O que há com vocês?

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Mesmo com a exaustão tomando conta até do meu raciocínio e meu corpo implorando por descanso, não poderia ficar ali; pensar que seria bem recebido quando voltasse para a casa de Joaquim foi o que me fez ter coragem de me vestir e sair do lugar. A areia molhada se agarrava em meus pés e ali permanecia como um parasita, inconveniência era o que a resumia. Me arrastava na direção do imóvel, quase que ao prantos, estava acabado.
Enquanto andava, tentava entender o que havia acontecido para Was ter chegado ao ponto de chorar, logo ele que se mostrava ser tão auto-astral e otimista, o motivo era eu? Essa era uma alternativa que não saía da minha mente, o problema devia estar em mim ou comigo, talvez nem mesmo à vontade ao meu lado ele estava. Ainda pensava sobre o assunto quando senti alguém me empurrar, olhei para a pessoa com a feição confusa, logo respirando fundo ao perceber de quem se tratava.

- Posso saber por que me empurrou?
- O que fez com o meu homem, hum?
- Seu homem?
- Was chegou em casa chorando e vocês estavam juntos, a culpa é sua!
- Ainda chora?
- Sim, tentei conversar, mas ele se trancou no quarto e vi pela janela que estava jogado na cama junto de um urso de pelúcia, parecia estar muito mal.
- Você sabe o motivo?
- Não é óbvio?
- Não.
- O motivo é você, não se faça de sonso!
- Mas eu não fiz nada...
- Ah não, jura?
- Juro, não fiz nada. Ele começou a chorar sozinho e repentinamente.
- Isso não vem ao caso, se afaste dele!
- Não sou obrigado.
- Então quer ser? Parece que sim.
- Giúlia, por favor, me poupe? Não percebe o quão devastado estou?
- Não me importo com o seu estado, apenas quero ver-te longe do que é meu!

Suspirei a olhando de forma tediosa e voltei a andar até que a garota teve a brilhante ideia de me empurrar novamente, dessa vez com mais força, por consequência acabei caindo na areia e a olhei outra vez como ato de surpresa. A observei ir embora, era realmente incrível o modo como as pessoas me deixavam, sempre indo para longe, saindo da minha presença e me deixando mal.
Mais uma vez precisei juntar toda a força que parecia não ter para me levantar, meu quadril passou doer ainda mais. Por que aquela sem noção simplesmente não bateu no meu rosto? Tinha que me lançar ao chão?
Ao já estar de pé, voltei a andar sentido à casa, subi os pequenos degraus e passei pelo jardim até atravessar a porta. No instante em que pisei na sala de estar, Joaquim veio ao meu encontro, sua feição era séria, não me recordava tê-lo visto daquela maneira antes.

- Por que me olhas assim?
- Assim que Was sair do país, você voltará imediatamente para sua casa, sem atrasos.
- Sim, é o que pretendo fazer, por quê?
- Só quis esclarecer.
- Joaquim, você está bem?
- Por que estaria?
- Por que não estaria?
- É muita falta de consideração sua ainda vir me perguntar se estou bem depois do que me fez.
- E o que fiz?
- Não se faça de sonso!
- Não estou me fazendo, o que há com vocês?
- O que há com você! Por que fez isso comigo, Agno? Eu só soube lhe amar e depois de tantas vezes o ajudando é isso que ganho? É o que mereço, hum? É isso, Agno?
Joaquim gritava grosseiramente enquanto o olhava com os olhos arregalados.
- Isso o quê? Me fale, não lembro de ter feito mal a ti.
- Achou mesmo que eu não o veria transando com ele ou fez de propósito para me humilhar? - meu semblante descaiu.
- Você viu...
- A praia toda viu, a vizinhança inteira! Se era isso o que almejava, parabéns, e de bônus ainda conseguiu decepcionar a quem mais devia importar de todos os que assistiram.
- Eu não fiz de propósito... me desculpe...
- Te desculpar? Por que eu deveria te desculpar se nem ao menos pensou em mim quando foi se entregar daquela maneira a outro homem em público? Não que seja da minha conta, o ânus é seu e você dá para quem quiser, mas não podia ter ao menos um pouco de senso e procurar um lugar mais apropriado? Agno, eu entreguei em suas mãos chaves de dois quartos da minha casa, você teve a total liberdade de escolher, por que não os usou para isso? Mesmo que eu soubesse, iria entendê-lo, você o ama e querer dar um passo longo é mais do que normal, talvez eu pudesse até ficar feliz por vocês estarem se dando bem, mas desse jeito não tem como te desculpar.
- Eu sei que errei, mas tem como desculpar sim, até porque não durou muito. Was começou a chorar e foi embora, se quer saber nem tempo de pensar e aproveitar eu tive.
- Ah, e como acha que reagiria vendo o homem que ama transando com outra pessoa?
- Já me ocorreu.
Joaquim me lançou um olhar tanto quanto assustado.
- Como assim?
- Há um tempo atrás flagrei Was transando com a Giúlia em uma árvore perto da minha casa.
- E aí?
- Finjo que nunca aconteceu.
- Eu não sou você!

Antes de partir, a fisionomia de Joaquim voltou a ser e estar como antes, tão sério como eu poderia ficar sempre que fizesse silêncio. E mais uma vez alguém foi embora me deixando mal, a discussão que tivemos só fez piorar o que já estava ruim, Joaquim era um dos amigos mais incríveis que eu tinha, e por causa de um erro não calculado, acabei o magoando e acabando com todas as chances de ter sua amizade para sempre, algo que nunca deixei de desejar.
Com o mínimo de força que havia me sobrado, caminhei cabisbaixo até meu quarto e me joguei na cama já aos prantos, um dia que começara bem, não imaginava que poderia acabar tão ruim. A falta que minha mãe me fazia naquele momento acabou me causando uma dor ainda mais insuportável no peito, se já sentia, era algo pior, tinha como piorar bem pouco. Se eu pudesse correr para seus braços, era tudo o que mais desejava, seu abraço sempre me fazia melhorar, o lugar da minha paz, eu a amava tanto.
Precisava urgentemente de um banho, mas o pouco de força que usei para chegar até o quarto se esgotou, jogado na cama estava e jogado fiquei, meu corpo doía tanto que até achei que não conseguiria dormir, mas em um momento que não percebi, acabei desmaiando e caindo em um sono profundo.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora