasse.
- Que bom que está aqui comigo.- Falei e esfreguei meu nariz em seu pescoço como costumava fazer. Me afastei sem acreditar que ele estava realmente comigo, o olhei e alarguei um sorriso. Sem pensar duas vezes o beijei.
- Ai, está doendo muito. - Falei interrompendo o beijo.
Ele desligou o chuveiro e pegou a toalha com algumas roupas. Fomos até o quarto e me deitei na cama. Me na encolhi com frio, ainda tremia muito.
- Não vai, por favor, fica aqui comigo. - Falei quando percebi que estava subindo as escadas.
- Vou só pegar um cobertor. - Assenti e voltei a me deitar.
Escutei o miado do Kipo por perto. Abri meus olhos e ele estava ao meu lado em cima da cama. Comecei fazer carinho nele sentindo o seu pêlo que agora estava muito macio.
- Osman te tirou de mim, mas agora eu não vou deixar ele encostar em você. Ele continuou a miar recebendo meus carinhos.
Senti algo macio pisar sobre meu corpo, tomei um susto e vi que era a coberta, uma bem grossa que Asad trouxe.
- Este é o Kipo, meu gatinho. - apontei para Kipo que agora estava dormindo.
Ele não falou nada, só observou o miúdo. Aquele cobertor quente era tudo que eu precisada, Asad deitou conosco na cama e acabei pegando no sono.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ATA-ME
RandomUm romance mesclado ao realismo. Nessa história você vai sonhar com pés fincados no chão. Surya é uma jovem que quando pequena foi vendida pelo pai a uma rica família de Istambul, sendo criada com todo conforto pelos pais adotivos. Quando seu pai...