A roupa que escolhera já estava em mãos quando Was abriu a porta do banheiro e me olhou através do espelho, tal qual habitava na porta do meu guarda-roupa, que fechei mais ou menos um minuto antes da troca de olhares acontecer. Ele ficaria ali parado me olhando se eu também ficasse, mas María me chamava, então finalmente tive um motivo para fugir daquele clima clichê e híbrido que crescera no local. Olhei para María que permanecia imóvel perto da piscina, me viu olhar para si pela janela e sorriu acenando docemente, sorri de volta. Virei-me na direção contrária e me forcei a por o calção de banho da cor azul, estampado com pequenos e fofos patos.
- Namorada?
Was me olhava, aparentemente sem ter mexido um músculo se quer.
- É do seu interesse? - retribui o olhar.
- Não, só perguntei mesmo. - caminhou até sua cama e sentou-se no objeto.
- Certo. - vesti a camisa cor de carmim que segurava.
- Patinhos? - Was olhava meu calção com desdenho.
- Qual é o problema com os patos? - o olhei novamente.
- Se deseja conquistar a moça que lhe espera, bermuda de patinhos não é uma boa escolha.
- Quando eu lhe pedir opinião, me dê. Agora não, não faço questão.Saí do quarto apressado para encontrar María, costumava ser bastante rude com as pessoas quando me apetecia, mas a questão da vez foi ter me incomodado. Por que tudo que envolvia o novo hóspede me afetava daquela maneira? Ele deveria ser apenas mais alguém que entrava em minha casa, um alguém que não me interessava, um alguém que não me importasse, somente um alguém. A feição desconfortável que habitou seu rosto ao me ouvir, fez meu coração encolher, era tarde, ficaria pensando no que fizera com alguém que só tentava me ajudar, achava. Talvez fosse ele um homem sensível, talvez um homem dócil que só se aproximava de quem lhe fosse tratar bem, mas se fosse por isso, ele me evitaria na certa. Droga, por que isso está me deixando mal? Por que estou me importando? Por que não consigo esquecer essa maldita conversa?
- Se complicando com os pais?
Olhei para o lado ao ouvir María dizer algo a mim, entendendo depois de um tempo em silêncio, que pensava alto.
- Não tem a ver com eles.
Terminei de descer as escadas e segurei a mão de María a puxando para fora da casa.
- Tem a ver com alguém, Agno, lhe conheço.
- Sim, tem a ver com alguém, mas já que não se trata de quem conheça, esqueceremos isso.
- Tudo bem, nós realmente vamos, certo?
- Disse que sim antes, não disse? Não mais questione, somente espere.Sabia que a partir do momento em que saí da casa juntamente de María, Was nos observava da janela do meu quarto, sentia seu olhar queimar em meu cangote, era como fogo que ardia em seus olhos e se refletisse na pele pálida do meu corpo frágil. Propositalmente, parei ao lado da piscina e selei meus lábios nos de María levando meus olhos ao homem que nos espiava. Was permaneceu pleno durante todo o tempo que o beijo durou, não pareceu surpreso, nem triste, nem feliz e muito menos irritado. Apenas olhava.
Segurei firmemente a mão de María e caminhei a puxando até minha bicicleta, ela sentaria na traseira para que eu pudesse levá-la, como se fosse uma princesa em sua carruagem, mas do modo tradicional brasileiro. Obriguei-me a pedalar, levando nossos corpos para onde a penetrante firmada de olhos que Was nos concedia, não mais alcançasse a nós. Não entendia porquê ele tanto olhava para dois jovens no auge de suas atitudes improvisadas, também não entendia o que tinha de tão interessante em me espionar, o que ele queria com aquilo? Só Deus sabia.
Pedalava e pedalava incansavelmente enquanto María reclamava da velocidade em que a conduzia, eu nem se quer a ouvia, só pensava em Was e em como faria para despistá-lo em todas as vezes que fosse sair. Por que bulhufas divido meu quarto com um russo? Por que ele ocupa tanto espaço em minha mente? Por que corro riscos de sofrer um acidente qualquer por já não ver nada além dos olhos verdes do outro, ao invés de enxergar a estrada tortuosa que percorro sobre duas rodas? Por que parece ser tão inevitável? Por que desejo mergulhar no oceano de prazeres que me propaga seu corpo robusto? Por que é tão difícil viver após conhecê-lo? Por que tantas perguntas? Responda-me, destino cruel, por quê?
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Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
RomanceAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...