Não quer dançar comigo?

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Estava chegando em casa, conhecia o caminho e meu coração saltitava a cada vez que as rodas giravam e o automóvel nos conduziam adiante. Minha casa era logo ali na frente, as luzes permaneciam apagadas e me peguei pensando nos lugares onde Was poderia estar.
Assim que o carro estacionou para que pudéssemos sair, ajudei meu pai a retirar a bagagem do porta-malas e o resto o motorista faria junto dele, não poderia me esforçar pelas dores que sentia no corpo. Caminhei com dificuldade até meu quarto, subia a escada com atenção para não tropeçar e cair novamente, todo cuidado era pouco. Suspirei aliviado ao chegar no corredor sem ter quebrado nenhuma parte do meu corpo e liguei a luz do meu quarto passando a mão devagar sobre o rosto ao ver que a cama de Was não estava mais perto da minha, o ruim de voltar para casa era ter de lidar novamente com a solidão, já que nem meus pais ficavam por perto o tempo todo. Entrei no local um pouco cabisbaixo e me sentei na cama tratando de deixar os chinelos sobre o chão para cruzar as pernas, antes que pudesse cair duro por exaustão, o telefone na mesinha ao lado tocou. Permaneci o olhando por alguns segundos antes de atender, era Richard querendo saber como eu estava, Lucas estava em sua casa. Ouvi-lo dizer que só faltava eu para completar, me fez sorrir mínimo.
Conversava com meus amigos até sentir que alguém me observava, por instinto, olhei para a porta vendo Was parado entre a entrada e a saída. Sorri feliz ao vê-lo, logo recebendo um sorriso de canto como resposta; fiz um movimento com a mão fazendo com que ele entendesse que era para ir embora, pois estava ocupado. Mas não demorou muito para Was se aproximar, pegar o telefone das minhas mãos e desligar a ligação; o olhei como quem procurasse uma razão para o tal ato quando o outro pegou meus chinelos com uma mão e com a outra segurou meu pulso com firmeza puxando-me rapidamente para fora do quarto. O pedia para me deixar e soltar meu pulso, meu corpo doía e descer os degraus daquela forma me fez tremer de medo; Was me olhou rindo enquanto tratava de descer ainda mais rápido.
Meus chinelos eram jogados sobre os meus pés assim que cruzamos a porta, bufei o olhando com a feição irritada enquanto os calçava. O homem outra vez me puxava e eu já estava cansado daquilo, me soltei de sua mão, e antes que pudesse chamá-lo de louco, parei para observar ao redor. Estávamos em um lugar livre no meio do matagal, parecia até um local aproveitado para ceitas, mas tudo o que estava ali, além de nós, era um rádio portátil. Sentei-me em uma pedra achatada como me era ordenado e permaneci olhando Was que também me olhava.
Estávamos em silêncio nos encarando de forma abobada, mas como dizem, o que é bom dura pouco. Me desliguei do transe quando o rádio ligou sozinho, em um susto que me fez soltar um grito e fazer a diversão do outro. A música escolhida era Do You Wanna Dance, tão romântica que fazia os apaixonados suspirarem. Estava distraído observando a cena quando repentinamente me deparei com a mão de Was estendida na minha direção enquanto sua linda voz me perguntava se eu poderia lhe conceder minha companhia na dança. Permanecia paralisado o olhando como se nada daquilo fosse real. A música tocando no fundo e aquele olhar tão dócil que penetrava minha alma não me fez ter dúvidas, realmente estava diante do grande amor da minha vida.

- Então, Agno? Você aceita? - minha boca se encontrava entreaberta.
- Eu... não posso... - suspirei abaixando a cabeça.
- Por que não?
- Estou muito cansado para dançar... - voltei a olhá-lo.
- Venha, é só um pouco.
- Não, Was... dance sozinho...
- Sozinho não tem graça.
- E é para ter graça? Apenas dance, estarei lhe vendo.
- Por favor, dance comigo... - Was pegou minha mão e tentou me levar consigo.
- Já disse não, solte-me. - o outro suspirou e soltou minha mão.
- Então eu danço sozinho mesmo.
Was passou o resto da música dançando da forma mais encantadora possível, mas assim que a música acabou, veio até mim novamente.
- Foi lindo. - o elogiei sorrindo feliz.
- Obrigado, teria sido muito melhor com você.
- Não sou tão bom dançarino, iria te atrapalhar.
- Preciso mudar de assunto, pois meu tempo é curto.
- Sim?
- Tenho uma boa notícia para lhe dar.
- Oba, estou mesmo precisando de boas notícias! Diga.
- Estou indo embora. - estava sorrindo, mas no momento em que o ouvi, meu semblante mudou de imediato.
- Você... o quê? - meus olhos se encheram de lágrimas.
- Eu... pensei que fosse ficar feliz.
- Feliz? Acha mesmo que eu ficaria feliz com a notícia da sua partida? Como pôde achar que essa seria uma boa notícia? Diga, Was! Como? - me levantei o encarando.
- Fique calmo! Nós nem somos tão próximos assim para todo esse drama.
- Ah, então é assim que pensa?
- Era para pensar diferente? - respirei fundo e voltei a olhá-lo.
- Voltará para a Rússia amanhã?
- Não, estou indo embora daqui.
- Como assim?
- Essa noite irei para a casa de praia da Giúlia junto com a família dela, passarei mais uns dias lá até finalmente voltar para minha casa.
- Novamente essa menina? Vocês estão namorando?
- É da sua conta?
- Chega disso, onde fica a casa de praia dela? - Was cruzou os braços e respondeu a minha pergunta com a voz firme. - Espera, meu amigo de infância mora lá.
- Então ele deve ter muito dinheiro, porque morar em um lugar como aquele não é barato.
- Ele mora de frente para uma linda praia.
- A Giúlia também, mas enfim, me dê um abraço? Estão todos me esperando para ir.
- Certo.

Virei as costas ignorando o pedido alheio e corri para dentro de casa, mesmo com aquela notícia horrível da parte de Was, pude tirar algo bom em dobro. Minha mãe estava abraçada com meu pai assistindo televisão quando cheguei em carreira na sala de estar, os assustei mas logo recuperei o fôlego e pude explicar tudo. Eles já sabiam há um tempo, fiquei até que chateado por eles não terem me contado, porém, não era aquilo que importava no momento. Supliquei para que me deixassem passar uns dias na casa de Joaquim, disse estar com muitas saudades do amigo e que vê-lo tão triste na minha partida estava me fazendo mal. Era óbvio que eles deixariam, então segundos após dizerem sim, corri até meu quarto indo até o telefone. Liguei para Joaquim, que antes de entrar no carro, havia me dado o seu número para que pudéssemos conversar. Perguntei aos seus pais se podia passar uns dias em sua casa, e assim que ouvi sua resposta, comecei a dançar de felicidade tratando da situação cuidadosamente para que não percebessem.
As coisas de Was tinham ido junto dele, era óbvio, não deixaria nada para que eu pudesse lembrá-lo. Estava tão radiante, veria Joaquim novamente e ainda poderia passar mais tempo junto de Was, se pelo menos ele quisesse se aproximar de mim.
Ainda não tinha desfeito minha mala, mas decidi incrementar muitas coisas até que tudo estivesse dentro dela e na dos meus pais também. Precisaria mesmo de três malas cheias de coisas minhas? Sim, claro e óbvio; seriam somente dias, mas nada poderia me faltar. Partiria dentro de meia hora, então nem mesmo troquei de roupa, apenas tentava acalmar a tamanha ansiedade, que por pouco não tomava conta de mim por inteiro.

Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.Onde histórias criam vida. Descubra agora