A paisagem dos seus olhos

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Toda aquela magia florida e dócil se desfez quando Was saiu do abraço e me olhou com a feição de antes, séria. Parecia que para ele, aquele nosso momento tão íntimo e puro que era para mim, não significou nada. Como se ele tivesse abraçado um amigo de seu irmão mais velho que não via desde a infância, tal qual não se importava e nem tinha vontade de cumprimentar, a questão se fez apenas por educação e respeito aos tempos passados. Fútil.

- Já que estou tão antiquado assim para esse passeio, vestirei algo mais simples, mais maleável.
- De acordo. - o observei ir até sua cama.
- Tem em mente o local que vamos?
Was se despia enquanto meus olhos seguiam seus movimentos.
- Hum... bem...
Não conseguia me expressar com clareza diante da cena que presenciava.
- Está tudo bem, Agno?
Was ajeitou sua postura para me lançar um olhar preocupado.
- Por... que não estaria?
Ainda olhava suas coxas sem revelar expressão alguma.
- Você está pálido... - caiu seu olhar para onde eu tanto firmava meus olhos. - O que tem de errado com minhas coxas?
- Oi? Ah, desculpe-me... eu... - o outro voltou a me olhar confuso. - Estava pensando onde íamos e acabei me perdendo...
- Se não estiver disposto a ir, por mim tudo bem, podemos outro dia.
- Vamos sim, estou bem.
- Ótimo.

Voltei a olhar para as roupas espalhadas e peguei as que antes já tinha em mente, virei na direção da janela e retirei minha cueca de forma sensual, como se estivesse a seduzir o outro. Espiei por cima do ombro para saber se o outro me olhava, mas ele nem se quer estava mais no quarto, suspirei frustrado vestindo as roupas enquanto pensava no quão estúpido estava sendo.
Penteei meu cabelo ainda pouco úmido de frente para o espelho do banheiro, assobiava uma música que ouvia sempre tocando no rádio, a minha favorita que me fazia dançar como uma menina de doze anos comemorando sua vitória no time de vôlei da escola. Um dia ainda apresentaria aquela música a alguém, de uma forma romântica e bem pensada, um alguém que amasse profundamente e que preferiria passar todos os dias que me restasse de vida ao lado, evidentemente alguém que tivesse levado ao altar. Was poderia ser meu irmão, assim eu poderia tocar seu corpo, e se fosse repreendido, diria que não foi por querer e que tinha nojo de tocá-lo. Mas se ele fosse meu irmão, eu jamais sentiria atração, seria nojento vê-lo e desejar que fôssemos para a cama, passar incontáveis horas juntos, nos esfregando um no outro, como desejava com ele sendo um estranho em meu quarto.
Por ser filho único, as vezes idealizava relações amigáveis com meus irmãos que nunca existiram, pensava em como seria mágico e inspirador não ser o único a perambular pelos corpos dos meus pais, claro, interiormente. Esse era o motivo pelo qual, por segundos, cogitei a possibilidade de Was ser meu irmão e eu ainda o desejar, mas a parte boa é que me castiguei por isso. Seria errado, seria absurdo, seria nojento. Se dois homens juntos pegaria mal, dois irmãos então seria o cúmulo. Eu não era gay, obviamente Was também não, mas poderíamos nos descobrir juntos, saber se isso tinha chance de mudar, ou se independentemente do sexo, poderíamos nos apaixonar pela pessoa que éramos.
Esse seria meu plano, eu queria testar, queria provar do corpo sarado e másculo que Was tanto se descuidava e me aparecia. Ainda estava com nojo pelos pensamentos que vagaram em minha mente, precisava por um fim naquela memória miserável que me lembraria o quão doentio eu poderia ser de vez em quando.
Por fim, já estava lavando o rosto pela milésima vez, meus pensamentos sempre foram de me cegar, não fazia menção de quanto tempo havia gasto pensando até ver Was de frente para a porta do banheiro com os braços cruzados. Me assustei disfarçadamente mantendo os olhos arregalados, por mais que o desejasse, tinha medo. Todas as vezes em que o via me olhar de forma tão predatória e séria, me arrepiava por inteiro, sempre duro, mas também temeroso, ele poderia perder a cabeça.

- Vai me dizer que é mesmo assim tão fissurado em higiene?
- Bem... eu acabei me distraindo com os pensamentos... e...
- Já sei, não percebeu a hora passar?
- Sim...
- Você é uma gracinha, Agno, mas não estou mais à sua disposição!

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora