Levantei-me a suspirar enquanto ajeitava e limpava as roupas com as mãos, respirei fundo dizendo a mim mesmo que estava tudo bem e que deveria apenas seguir a vida. Cheguei em casa ofegante, por mais que andasse devagar, era muito chão, não me acostumava com o ritmo de caminhar por um longo caminho e fazer exercícios, coisas que pudessem me cansar.
Assim que entrei em casa, olhei por instinto para a sala de estar estranhando de imediato a cena que presenciava. Meus pais estavam parados perante mim com roupas leves, ao lado de seus corpos, estavam três grandes malas e eu não fazia ideia do motivo. Minha mãe me deu apenas dez minutos para me arrumar e descer, um carro viria nos buscar e não poderíamos nos atrasar, não sabia para onde íamos, mas antes que pudesse perguntar, meu pai diminuiu para oito. No mesmo instante corri para meu quarto, tomei um banho rápido e pus qualquer roupa que pudesse se igualar a como estavam vestidos os outros dois. Desci rapidamente as escadas ouvindo o barulho da buzina, meus pais então trataram de sair da casa e eu fui atrás; ajudei meu pai a por nossas bagagens no porta-malas e entrei junto dele na parte detrás do carro. Camila estava na parte da frente e conversava com o motorista enquanto o meu pai, como sempre, fazia silêncio. O olhei sem perceber que um sorriso feliz havia se formado em meus lábios, reconhecia que era igual a ele nisso, um garoto de poucas palavras, falava apenas o necessário quando achava necessário. Encostei a cabeça no vidro da janela e fiquei a observar a paisagem, tudo o que passava diante dos meus olhos cooperava para que eu pensasse ainda mais em Was. Mesmo sem ter passado tanto tempo, sentia saudades do russo, do seu sorriso meigo e de seus olhos tão verdes como a luz vinda dos vaga-lumes. Era esplêndido, um lindo homem que fora abençoado graciosamente recebendo um físico tão agradável aos olhos, um verdadeiro milagre. Suspirava com meus pensamentos até ser abordado por Roberto, que por sinal, me observava há algum tempo. Olhei para ele e sorri fraco afirmando estar cansado e com fome, acreditando em minhas desculpas, o homem então acariciou meus encaracolados fios de cabelo e prometeu que poderíamos comer tudo o que tivéssemos vontade quando chegássemos, queria ao menos saber onde.
A viagem era longa, já havia anoitecido quando resolvi perguntar à minha mãe para onde íamos, a mesma respondeu que eu veria quando já estivéssemos chegado. Bufei em silêncio para que não me ouvisse e encostei a cabeça no vidro fumê da janela como antes fazia, aos poucos meus olhos foram se fechando e eu adormecendo. Não havia sonhado com nada, o que era estranho para uma pessoa tão cheia de sonhos como eu, realmente intrigante.
Já era manhã quando acordei, meu pai chamava por mim, havíamos chegado e eu precisava sair do carro. Deveras sonolento era como saía, tão rápido quanto um cavalo azarado, mas também tão veloz como uma lesma. Assim que meus pés tocaram o chão, olhei para frente me deparando com um jovem rapaz que sorria simpático na minha direção, estava longe, mas não muito. Era um verdadeiro "filhinho de papai" com seu cabelo loiro lambido e sua postura reta, apesar de muito bonito, parecia ser um pouco entediante. Dei de ombros e desviei o olhar enquanto ajeitava minhas roupas, dormia de forma desajeitada, obviamente era para estar todo amassado, mas tudo estava em ordem. Suspirei aliviado voltando a olhar para frente até que um susto fez-me dar um pulo para trás e gritar inconscientemente engrossando a voz; o jovem loiro estava diante de mim, dessa vez perto até demais.- Estou tão feliz que tenha vindo, você não faz ideia!
Afirmou de forma alegre e me abraçou apertado.
- Solte-me agora!
Gritei em seu ouvido misturando o mal-humor com a ira que acabara de crescer.
- Ah, está bem!
Respondeu o outro pondo a mão esquerda no ouvido em que gritei, mas ainda sorria animado.
- Onde estão os meus pais? E as pessoas que estavam ao seu lado segundos antes de eu recolher meus olhos? - voltava a ajeitar minhas roupas o olhando de um jeito rude.
- As pessoas ao meu lado eram meus pais, Agenor e Berta, iriam cumprimentá-lo também, mas o assunto que precisam tratar com seus pais é urgente.
- Urgente? Como assim urgente?
- Eu não sei, meus pais não me deixam ficar por dentro de assuntos que não me cabem, sinto muito.
- Está bem, adeus então.
Desviei o corpo alheio para ir embora quando senti o garoto segurar meu braço.
- Para onde vai? - olhei para ele que me lançava um olhar triste.
- Eu nem ao menos sei onde estou, não quero perder meu tempo com você, preciso achar meus pais e ir logo para casa.
- Eu... achei que sentisse a minha falta...
O garoto abaixou a cabeça envolvido em um clima deveras deprimente.
- Mas eu nem lhe conheço.
- Talvez seja até pior que não sentir minha falta... - olhou para mim ainda triste. - Você se esqueceu de mim...
- Olha, não fique triste. - acariciei seu rosto. - Se nos conhecemos mesmo, você pode fazer com que eu me lem...
Antes que pudesse terminar a frase, o garoto segurou meu rosto e me roubou um beijo de língua, ia o empurrar até que percebi um detalhe.
- Foi o suficiente? - perguntou o loiro assim que nosso beijo chegou ao fim, eu o olhava assustado. - Não tem nada a dizer?
- Joaquim?
O olhava perplexo enquanto o outro abria um sorriso maior que o mundo e me abraçava apertado novamente.
- Conseguiu lembrar!
- Você é o único que eu conheço que gostava de repousar a língua sobre a minha.
- Sabia que daria certo! Precisamos aproveitar nosso tempo juntos, vem!
![](https://img.wattpad.com/cover/214065063-288-k678636.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Blue! - A Dimensão Dos Seus Olhos.
RomansaAgno é um jovem reservado de 18 anos, que mesmo sendo hétero, encontra o amor em um homem saudável e atlético no auge dos seus 23 anos de idade, que no caso, também é hétero. Os amigos o acompanham na sua auto descoberta e tentam o ajudar, mas o gar...