O outro saiu do banheiro e ficou um tempo se movimentando pelo quarto, não via o que estava a fazer, pois havia deitado de lado. Olhava para a janela enquanto Richard fazia barulho e caminhava de um lado para o outro, parecia estar movendo algumas coisas, ou as trocando de lugar. Talvez estivesse arrumando um espaço para eu dormir, era bem capaz de me mandar dormir no chão, mas se fizesse, nunca mais contaria comigo para nada. Era somente uma cama para nós dois, felizmente de casal, realmente grande. Caberia até mesmo Lucas no meio, caso viesse dormir junto de nós.
Depois de um longo tempo, Richard chamou por mim e eu o olhei, ouvia dizer algumas coisas das quais não compreendia por estar olhando fixamente seu rosto. Ainda estava com raiva, era nítido, pura perda de tempo.
Minutos depois que fui perceber, ele não estava falando comigo, e sim com alguém no telefone. Prestei atenção na conversa e soube que era Lucas, havia ligado para avisar que chegou bem e perguntar como nós estávamos, achei estranho o fato de Richard responder que iria depender, antes de desligar a ligação. Depender? Depender do quê? Resposta louca, Richard estava irreconhecível.
Logo estávamos deitados sobre a mesma cama, os dois virados para lados opostos. Somente nossas respirações eram ouvidas; eu tinha o terrível costume de dormir virado para a porta, justamente o lado em que estava Richard. Não queria ficar olhando sua nuca, estava irritado demais para aquilo, mas não pude evitar.
Virei-me para o lado de Richard que fazia o mesmo comigo, estávamos olhando nos olhos um do outro, nossos olhares se cruzaram pelo acaso. Permanecemos assim até Richard levar sua mão até minha bochecha e acariciar o local, fechava meus olhos lentamente mostrando que estava gostando do carinho. Pouco tempo depois, os lábios de Richard já haviam tocado os meus, era perceptível a falta de coragem dos dois para iniciar um beijo, mas o outro tomou a iniciativa e me beijou da mesma forma que Lucas havia feito.
Sua língua deslizava sobre a minha com delicadeza e brincavam como duas crianças em uma tarde ensolarada. Nosso beijo não tinha fim, sempre que ameaçava terminar, começávamos novamente e assim íamos. O corpo de Richard se adaptava e se enrolava no meu, logo estávamos muito grudados e íntimos. Nos beijávamos loucamente enquanto tocávamos com malícia o corpo um do outro, as partes improváveis principalmente, mas não iríamos passar disso. Eu era virgem e não queria que minha primeira vez fosse com meu melhor amigo, e sim com uma mulher, ou um homem que eu amasse de outra forma.
Confiava demais no Richard para ir além, mas depois ficaríamos só na amizade mesmo e eu sentiria dores atoa, pois não resultaria em um relacionamento como eu gostaria que fosse com a pessoa que desse conta. Subia no colo dele e rebolava pouco, só para provocar e dava tão certo que me deixava animado, ele então fazia o mesmo, e assim a noite inteira passou de forma gostosa e divertida. Não fomos a tal ponto, o beijo foi o suficiente naquela noite, talvez na próxima pudesse rolar. Não acharia ruim.
Havia amanhecido, o cabelo laranja do outro estava sobre meu rosto e minha perna sobre sua coxa; dormimos juntos diversas vezes na vida, mas aquela com toda a certeza se fez a melhor delas. Sorri depositando alguns beijos em sua cabeça enquanto o outro roncava baixo, eu o amava tanto que talvez nem desse para expressar o quanto, Richard e Lucas, os amigos mais importantes da minha vida. Era realmente louco pensar que havia beijado meus melhores amigos com tanta vontade e ter sentido eles me beijarem com tanto desejo. Talvez estivéssemos nos descobrindo juntos, ou apenas tendo a noção que gostamos de pessoas do mesmo sexo. Tantos pensamentos perturbavam minha mente enquanto o outro dormia, mas com o carinho que fazia em seu rosto, logo despertou. Richard virou seu rosto ao meu e sorriu, se não fosse pelo maldito estrangeiro, teria grandes chances de uma paixão nascer naquele momento. Ficamos um tempo conversando até o irmão mais novo de Richard chamar por nós atrás da porta; o café da manhã estava nos esperando, dizia o pequeno. Nos olhamos novamente após Richard responder que estávamos indo, nossos sorrisos não escondiam, nós queríamos de novo. Imediatamente, o ruivo sentou-se em meu colo e começamos a nos beijar tentando conter ao máximo os sorrisos para não atrapalhar.
Descíamos as escadas conversando informalmente sobre nosso último ano escolar, eu e Richard sempre fomos o que as pessoas denominam como nerd; estudiosos e esforçados, aquele seria nosso ano mais importante, o ano em que iríamos mandar na escola, os reis. Por que ríamos? Seria uma bela piada se fôssemos alguém, já Lucas, com toda a certeza faria ainda mais sucesso do que antes fazia. Era realmente bizarro pensar que pessoas como nós poderia ter a total atenção de alguém tão importante quanto ele, ninguém nem mesmo acreditava, ou pensava que se tratava de interesse. Mas não era, nunca foi; Lucas nos amava de verdade, eu sentia.
Sentamos em volta da mesa ainda conversando, a família de Richard não era como a minha que todos os dias acordava cedo, sempre quando dormia em sua casa, era o primeiro a levantar. Aquele estava sendo um dia especial, todos tinham acordado antes e o café estava sobre a mesa, eram tantos alimentos aparentemente saborosos que eu já nem mais escutava o que Richard dizia. Minha barriga se enchia das refeições feitas pela minha tia do coração, mãe de Richard, tal qual sempre me recebeu com muito amor em sua casa, e eu, gentilmente retribui dando bastante amor a seu filho naquela noite. Contava se ele estivesse feliz? Sem importar como, não é? Era divertido pensar que Mateus poderia ter nos visto juntos, tinha pouca idade, pequenino comparado a nós.
Como era o irmão caçula de Richard e a única criança da família, Mateus sempre teve seus mimos e podia perambular pela casa de madrugada escondido, que com certeza, não seria castigado. No máximo sua mãe diria para não bisbilhotar seu irmão, mas ele sapeca como era, iria rir e em pensamento jurar fazer novamente. Eu amava aquele menino e ele evidentemente sabia sobre meu caso com Richard; me olhava diferente e tocava em meu braço sem dizer nada, como se me avaliasse e conferisse se fosse verdadeiro.
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Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
RomanceAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...