A claridade invadia meus olhos com agressão, já passavam das onze da manhã, não tinha cortinas na janela, por isso aprendi a saber o horário com a posição dos raios de sol em meu rosto.
Minha mãe sempre ressaltou minha inteligência, avaliava minhas notas boas, meu ótimo desempenho e me chamava de gênio. Já meu pai, as vezes vinha até mim com enigmas, lia escondido meus poemas e me elogiava com a feição orgulhosa. Não suportava mais, pedia que deixassem-me em paz, com respeito, obviamente. Poderia eu ser esperto? Inteligente? Gênio? Longe de mim. Era apenas um menino curioso e pensativo, eu penso, sempre.- Levante-se, saia do sol. - ordenou Was sentado em sua cama.
- Meta-se no que lhe diz respeito. - sentei-me coçando os olhos.
- Você me diz respeito. - me olhava manso.
- Volte para onde esteve durante toda a noite e esqueça-me.
- Onde estive?
- Não sabes?
- Certamente não.
- Se embriagou?
- Desde quando isso deveria importar a ti?
- Chega disto.Já estava cansado de suas implicâncias, não tinha mais idade e nem paciência para permanecer discutindo de forma tão imatura. O motivo não me era permitido saber, mas aparentemente a vontade alheia de me provocar era real, estava sempre me testando tanto, e para quê? Por quê? Se acha que não me deve resposta, então por que continua o assunto? Was é semelhante a uma mulher que conheci, tão complicado quanto. Pensei em silêncio enquanto levantava desprezando-o por completo, logo trancando-me no banheiro.
Depois de ter me feito chorar e esperar durante incontáveis horas, ainda queria mandar em mim? Desista. Podia não ser gênio, mas era genioso. Ninguém além dos meus pais mandavam em mim, em exato, ninguém. Lança-te ao fogo, antes mesmo de dizer o que desejas, não me interesso, não quero. Camila me mataria se continuasse com isso, detestava esse homem e iria detestar para sempre, se caso esse "sempre" chegar a existir.
Era difícil, tentava escovar os dentes, mas o outro perturbava com suas mãos na madeira, batia tanto na porta que me irritava de monte, sem parar, batia incansavelmente na esperança de falar a mim. Cansei, está bem? Fale, miserável. Pensava alto e bufava raivosamente.- O que quer? - gritei em seu rosto após abrir a porta.
- Ver-te. - sorriu.
- Adeus. - ia fechar a porta, mas Was impediu.
- Não vá. Por favor.
- Diga-me, o que quer?
- Você.
- Ah... espera, quê? - o olhei surpreso.
- Cale-se, hum?Was agarrou-me pela cintura com firmeza e me puxou para si, nossos rostos estavam próximos como no anoitecer do dia anterior, sentia sua respiração quente ir contra meus lábios. O olhava tão surpreso que estranhava o fato do outro não estar rindo, normalmente ficava "engraçado" quando era surpreendido, segundo alguns amigos próximos.
Parecia que ficamos imóveis eternamente, mas na verdade, nos olhávamos por apenas alguns segundos. O suficiente para passar um bilhão de pensamentos tortuosos em minha cabeça. Was sorriu pouco antes de selar nossos lábios em um intenso e apaixonado beijo. Faltava-me fôlego, o outro possuía facilmente meu corpo que se desmontava devagar em suas mãos; cada vez que sua língua se enrolava na minha, sentia o ácido gosto do álcool. Sorríamos entre o beijo, tínhamos tanta química, mas como? Me perguntava a todo instante. Para onde tinha ido todo o meu ódio? Por que ele me dominava daquela maneira? Sou todo seu, Was. Reforçava mentalmente. Queria dizer, mas me faltavam palavras. Estava bêbado, talvez por isso a coragem se tanto doava.- Presente de natal adiantado. - Was se afastou sorrindo.
- Atrasado, você quis dizer. - o olhava com as bochechas vermelhas.
- Quis dizer o que disse. No natal passado não nos conhecíamos, no que virá sentiremos falta disso, então não me corrija mais.
- Sim, senhor Volkov.
- Ainda lembra meu sobrenome?
- Não esqueço coisas que importam.
- E por acaso meu sobrenome lhe importa?
- Um tanto que nem descrevo.
- Hum... Gostou do nosso primeiro beijo?
- Primeiro? Haverá outro?
- Se eu beber novamente, sim.
- Ah, então só me beijaria novamente se estivesse alcoolizado?
- De certa forma... sim.
- Babaca. Odeio-te.
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Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
Roman d'amourAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...