De novo com isso?

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Ficamos durante um tempo apenas nos beijando e matando a saudade que tínhamos, todos esses infinitos dias distantes fez crescer em nós uma necessidade enorme de estar o mais perto possível; de vez em vez parávamos o beijo para olhar fundo nos olhos um do outro e então um sorriso bobo surgia em nossos lábios. No final de um dos beijos, Was mordeu meu lábio e o puxou para si antes de sua feição animada me deixar curioso sobre o que se passava em sua mente. O russo então pegou minha mão se levantando dizendo que teve uma ideia, e para a minha surpresa, fui levado até o pequeno beco sem saída onde Anderson havia me agarrado à força. Tentava acompanhar o jeito eufórico que o homem corria, mas era difícil, afinal, ele era um atleta. Também não era fácil adivinhar o que ele pretendia me levando até aquele lugar de recordações tão ruins para ambos.
Ao chegarmos, Was me deixou sozinho no local após dizer que logo voltaria, estava frio e para todos os lugares daquele buraco escuro que eu olhava, lembranças daquela noite vinham maltratar meus pensamentos. Segurei um dos meus braços como de costume quando estava desconfortável e repetia para mim mesmo que ele voltaria, mas minha mente cismava em afirmar que ele estava me sacaneando, e que por saber que eu seria capaz de esperá-lo até o amanhecer, me deixaria ali sozinho por pura covardia. Não queria esperar por uma atitude tão ridícula de quem tanto amava, mas era realmente complicado olhar para um homem tão espetacular e perfeito quanto Was e achar que tinha chances, que ele poderia me amar e que me queria por perto. A demora de seu retorno me desesperava, havia me pedido para não sair do lugar, mas a vontade que tinha era de ir espiar para saber onde estava, o que fazia e se voltaria como prometeu. Suspirei fechando os olhos com os pelos do corpo arrepiados pelo frio que sentia, não fazia ideia do horário, mas cedo com certeza não era mais.
Abri os olhos rapidamente quando ouvi um barulho, estava escuro, mas a luz da lua me ajudava a ver algumas coisas, um homem se aproximava carregando algo grande em uma de suas mãos; naquele momento de medo havia até mesmo esquecido do russo, talvez estivesse traumatizado com aquele tipo de situação, minhas pernas estavam bambas.

- Amor? - disse o homem se aproximando. - Está tudo bem, sou eu.
- Was? Você demorou...
- Demorei mas estou de volta! - o russo sorriu pondo o objeto no chão.
- O que é isto? - me referia ao que o outro segurava.
- Um rádio portátil, nunca viu? Vocês brasileiros são realmente intrigantes.
- Está escuro, tenho olhos de gato por acaso?
- Nossa, amor... vai mesmo ser grosseiro assim comigo?
- Por quê está me chamando de amor? Costuma chamar assim quem beija?
- O chamo assim porque lhe amo, fazendo-me esse tipo de pergunta ofende.
- Não me convenceu. - cruzei os braços.
- Farei assim então, prometo que só chamarei você de amor, mais ninguém.
- Promete mesmo?
- Sim, eu prometo.
- Era isso o que eu queria ouvir.
Sorri depositando um selar carinhoso em seus lábios.
- Eu te amo, seu chato.
O outro sorriu de volta e acariciou meu rosto antes de se abaixar e apertar alguns botões do objeto.
- Qual música iremos ouvir?
- Você quis dizer qual músicas iremos dançar.
- Ah não, Was! Por favor!
- O que foi?
- Você cisma com essa de dançar, sabe que sou péssimo nisso!
- Na verdade não, você nunca dançou para mim.
- Mas eu já disse, e tem outra, está tarde! Todos estão dormindo, vai mesmo pôr música alta para incomodá-los?
- Você poderia fazer o enorme favor de parar com as reclamações? Acha que sou tão idiota ao ponto de não saber que estão todos dormindo? Estou aqui cedendo meu tempo a você quando poderia estar descansando e é desse jeito que me trata? É isso o que mereço?
- Não, Was, me desculpe... eu apenas me sinto incomodado quando falam sobre dançar, sou muito tímido e esse local que escolheu me traz péssimas recordações... sei que estou sendo chato, mas não consigo agir de forma normal ao seu lado, você me deixa sem jeito...
- Apenas seja você mesmo, eu amo todas as suas versões, até mesmo essa que é insuportável.

Was apertou outro botão e se levantou pegando em minhas mãos, não demorou muito para que a música começasse a tocar, olhei para o rádio portátil antes de olhar para o lindo homem diante de mim. Levei meus lábios até o ouvido de Was e perguntei como a música se chamava por não conhecer, o loiro respondeu bem perto do meu ouvido que seu nome era You Spin Me Round da banda Dead or Alive, uma música antiga.
Com suas mãos junto às minhas, Was ia me conduzindo e guiando meus movimentos de forma sútil, e no seu ritmo, fazíamos uma bela dupla. Nossas mãos empurravam nossos braços para trás em uma parte da dança, que particularmente chamei de dança do cerrote. Nossos pés balançavam de um jeito peculiar e nos faziam andar para o lado, como se fôssemos dois caranguejos alegres. Era real, eu estava me divertindo com um homem incrível, um belisco me faria acreditar que não estava sonhando.
Assim que chegou o refrão, Was levantou nossos braços fazendo um arco com eles e então fez com que passássemos girando por debaixo; eu realmente não fazia ideia que aquilo fosse possível, era uma dança muito legal, fiquei curioso para saber se já existia, ou se ele havia acabado de inventar.
Ríamos tanto que as vezes isso até atrapalhava a dança, eu não imaginava que minha noite seria tão fantástica quanto estava sendo, uma verdadeira surpresa. Quando o vocalista da banda gritou "I want your love" com sua grandiosa voz, Was se ajoelhou diante de mim com um joelho sobre o chão e o outro como se estivesse apenas agachado e o dublou, fez assim todas as vezes em que o cantor repetiu a frase e não foram poucas.
Após a última vez que se abaixou para se "declarar" para mim, voltou com os lábios até meu ouvido e sussurrou.

- I want your love... YA khochu tvovey lyubvi... Eu quero o seu amor...
- Sua voz fica tão mais sexy quando fala outros idiomas... - sussurrei de volta rindo baixo e envergonhado.
- Também sei falar mandarim.
- Você é perfeito, sabia?
- Perfeito é o nosso amor, espero que esse sentimento dure para sempre.
- Em mim já está durando.

Was sorriu abobado e me pegou no colo, entrelacei minhas pernas volta de sua cintura enquanto o outro dava início a um beijo de língua intenso. Alisava seu rosto com as mãos lentamente deixando que nosso beijo continuasse até que nos faltasse fôlego e pudéssemos iniciar outro.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora