Passaram-se duas semanas após o casamento. Os dias rastejavam, pareciam eternos. Não suportava mais ficar naquela casa. Osman não me deixava sair e deixou as empregadas de olho para que eu não encostasse no telefone fixo da casa. Me sentia uma prisioneira naquele lugar infernal.
Passei a conversar com Ipek todos os dias, era a única que eu dirigia a palavra. Falava somente o necessário quando Osman se dirigia a mim.
Acordei, tomei um banho e olhei no espelho as feridas que agora estavam secas, ficariam marcas nas minhas costas e bunda. Quando lembro da fúria dele sinto o medo me tomar novamente.
Sentei no sofá a espera para tomar café, fazia uns dias que saia antes de Osman do quarto.
- Estava querendo falar com você. - Falou Azime se aproximando e sentando ao meu lado no sofá.
- Pode falar.
- Sua roupa não é adequada para uma mulher do Harra. Você deve seguir nossos costumes.
- Eu não nasci em meio aos costumes desse lugar e não vejo nada de errado nas minhas roupas. - Eu estava calma por fora, já por dentro eu fervia.
- Hoje mesmo Ipek levará as roupas e você vai usar sim, querendo ou não. - Se não fosse uma velha eu rodava a mão no pé dos ouvidos. Senti meu corpo queimar de ódio.
Osman e Kamal logo chegaram não me deixando repreender aquelas ordens. Fomos a mesa e tomamos café normalmente. Como sempre os três conversando e eu completamente muda e surda.
Aproveitei o sol para receber um pouco de vitamina D, eu já não saía mais sequer na varanda. Estava com os olhos fechados, sentada abraçada aos joelhos. Escutei alguns paços ligeiros de Osman, como todos os dias ele saia aquele horário após o café.
- Eu posso ver minha mãe Samia hoje? - Perguntei antes que descesse as escadas. Ele voltou chegando perto.
Parecia pensar na responda enquanto me olhava. Depois de longos segundos ele responde.
- Desça às 10h. Mandarei dois seguranças com você. Quero que esteja aqui às 11:00. Eles me informarão de tudo que estiver acontecendo, então nada de graçinha.
Não falei nada, poupei minha saliva desse trabalho. Sentei- me novamente fechando os olhos para ele entender que o assunto estava encerrado. É claro que eu não ia agradecer, se era isso que ele esperava caiu de um belo arranha céu, nem cavalo foi. Escutei os paços dele descendo as escadas e só então abri os olhos.
Cheguei ao quarto e lá estava Ipek com vários vestidos e e véus na cama.
- Surya o que faço com as outras roupas?
- Deixe todas aí, por favor não jogue uma peça sequer fora.
Eu não daria o gosto aquela velha tão cedo. Se ela pensa que só porque me casei com o filho dela eu vou ser uma marionete, ela está enganada.
Tomei um banho relaxante na banheira e coloquei um vestido rosa longo.
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ATA-ME
RandomUm romance mesclado ao realismo. Nessa história você vai sonhar com pés fincados no chão. Surya é uma jovem que quando pequena foi vendida pelo pai a uma rica família de Istambul, sendo criada com todo conforto pelos pais adotivos. Quando seu pai...