SEGUNDA TENTATIVA

45 4 0
                                    

- Meio comprimido... prontinho!- Falei ao terminar de cortar o comprimido que darei para Kipo dormir. Levar ele acordado seria um fuzuê, Mardin inteiro saberia que carrego um gato na bolsa.

- Tio Zeki falou com um veterinário só para te dar um bom sono e acordar no lugar certo para você. Quando eu puder venho te buscar meu amor. - Expliquei para o felino que me olhava parecendo entender o que falava.

O segurei e empurrei o comprimido na garganta dele. Senti as lágrimas correrem pelo rosto, pensar que ficarei longe desse bichano novamente me dói, tudo por causa de Osman. A segunda vez que ele me afasta dele e das pessoas que amo.

Faltam apenas 30 minutos para sair,   é o tempo que o medicamento, tempo suficiente para o medicamento fazer efeito no organismo de Kipo, o coloquei  na caminha e peguei meus documentos para a viagem, sendo necessário uma bolsa grande para que  caiba Kipo.

Estava de um lado para o outro nervosa, unhas já não existiam mais, pois havia roído todas, só não comi as dos pés. Sentei na cama e notei que havia um ser que necessita da minha calma, meu filho. Passei a mão na barriga e respirei fundo.

- Mamãe vai tentar se acalmar, desculpa é que ainda não me acostumei com o fato de ter você aqui dentro de mim.

Olhei para a gaveta e lembrei dos sapatinhos que comprei logo que casei com Osman.

Peguei os sapatinhos brancos e coloquei na palma da mão. Pensar que terei meu bebê nos braços com este sapatinho...Osman podia estar mentindo quando disse que queria um filho nosso, já não acredito mais em nada do que ele falou.

-Vamos ser muito felizes longe disso tudo. Só nós dois.

Os minutos se passaram rápidos, olhei para o lado e Kipo estava dormindo como anjo.

O coloquei delicadamente na bolsa enrolado a um pano e saí. Osman havia saído com seu pai e ainda não chegou e Azime está no quarto, tudo perfeito para minha saída.

Fui até Ipek, que estava na sala e dei um abraço, apesar de achar estranho aquele meu gesto afetuoso, não perguntou nada, somente sorriu.

Entrei no carro e respirei fundo. Estava suando frio, parecia que ia enfartar. Tentei me acalmar mas estava impossível, apesar de tudo não deixei transparecer aos seguranças.

- Filha! - Falou Samia feliz me abraçando.

Sorri feliz também por revê-los e abracei todos, até Emre e Narim estavam lá. Puxei Azime para o quarto e tirei Kipo da bolsa, ainda molinho dormindo.

- O que é isso Surya? - Perguntou assustada.

- É meu gatinho, aquele que falei para a senhora, Kipo.

- Mas por que trouxe ele? - Perguntou me vendo colocá-lo num cantinho do quarto.

- Mãe, queria que cuidasse dele para mim, Azime não gosta de gatos, tenho medo que faça algum mal a ele. - Expliquei tentando ser convincente.

- Surya, você não me engana.- Estreitou os olhos e cruzou os braços me encarando.

Respirei fundo vendo a cara dela de quem não acreditou em nada do que acabara de escutar.

- Tá bom...eu vou fugir. - Deixei uma lágrima intrusa sair.

- Surya por que está fazendo isso?!? Vocês estavam tão bem, ele te ama.- Falou quase gritando segurando nas minhas mãos.

- Não mãe, ele não me ama! Foi tudo uma mentira, ele só queria a empresa do meu pai, só estava me tratando bem para conseguir seus interesses! 
Levantei da cama e comecei andar de um lado para o outro.

ATA-MEOnde histórias criam vida. Descubra agora