Já sei, você não se importa!

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Era manhã, Madalena estava sentada na cama junto de Luna, as duas me olhavam em silêncio; retribui o olhar assim que acordei, parecia o meu enterro. Sentei-me na cama e suspirei ganhando um abraço carinhoso da amiga que desde a festa de Lucas não via, naquela noite rolou nossa primeira vez, por mim nada mudaria entre nós, mas não sabia como ela se sentia em relação a isso. Pelo o que pude perceber, no momento tudo estava bem e então respirei aliviado, observando Madalena sorrir. Perguntei sobre os outros e Luna disse que estavam na praia, ri um pouco por ter imaginado a cena, mas não me contive e corri até a janela para conferir com meus próprios olhos. Lucas vestia apenas uma bermuda estampada, sem camisa e com um óculos de sol estiloso sobre o rosto; Richard também usava uma bermuda, mas cortava as semelhanças com uma regata que dava um leve destaque ao seu boné virado para trás; Lúcio vestia apenas uma sunga e brincava na areia molhada pelas ondas juntamente de Laura, que com seu pequeno biquíni vermelho, cuidava para que suas nádegas não ficassem cobertas e entrasse o que não devia em lugares indevidos. Sentia tantas saudades que não pude não correr até eles, precisava abraçar meus amigos e estar ao lado, aquela seria uma boa lembrança. Dei um beijo na cabeça de Luna e corri para o banheiro, como estava ansioso, meus higienes foram rápidos, não podia perder tempo.
Desci as escadas com cautela na frente das meninas que me seguiam. Assim que pisei em solo firme, corri até onde meus amigos estavam, porém, assim que estava perto, fui caminhando lentamente. Estava atrás das cadeiras de praia onde Lucas e Richard estavam sentados, o outro havia retirado o óculos, então pus minhas mãos sobre seus olhos forçando-os a perguntar, ou adivinhar de quem se tratava. Richard acertou, disse ser eu após tocar minha mão e perceber que eram pequenas, enquanto Lucas retirava minha mão de seu rosto e me puxava para si afim de selar nossos lábios de forma prática. No mesmo instante, Was passou correndo perto de onde Lúcio e Laura estavam, não estava sozinho, mais alguns homens o acompanhavam, todos muito bonitos. Minhas bochechas certamente estariam vermelhas por ter a chance de ver o lado atleta que Was dificilmente exibia, não corria em desespero, mais parecia ser parte de um exercício para melhorar o físico. Não entendia muito de coisas relacionadas ao mundo dos esportes e muito menos do físico, mas sabia que aquele corpo sarado e saudável não se formou sozinho.

- Tantos homens bonitos nessa praia, sempre quando os vejo, sinto-me feliz em morar aqui. - olhamos todos para Joaquim, que misteriosamente apareceu ao meu lado.
- Quem é você?
Como de costume, Richard se continha, mas Lucas não se preocupava em mostrar seu lado deselegante.
- Meninos, esse é Joaquim, meu amigo de infância que providenciou, junto de seus pais, tudo para que vocês estivessem aqui agora. Joaquim, esses são Lucas e Richard, meus melhores amigos.
- É um prazer conhecê-los, até poderia cumprimentá-los antes, mas não sei se seria certo.
- Não se preocupe com isso, sabemos que você está em outro patamar.
- Lucas! - o repreendi vendo-o revirar os olhos.
- Sinto muito decepcioná-lo, mas somos todos iguais, do jeito de cada um. - respondeu Joaquim mantendo por completo sua plenitude.
- Convencido. - Lucas virou-se em outra direção com os braços cruzados.
- Não dê atenção a isso, Joaquim. É apenas ciúmes do Agno.
- Está bem.
Joaquim sorriu gentilmente para Richard ao ouvi-lo e abraçou seu pescoço deixando um beijo carinhoso em sua bochecha. O garoto ruivo não hesitou em sorrir de volta, e após um tempo corado, decidiu quebrar o silêncio.
- Agno, o homem loiro que passou correndo agora pouco não é aquele que estava junto da Giúlia na festa do Lucas?
Richard passou todo esse tempo se perguntando, até não mais se conter e compartilhar de seu atual raciocínio.
- Também não é aquele que ontem tentou lhe empurrar um homem? - questionou Joaquim sentando-se junto de Richard.
- Sim, ele mesmo.
- Como se chama?
- Was.
- Então é por ele que estás apaixonado?
Joaquim voltou a questionar fazendo com que todos me olhassem, até mesmo os dois que estavam longe.
- O quê? Não, ficou louco? - tentava disfarçar o quão nervoso havia ficado.
- Por que estaria louco? Tenho uma ótima memória, lembro-me ter dito estar apaixonado por um homem igual a mim chamado Was.

Fiquei um tempo encarando a todos com a feição transtornada antes de correr para longe, quando pressionado, tinha o instinto de fugir e foi isso que fiz. Corria tanto e de forma tão desajeitada que acabei por tropeçar em uma garrafa pouco enterrada até enfim cair com o rosto na areia úmida, para piorar tudo aconteceu justamente diante dos homens que antes vi correr, todos me olhavam em silêncio.
Was estava atrás de Giúlia e abraçava gentilmente o seu pescoço, vê-lo tão próximo da outra não me fez bem, e ainda tinha o fato do vergonhoso tombo que levei. Queria sumir, até poderia afundar meu rosto na areia, mas talvez fosse piorar a situação. Um dos homens veio até mim e me ajudou a levantar, limpava o meu rosto e dizia coisas boas de se ouvir, também porque somente sabendo que os outros riam de mim, me fazia sentir pequeno e humilhado. Em um breve momento, pude olhar para o seu rosto e percebi que era o mesmo homem da noite passada, tal qual havia confessado através de Was que tinha interesse em mim. Ficamos a nos encarar por mais ou menos uns três minutos até a insistência de Giúlia para um beijo acontecer cortou por completo o clima, sorri envergonhado retirando as mãos do outro que se mantinham em mim, e com uma olhada séria lançada na direção dela e de Was, fui embora sem nem se quer agradecer ao homem pela ajuda. Estava frustrado e desmotivado, um homem do qual nem devia saber meu nome me ajudou quando todos riam de mim, enquanto Was observava tudo mantendo outra pessoa em seus braços.
Meus passos marcavam a areia fofa, as ondas molhavam meus pés até o calcanhar e o sol castigava meus ombros. Como conseguia amar tanto um alguém que não se importava nem um pouco comigo? Me magoava a cada vez que pensava em tudo que passamos, nada nunca teve a menor importância na vida dele. Eu tinha quem me queria, eram pessoas boas e poderiam cuidar bem de mim, mas então por que perdia tanto tempo correndo atrás de quem não me valorizava? Disse que queria ver morto um anjo que deixou seus amigos de lado para me ajudar, estava sendo tão ruim com pessoas que não mereciam e até mesmo com meu próprio eu. Onde iria chegar com isso?

- Agno, você está bem? - Luna me olhava tão próxima quanto podia.
- Estava. - respondi cabisbaixo sem parar de andar.
- O que houve?
- Nada.
- Me diga!
- Pergunte à sua amiguinha, com certeza ela sabe!

Gritei enquanto voltava a correr, sabia que Luna não tinha culpa de nada que acontecia comigo, mas chegou no momento errado e na hora errada, praticamente pedia para ser tratada de forma grosseira.
Meus amigos me conheciam o suficiente para saber que não deviam se aproximar quando eu estava irritado ou triste, pois uma hora iria sobrar para eles. Luna, porém, ignorou este fato e correu até mim, mesmo não tendo paciência para lhe responder bem, de certa forma me senti um pouco melhor depois disso. Assim que cheguei em meu quarto temporário, joguei-me sobre a cama e abracei o travesseiro; dessa forma foi como gastei todo o meu precioso dia.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora