Pare! Não o mate!

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Giúlia veio até mim com o celular na mão pouco tempo depois de ter parado para escutar Joaquim, tal qual discursava os diversos motivos que me obrigavam a manter a calma. Ao seu lado estava Was que segurava sua mão, a feição da garota era afrontosa, como se estivesse pronta para me nocautear a qualquer momento, mal sabia ela que toda a vontade do mundo era eu quem tinha de fazer. Queria tanto encher o lindo rosto de Was com fortes e agressivos socos, ele desde sempre me fazia raiva e parecia não ser proposital, pois não se importava comigo. Com tantas garotas legais no mundo, fui me apaixonar logo por um homem que nem se importa com a minha existência, era o cúmulo. Poderia muito bem denunciá-lo por estar se aproveitando de uma garota menor de idade, por mais que tivessem somente seis anos de diferença, seria errado de qualquer jeito. Não me interessava se a família não via problema, ela estava com certeza se iludindo com ele, pois um homem tão interessante e maduro como Was não se limitaria somente em uma garota inexperiente e soberba. Com certeza tinha outras opções melhores, mas como precisava de um passatempo, usou Giúlia que estupidamente achou que estava com moral. Apesar de talvez estar certo, pensar nele dessa maneira cortava por completo o interesse, nunca me daria o trabalho de ficar atrás de um homem tão machista e ridículo.
Luna uma vez confessou ter interesse em mim por ser um garoto diferente dos outros, mais sensível e propenso a ser bom com as mulheres, achava algo incrível. Ela tinha razão, por mais que tivesse nascido em um país considerado por alguns ser repleto de homens machistas, dei a sorte de nascer em uma família totalmente livre da falta de senso. Se Was realmente fosse tão babaca quanto demonstrava, sumiria de sua vida para sempre, não perderia meu tempo com um alguém que não evolui.
Peguei o celular da mão de Giúlia e atendi, era uma garota, tinha quase certeza de conhecer sua voz. Caminhei sozinho e devagar até a pequena escada de madeira da casa próxima a de Joaquim, sentei-me enquanto conversávamos.

- Então... eu fui até sua casa hoje, mas seu pai disse que você viajou... - a pessoa no outro lado da ligação dizia com um tom de desaponto.
- Como sabe onde eu moro?
- Não reconhece a minha voz? Sou eu, María.
- Minha vizinha?
- Sim, eu acho...
- Me dê certeza, porque se não for, eu vou desligar. - a pessoa riu. - Do que está rindo?
- Você é sempre tão sério... e sim, sou eu mesma.
- Por que não veio com nossos amigos? Minha mãe não lhe convidou também?
- Sim, convidou...
- Então?
- Bom... você reparou que tenho andado distante nesses últimos dias?
- Sim, mas não encontrei motivos. O que houve?
- Agno, eu te amo.
- Certo, mas agora me conte o motivo.
- Esse é o motivo, eu te amo.
- Espera, você se afastou porque se apaixonou?
- Sim...
- Maria, qual é o seu problema? Você sabe muito bem que eu jamais iria te rejeitar, por que fez isso?
- Eu fiquei com medo, Agno... tente entender, nós apenas ficávamos nos beijos e você amava outra pessoa, se eu ficasse entre os dois só iria complicar mais a sua vida.
- E por que está contando agora? Por ligação que é ainda pior!
- Pensei que a situação estivesse melhor por aí...
- Não, não está! Eu me apaixonei por um homem horrível e vim atrás igual um idiota achando que ganharia pelo menos um pouco de sua atenção, mas ele me odeia e estou me sentindo péssimo com tudo isso.
- Eu... me desculpe, por favor...
- Desculpo.
- Estou com saudades...
- Também estou.

Antes de ouvir sua resposta, Giúlia tomou o celular de minha mão e voltou para onde Was estava, não pude nem ao menos me despedir de María, ela poderia ter avisado. Assim que a garota chegou perto de Was, o mesmo fez questão de abraçar sua cintura e aposto como sabia que eu veria, aquele russo infernal não tinha limites. Bufei indo até Luna que ainda estava sentada em volta da fogueira, tirei o cabelo do caminho e levei meus lábios até sua orelha sussurrando uma proposta de encontro, a garota me olhou sorrindo e balançou positivamente a cabeça demonstrando que gostou da ideia. Combinamos tudo certo antes de eu ir para o lugar onde iríamos nos encontrar, um pequeno beco sem saída e escuro entre duas casas, não dava para ver as coisas com clareza, mas era ótimo para nós que não queríamos ser vistos.
Encostei minhas costas em uma das paredes e fiquei esperando Luna chegar, ela viria depois justamente para ninguém desconfiar, e pelo tanto que demorava, realmente havia levado o plano a sério. Um tempo havia passado e nada da garota chegar, mas antes que eu fosse atrás, alguém finalmente estava vindo e se aproximava fazendo pouco barulho. Dei alguns passos para a frente com um sorriso tímido nos lábios, mas o desfiz assim que percebi um detalhe, Daniele não era mais alta que eu e nem tinha o corpo tão masculino.
Demorei a assimilar o que acontecia, não era a pessoa que estava esperando, e sim Anderson, que por algum engano estava somente a alguns passos diante de mim. Perguntei por Luna, mas recebi um "foda-se ela" como resposta, naquele momento percebi que não se tratava de um engano, algo ocorreu sem que eu soubesse. Olhei discretamente para um espaço ao seu lado, planejava um jeito de fugir caso tentasse algo contra mim, mas talvez tivesse deixado claro demais, pois o outro se aproximou de mim e me prendeu contra a parede pedindo para que não pensasse sobre aquilo.
Minhas pernas estavam tremendo, Anderson realmente não aparentava ser uma pessoa ruim, mas nunca estive naquela situação com um homem do qual não conhecia e nem era íntimo. Não queria que me beijasse e nem que me tocasse, havia jurado a mim mesmo que não deixaria mais homem nenhum, sem ser Was, encostar em meu corpo com intenções diferentes do comum.
Tentava o empurrar, mas seus lábios já estavam em meu pescoço e minhas mãos não pareciam ser capazes de detê-lo, percebendo então que não poderia ir contra, apenas deixei que fizesse o que tivesse vontade enquanto algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto em conjunto da feição deveras incômoda.

- Posso saber o que você está fazendo?
Ouvi uma voz familiar perguntar algo, mas não tive como olhar, pois Anderson imprensava fortemente meu corpo evitando que me mexesse.
- Saia! Não vê que estou ocupado? - Anderson respondeu de forma rude.
- Largue o garoto agora!
- Quem pensas que é para me ordenar? Você não passa de um dos bonecos descartáveis da minha prima!
Assim que Anderson acabou sua frase, o homem o empurrou fazendo com que os dois caíssem juntos no chão.
- Ei, parem com isso!
Gritei tremendo de nervoso enquanto observava os outros se socando e rolando pelo chão sem deixar de se agredir.
- Agno, vá embora!
Ordenou o homem que estava sentado em cima de Anderson, e foi somente nesse momento que percebi, era Was que me defendia.
- Não! Vocês são adultos, não devem brigar feito duas crianças!
- Ele estava abusando de você! Nunca deixaria ninguém fazer isso além de mim!
Arregalei os olhos assim que o ouvi, Was estava com os punhos cobertos por sangue de tanto que socava o rosto de Anderson.
- Deixe ele ir! Você vai matá-lo!
Tentava puxá-lo para distante de Anderson, mas Was estava furioso demais, não tive chances.
- Me solte!

Fiquei olhando apavorado para Anderson já desmaiado com seu rosto sangrento, estava tão nervoso que queria pedir ajuda, mas não conseguia sair do lugar. Foi quando em um estalo consegui reunir forças e corri até as pessoas em volta da fogueira, gritei por ajuda e todos foram junto a mim até o local da briga, foram preciso cinco homens para tirar Was de cima do outro, Joaquim me abraçou por trás na tentativa de me acalmar.
No momento em que conseguiram puxá-lo, Was me olhou totalmente tomado por sangue e ficamos nos encarando, em instante algum mudando a feição. Pensando que por minha causa Was quase se tornou um assassino, todo castigo para mim seria pouco.
Queria chorar, mas nem força para isso tinha mais. Me virei na direção de Joaquim e o abracei enquanto chorava alto em seu peito, o garoto me acariciava e sussurrava que tudo ficaria bem, mesmo sabendo que nem tudo poderia se resolver, principalmente no meu psicológico.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora