Segunda tentativa

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Abria lentamente os olhos, e mesmo que de forma super embaçada, vi um homem pular a janela do meu quarto, estava tão morto que nem tive como reagir, não tinha a menor noção de quem poderia ser. O homem se deitou ao meu lado, mas antes que pudesse ver seu rosto, meus olhos se fecharam carregando um enorme peso para baixo, fui praticamente forçado. Uma mão então repousou sobre a minha testa e logo pude ouvir um grito, o que me fez tremer um pouco, mas talvez fosse apenas o susto. Alguns minutos depois do grito, algumas vozes se misturaram em um falatório, parecia que alguém estava queimando em febre, ainda com os olhos fechados, foi o que entendi.
Um tempo após todo o auê e de muitas mãos estarem sobre certa área do meu rosto, enfim abri os olhos me deparando com Was bem próximo, estava deitado de frente para mim e parecia me observar um tanto antes de eu saber de sua presença no local. O loiro sorriu ao me ver acordado e começou a me empurrar vários remédios dizendo ser para o meu bem, não fui capaz de entender a necessidade de todo aquele desespero e perguntei o que estava acontecendo, Was então disse que era bom tomar os remédios, pois estava com muita febre e meu corpo mole, fraco.
Concordei em tomá-los sem questionar, sabia que minha situação não era das melhores e sentia meu corpo doer, nem mesmo podia abrir os olhos sem fazer esforço, estava doente e triste, até quando?

- Quer conversar um pouco?
Perguntou Was um tempo depois de ter me dado os remédios.
- Sobre?
- Algo, não sei...
- Tem algo em mente?
- Acho que seria bom aproveitar essa oportunidade para me desculpar.
- Pelo o quê?
- Por tê-lo abandonado ontem, me desculpe... - suspirei lentamente voltando a fechar os olhos. - Você deve estar cansado das minhas crises...
O olhei percebendo uma feição melancólica em seu rosto.
- As vezes... bem...
- Sou amigo de uns músicos e sempre nos falamos, recentemente pedi para um deles se inspirar em mim quando fosse compor alguma canção, e...
- E...?
- Contei a nossa história, ontem mesmo estávamos falando ao telefone e ele disse que iria por a música no novo álbum de sua banda.
- Banda?
- Sim, uma banda inglesa.
- Eles são famosos?
- São sim, mas não sei como isso funciona aqui no Brasil.
- Ficarei atento quando for ouvir o rádio.
- Tim disse que saberíamos de quem e do que se trata quando ouvirmos.
- Tim?
- Sim, um dos compositores, talvez o principal... não entendi muito bem.
- Uau... você é realmente importante...
- Desde que você esteja incluído, para mim está ótimo.
- Was?
- Diga.
- De quem mais sente falta?
- Na Rússia?
- Sim.
- James.
- Quem é esse?
- Meu filho.
- Filho? Como assim filho? Você tem um filho? Como assim filho?
- Ele tem quatro anos.
- Então quando ele nasceu você tinha dezenove?
- Exato.
- Não acha que estava muito novo?
- Você tem apenas dezessete e já se deitou com os dois tipos existentes de seres humanos.
- Mas não engravidei ninguém.
- Por falar nisso... está a fim de tentar novamente? Prometo que dessa vez não haverá lágrimas, pelo menos não de minha parte.
- Podemos... tentar, se estiver a fim.
- Give me your ass?
O olhei de relance vendo um sorriso ladino e perverso ocupar seus lábios.
- Prefiro quando fala russo.
- Day mne svoyu zadnitsu?

Após o sussurro provocante de Was ser largado de forma sexy em meu ouvido, esperei o mesmo se posicionar para segurar as laterais de seu rosto, depositei um selar carinhoso em seus lábios e tratei de responder sua pergunta com algo parecido com "vse chto ty khochesh" o vendo me olhar assustado logo em seguida. Ria baixo ouvindo o outro dizer que não fazia ideia do quanto eu poderia surpreendê-lo, mal sabia ele que sobre mim e minha vida não teria a mínima noção nunca, minhas decisões e o modo como enxergo o mundo iriam fazer com que pensasse na minha pessoa com certo tipo de achismo, ainda mais se confiasse plenamente.
Era tão encantador a forma como Was observava minha feição mudar, por que me parecia orgulhoso? Eu seria parte do prêmio de alguma aposta? Sempre temi que algo semelhante a essa situação humilhante acontecesse, mas aquele não era momento de especular supostas chances de traição da minha total credibilidade, meu romantismo não podia me abandonar, era o nosso momento. Passei meus braços em volta do pescoço alheio e o puxei para um beijo lento, meu corpo já não estava tão fraco como antes e nem me sentia tão péssimo, mas tudo ainda doía, depois de tê-lo mais ainda. Finalmente conseguimos subir mais um degrau na nossa relação, mesmo que ainda não soubéssemos o que tínhamos, era algo especial e verdadeiro, nossa felicidade comprovava isso.
Passamos o dia e a tarde inteira na companhia um do outro, por vezes Was sumia e voltava trazendo alimentos, certamente vindos da casa de Giúlia, infelizmente. Não sabia mais o que fazer com tantas flores, meu quarto estava repleto delas, mas ainda que eu perguntasse a Was se havia morrido para ganhar tantas flores, ele as trazia sem se importar. Não imaginava que dentro de um homem seco e desprendido existia um lado tão fofo, vê-lo se esforçar tanto para me agradar foi o que encheu-me de esperança.
O queria muito mais do que tinha, o pedido de namoro seria feito por mim no dia seguinte, um de nós dois precisava ter atitude, já que o mais velho com certeza não teria, sobrou para mim.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora