Os loiros se parecem

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A primeira coisa que vi quando acordei pela manhã foi o rosto de Joaquim, tal qual me deixou assustado, era realmente difícil lidar com a presença de um homem em um momento tão delicado, mas ao menos pude sorrir ao lembrar que ter um amigo tão fantástico em minha vida não tinha preço.
Observava os vizinhos jogando vôlei pela janela da sala de estar, Was parecia ter se dado muito bem com os primos de Giúlia, já que não se desgrudavam e eram sempre vistos juntos. Não fiquei muito tempo os assistindo, mas era curioso o fato de todos os homens ali presentes terem me visto, com exceção de Was, que foi o úico a olhar para todas as direções, menos para a minha, é claro. Os acenos direcionados a mim me fizeram sorrir, por mais que Giúlia pudesse ser um poço de arrogância, sua família aparentava ser amigável e receptível; talvez tenha sido até a razão pela qual Was se dispôs a passar seus últimos dias no Brasil junto deles.

- Bom dia, querido! Já comeu algo?
Olhei para trás me deparando com a simpática mãe de Joaquim a sorrir.
- Ainda não, senhora Berta.
- Deixe disso, Agno! Pensei que já tivéssemos passado dessa fase.
- Desculpe, mas não consigo me dirigir a pessoas mais velhas de modo informal.
- Você é um ótimo garoto, sempre foi.
- Obrigado, a senhora também é ótima.
Berta se aproximou da janela e olhou os meninos que ainda jogavam.
- Então é isso, ainda não comeu porque estava ocupado demais olhando os vizinhos sem camisa.
- Senhora... Berta? - a olhava sem reação.
- Estou errada? - a mesma riu.
- Aquele ali está vestindo uma regata. - apontei.
- Sim, Joaquim nunca gostou muito de expor seu corpo.
- Joaquim? Mas aquele não é o Was?
- Eu conheço o meu filho, é ele sim. - respondeu Berta enquanto ria. - Was é o único a usar short, mas está com o tronco despido.
- Eles se parecem bastante, não acha? - a olhei.
- Sim, Agenor também notou a semelhança entre os dois.
- Por falar no senhor Agenor, como ele está?
- Está bem, apenas muito ocupado com o trabalho.
- Então é por isso que mal o vejo.

Não ficamos por mais que meia hora conversando de frente para a janela, Berta fez questão de me arrastar até a cozinha para comer, a mesa era farta, como de costume. No final de tudo, minha barriga estava tão cheia que eu parecia ter engolido uma família inteira de sapos, Madalena que passou o dia conosco não perdia uma oportunidade de me encarnar. Agenor também estava presente e buscava aliviar a cabeça dos problemas assim como eu, que tentava não pensar no quanto Was me evitava e fingia não saber da minha existência.
Assim que Joaquim voltou para casa foi direto dormir, estava cansado; nunca havia o visto suado antes, suas bochechas estavam mais vermelhas que o normal, uma verdadeira fofura. Após vê-lo cruzar a porta, corri até a janela e observei Was tirar sua bermuda e ficar apenas de sunga, estava rindo para os outros homens. Ah, como eu queria ser um corvo para saber o que era engraçado.

- Por que não vai dizer um oi?
Olhei para Madalena que sorria sem mostrar os dentes.
- Ele não fala mais comigo...
- Ah bom, pensei que fosse por vergonha desse barrigão.
- Ui, eu não deixava! - Joaquim tentava me provocar.
- Vão caçar o que fazer, seus chatos.

Os dois primos riam de forma exagerada enquanto eu os encarava, Joaquim chegou até mesmo a cair do sofá, revirei os olhos e voltei a olhar a praia. Was jogou sua bermuda sobre o ombro de um dos homens e correu por cima do deck até alcançar a beira e dar um mergulho radical, com muito êxito. Os vizinhos de Joaquim o aplaudiram e gritavam elogios, ele realmente tinha quem o apoiasse, poderia ser eu, mas as coisas sempre foram muito difíceis para nós.
Pouco tempo depois, o russo saiu da água completamente encharcado, se juntou aos seus amigos e correu para longe enquanto conversavam, era tão bom vê-lo sorrir, se fosse para que ele fosse feliz, não importava se estava distante ou não.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora