Assim que abri os olhos pela manhã, avistei Joaquim dormindo ao meu lado, estávamos perto mas não grudados. Minha cabeça doía e então me sentei na cama com as mãos sobre o rosto, ainda estava com sono e talvez a dor fosse até mesmo a culpada por ter despertado. Alguns minutos após ter retomado meus sentidos, finalmente consegui abrir os olhos percebendo que era melhor não ter conseguido, Richard e Lucas estavam dormindo sobre os meus pés, essa poderia ser a razão da dormência.
Estavam cada um de um lado, com as cabeças encostadas e os corpos encolhidos, minha boca estava entreaberta e eu procurava saber a necessidade de tê-los em minha cama. De repente um desespero me ocorreu, será que estão aqui porque algo aconteceu ontem à noite? Aquele pensamento me torturava, o que eu menos desejava na vida poderia ter sido real, jamais me perdoaria. Voltei com as mãos ao rosto e pus-me a chorar, não tão alto, mas o suficiente para acordar os meninos que ficavam se perguntando o que tinha acontecido e qual era o motivo do meu pranto, ousaram até transferir as mesmas perguntas para mim, mas não houve resposta. Por um instante, minhas lágrimas cessaram, olhei para a expressão preocupada dos amigos que me rodeavam e suspirei tentando encontrar forças para expor meus pensamentos. Richard riu de mim assim que ouviu minha pergunta, logo os três estavam a rir enquanto eu os observava sem entender bulhufas.
Joaquim segurou minha mão e esclareceu as coisas; quando meu pai voltou ao meu quarto para se despedir, se deu conta da febre ter voltado, minha pele aquecia sua mão, e no auge de sua preocupação, agiu de forma astuta. Pediu para que meus amigos dormissem comigo para caso eu piorasse durante a madrugada. Não havia acontecido nada na noite passada, e mesmo com o grito de Joaquim para que seu mordomo trouxesse alguns remédios para eu tomar, consegui sorrir, era um total alívio para mim saber que nenhum homem tocou o meu corpo de forma ousada.
Lembrar das vezes em que beijei os três ali presentes me fazia realmente acreditar que era um fracassado que não conseguia respeitar a mim mesmo, meus ideais e nem meus limites. Me envolver com homens era o que não faria nem por todo o dinheiro do mundo, Was era o único a quem eu amava naquele sentido, um outro em seu lugar não seria possível. Antes era menos maduro do que achava ser naquele momento, estava confuso com tudo aquilo que Was me fazia sentir, mas eu não gostava de homens, era somente ele, sempre foi. Assim que o mordomo chegou com meus remédios, me obriguei a tomá-los e fui direto ao banheiro com algumas peças de roupas sobre o ombro. A água estava fria e o clima gelado, por mais que o sol estivesse presente lá fora, não estava a ser o suficiente para que a temperatura subisse.
Durante o banho, escovava os dentes e economizava tempo. Após sair do banheiro e secar meu corpo, vesti um short de praia e uma camisa fresca, quase que uma regata. Calcei os chinelos e fui junto dos meninos até a cozinha pegar maçãs, saímos da casa carregando as frutas e as cadeiras para por na areia e nos sentar. Encaixei minha cadeira na areia para não cair, assim que me sentei, pude assistir as meninas que brincavam de mergulhar no mar e jogar água uma nas outras, Madalena havia realmente se dado bem com Laura e Luna, era bom vê-las felizes juntas. Os biquínis deixavam seus corpos tão visíveis, por um bom tempo observamos em silêncio até Lucas não mais se aguentar e elogiar, um assunto muito pervertido nasceu com os comentários alheios, mas Joaquim parecia realmente incomodado.
Senti dó dele assim que percebi, seus olhos intercalavam entre examinar a si mesmo e cair com o olhar, estava mudo. Era ruim vê-lo tão distante e para baixo daquela forma, talvez fosse ciúmes de mim por também elogiar bastante as meninas, talvez fosse por não conseguir enxergá-las daquela forma ou talvez fosse por se sentir diferente. Pensei em mim no lugar dele e me senti mal também, não seria nada divertido ver Was elogiando suas amigas de forma tão perversa, ainda mais eu que seria do sexo oposto. Joaquim realmente se interessava por homens e deixava isso muito óbvio, em respeito a ele, me calei e fiquei apenas a ouvir os outros dois continuarem. Diria para pararem, mas na certa Joaquim se sentiria mal ao saber que por sua causa, os meninos não poderiam fazer o de costume, que no caso era falar sobre garotas.
Peguei uma das maçãs que estavam com Richard e observei Giúlia se aproximar das meninas que ainda brincavam na água, se via tão linda e seu corpo era tão formoso que até mesmo a raiva que sentia por ela, por aqueles momentos, se foram.- Amigos, vocês sabiam que eu já dormi com ela? - olhamos todos para Lucas que sorria ladino para Giúlia.
- Você o quê? - Richard estava com os olhos arregalados para ele.
- Ela já passou praticamente dois dias seguidos no meu quarto.
- Que nojo.
Joaquim deitou-se sobre a cadeira me fazendo rir de sua espontaneidade.
- Nojo? Você ficou maluco? Olha aquele corpo! Acho que dormir ao lado do Agno não lhe fez bem. - Lucas e Richard riam enquanto eu ficava apenas a olhar.
- Não foi a primeira vez.
Joaquim respondeu friamente me deixando surpreso por vê-lo agir assim.
- Como conseguiu levá-la para sua casa? - perguntou Richard.
- Ela é muito próxima da Elite por ser a garota mais popular do colégio, e como faço parte, ela usou da sua beleza para me laçar. Sem contar que teve bastante ajuda, porque eu não estava interessado nela naquela época.
- Como foi?
- Ah, foi bom. Ela é um pouco chata mas deu para aturar, eu acho.
- Queria ser bonito e popular assim igual a você.
- Pare com isso, Richard! Você é lindo e só não é popular porque não quer!
- Meninos, não comecem. - revirei os olhos me deitando sobre a cadeira.
- Está bem.Fechei os olhos e fiquei a viajar em meus pensamentos, finalmente haviam calado a boca e eu pude então relaxar sem perturbação. Joaquim já havia feito isso há um tempo, mas era tão paciente quanto era educado, então esperou que fizessem silêncio quando achassem necessário, para mim as coisas funcionam diferente. Foi só com o silêncio dos meninos que pude ouvir com clareza uma música tocando, abri os olhos para procurar de onde estaria vindo e vi alguns homens saindo com bebidas nas mãos da casa de Giúlia.
Voltei a sentar na cadeira e fiquei observando, Was estava entre os garotos da Elite e meus olhos cresceram no mesmo instante. Estava tão lindo com seu cabelo dourado e com um óculos escuro escondendo os olhos verdes que mais amava no mundo; em sua mão uma garrafa pequena de cerveja e em seu dedo um cigarro. Ria e fumava, estava sem camisa e com um short igual ao meu, sendo que a sua estampa era alaranjada e a minha azul escuro. Deitei-me novamente, minha cabeça estava virada em sua direção, estava longe mas não tanto. Onde teria conhecido os meninos da Elite? Como pôde parecer tão próximos? Em quê achavam tanta graça para rirem tanto? Até os garotos que nem eram para estar aqui tinham a atenção de Was, menos eu. Era frustrante vê-lo tão feliz ao lado de outros garotos, não lembro de uma só vez que fumou ao meu lado, mas com eles parecia estar mais à vontade, era fato.
Me despertei dos pensamentos com a voz de Giúlia, olhei para ela que convidava Lucas e Joaquim para acompanhá-la até a festa, mas não quiseram ir por minha causa e de Richard. Esclarecemos que estava tudo bem e que eles poderiam ir sem se preocupar conosco, esperei que ficassem distantes o suficiente para olhar Richard e por um fim nas dúvidas que me surgiram.- Richard? - o chamei em um tom baixo.
- Diga? - o ruivo virou-se na minha direção.
- Você sabe responder o porquê de Was estar junto dos meninos da Elite?
- Onde? - apontei discretamente para Was.
- Pensei que você soubesse, Giúlia é amiga do pessoal da Elite e já faz bastante tempo que o russo se tornou amigo deles também.
- Was está conquistando as pessoas...
- Todo mundo gosta dele, Agno. Basta observar, não há uma pessoa se quer que não aparenta se sentir bem ao lado.
- Sim, eu sei...Quanto mais sabia sobre Was, mais me sentia inútil em sua vida, ele não precisava de mim para nada, por isso me rejeitava tanto. Tinha tudo o que queria e todos aos seus pés, ele nunca precisou de mim para nada, por isso me afastava tanto. Era tão humilhante me rastejar daquela forma até ele para vê-lo feliz andando com outros, o jeito que o via agarrar as mulheres mostrava o quão longe eu estava de ser o que ele queria, de o satisfazer, o ocupar algum espaço em seu coração.
Odiava com todas as minhas forças vê-lo perto de outras pessoas, poderia ser apenas nós dois e meus pais, tudo seria perfeito, por que ele tinha que ser tão amigável e simpático? Talvez se fosse mais como eu, introvertido e quieto, poderíamos ser felizes juntos, mas ele se sentia bem perto de todos, menos comigo. Eu nem ao menos sabia que ele fumava, que tipo de amante poderia ser? Ele tinha razão em manter distância, não era páreo para alguém tão impecável e amável. Passei tanto tempo o observando que ele deve ter reparado, pois acenou para mim; fiquei um pouco surpreso olhando em volta. Richard tinha ido dar um mergulho e ninguém mais estava por perto, então voltei meu olhar a ele e acenei de forma tímida recebendo um sorriso simpático do mesmo antes de ir para o mar com as pessoas que o cercavam.
Eu não esperava que ele me cumprimentasse daquele jeito, tão fofo e com o rosto vermelho que o deixou ainda mais lindo do que já era. Aquela atitude de Was me fez estufar o peito e criar coragem para continuar o seguindo, durante todas as noites iria o observar na praia já que não éramos próximos para conversar. Não chegaria nele para puxar assunto, mas o veria se exercitar e talvez só aquilo já me deixaria satisfeito.
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Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
RomanceAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...